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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como o Camaro é capaz de atingir 10 km/l com motor 6.2 V8 de 461 cv

Chevrolet Camaro SS traz motor naturalmente aspirado de oito cilindros e transmissão automática de dez marchas - Divulgação
Chevrolet Camaro SS traz motor naturalmente aspirado de oito cilindros e transmissão automática de dez marchas Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

23/09/2021 04h00Atualizada em 23/09/2021 09h24

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É um privilégio poder trabalhar com o que se gosta e eu sou um desses privilegiados. Diferentemente de alguns apaixonados por carros que limitam seus gostos, eu gosto de tudo quanto é tipo de carro, dos mais antigos aos mais novos e dos mais baratos aos mais caros.

É prazeroso ouvir o borbulhar de um V8, mas também é divertido acelerar um carro elétrico. Claro que tenho minhas preferências. Meu coração pode até bater mais forte por alguns modelos, mas consigo respeitar e encontrar algo de especial até mesmo naqueles mais desinteressantes.

Com isso, ter contato diário com os carros me satisfaz e me motiva a continuar com meu trabalho. Uma das melhores condições da profissão é quando posso ser "dono" de um carro por alguns dias. Isso acontece quando pego um carro para testar, geralmente por um período de uma semana.

Pode parecer pouco tempo, mas é suficiente para se ter uma boa percepção de qualidades e defeitos no uso diário, algo impossível de se conseguir em um simples teste de rodagem oferecido pelas concessionárias. Só não dá para contabilizar números precisos de consumo de combustível, mas é possível se ter uma boa noção pelo que informa o computador de bordo.

Chevrolet Camaro SS traseira - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

E o carro desta semana é o fabuloso Chevrolet Camaro, ícone norte-americano que atravessou décadas com uma receita simples de esportividade que arranca sorrisos dos rostos de dez entre dez pessoas em todo o mundo.

A unidade do teste tem carroceria cupê, na versão SS e modelo 2020, de importação oficial da General Motors do Brasil. No site da fabricante, o Camaro 2020 (ainda não recebemos o modelo 2021, tampouco o 2022) parte de R$ 397.360 em pacote fechado de equipamentos e sem acréscimo de valor em qualquer uma das cinco cores disponíveis: branco, preto, vermelho, azul e laranja. Por R$ 47.620 a mais, é possível levar a carroceria conversível, algo que considero totalmente dispensável, visto que o cupê tem um generoso teto solar.

É caro? Claro que é, mas aqui no Brasil é um carro de nicho para poucos endinheirados mesmo.

Segundo a Fenabrave, somente 120 Camaros foram emplacados no ano de 2020. Neste ano de 2021, até agosto, foram apenas 42. O cenário é bem diferente nos Estados Unidos, onde 22 combinações de motores e transmissões estão disponíveis, além de uma gama maior de cores de carroceria e de interior, bem como adesivos decorativos e mais uma infinidade de equipamentos e acessórios impossíveis de serem listados nesta singela coluna.

Acho que nem a Chevrolet sabe a quantidade exata de variações que disponibiliza. Por lá, os preços partem dos US$ 25 mil (cerca de R$ 132,6 mil), valor bem mais amigável, que faz do Camaro um sucesso de vendas.

Ou seja, se eu fosse testar um Camaro nos Estados Unidos, seria apenas mais um dentre tantos outros. Mas, como estou no Brasil, foi algo completamente diferente e novo para mim, uma experiência de que eu jamais vou esquecer.

Vale dizer que eu já testei muitos carros exclusivos e legais, mas sempre nas avaliações de compra que faço para meus clientes, onde o contato com o carro é rápido. Ser "dono", mesmo que por apenas sete dias, foi a primeira vez com um carrão desse nível.

Chevrolet Camaro SS painel - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Logo de cara, fiquei impressionado com a quantidade de detalhes exclusivos que não encontramos nos carros mais comuns, como, por exemplo, as grandes portas sem colunas. A posição de dirigir também é diferente, com o banco bem baixo, que permite ficar com as pernas esticadas. O acabamento é excelente e o nível de equipamentos de conforto é bem maior do que eu poderia imaginar - afinal de contas, é um Chevrolet, não um carro de marca premium.

Nada, ou quase nada, é compartilhado com outros modelos, pelo menos os comercializados aqui. Botões, controles, maçanetas, bancos e volante são peças exclusivas do Camaro. Adorei tudo, principalmente o controle da temperatura do ar-condicionado de duas zonas, onde basta girar as molduras dos difusores centrais para controlar a temperatura. Nunca vi sistema tão fácil e intuitivo.

Ao apertar o botão da partida, um urro é expelido pelos dois escapamentos, mas rapidamente a rotação do motor cai e o ruído se torna quase imperceptível. A condução nos trechos urbanos não é das melhores. O carro é bem firme e a suspensão transmite qualquer tipo de irregularidade. A carroceria tem quase 1,9 metro de largura, o que exige bastante atenção, principalmente porque a linha de cintura é alta e dificulta a visibilidade. Mas me acostumei com esses perrengues e jamais deixaria de comprar o carro por conta disso.

Consumo impressiona

O consumo é ótimo. Sim, o leitor não leu errado. É claro que consome mais gasolina do que a maioria dos carros, mas, se formos considerar que se trata de um grande V8, com incríveis 6,2 litros, ele é muito eficiente.

Graças à tecnologia que desativa quatro cilindros em situações nas quais o motor não é tão exigido, o Camaro consegue manter tranquilamente os 10 km/l a 120 km/h, velocidade máxima permitida nas rodovias brasileiras. Nessa condição, a transmissão automática trabalha na décima e última marcha, mantendo o motor em baixas 1.600 rpm.

A sensação é de que o carro está quase parado. Já no ciclo urbano, esse consumo cai pela metade, algo que eu ainda considero muito bom. Se a ideia for acelerar, é bom esquecer o preço do litro da gasolina, pois o Camaro passa a beber com gosto, sem moderação. Em troca, entrega aquilo que se espera de um legítimo esportivo. São 461 cv de potência e 62,9 kgfm de torque.

Em uma viagem de 300 km que fiz com minha esposa, senti-me o rei da estrada. Mesmo sem pedir ou forçar passagem para os motoristas da frente, os mesmos saíam para a direita assim que viam a frente nervosa do Camaro crescendo no retrovisor. Chega a ser cômica a reação das pessoas.

Andando pela cidade em baixas velocidades, a sensação é de ser um peixe no aquário. Muitos entortam o pescoço para ver o carro, alguns são mais desinibidos e soltam algumas brincadeiras. Recebi proposta de um motoboy que sugeriu a troca pelo seu Celta; um vendedor ambulante pediu emprestado para poder voltar para sua cidade natal; um rapaz gritou "NOSSA, UM CAMARO!"; e teve até um seguidor que me reconheceu no trânsito e não poupou elogios ao carro.

Mas legal mesmo foi o dia em que saímos para jantar. Fomos a um restaurante nordestino famoso em nossa cidade, que fica em um bairro bem simples. Parei o carro bem na frente do restaurante e sentamos em uma mesa que ficou praticamente ao lado do cupê. Depois de um tempo, dois garotinhos, com cerca de 5 anos, ficaram correndo ao redor do Camaro.

A mãe apareceu e ficou tirando foto deles ao lado do veículo. Naquele momento, eu me coloquei no lugar dos meninos e lembrei de como eu era apaixonado por carros quando pequeno. Também teria ficado maluco se uma "nave" como essa estivesse estacionada na porta de casa. Levantei, fui até eles, abri o carro e permiti que eles se sentassem nos bancos. Foi incrível o sorriso dos meninos, que certamente ganharam a noite.

Apesar de enorme, o Camaro só gosta de levar duas pessoas. O acesso para o banco traseiro é ridículo, assim como o espaço para pernas e cabeça.

Eu fiz o teste de "sentar atrás de mim", e não aguentei nem dez segundos ali. A belíssima janelinha lateral, quando vista de fora, é quase inexistente quando vista de dentro. Nesse banco traseiro, poderia vir escrito "não façam filhos" para o dono do Camaro nunca se esquecer de que, caso isso aconteça, o carro terá que ser descartado. Como pai de uma garota de 13 anos, acabei adotando essa justificativa para não comprar um. É melhor que admitir que, infelizmente, não tenho os R$ 400 mil...

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