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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Faz diferença consertar meu carro em oficinas que só atendem uma marca?

Gabo Morales/Folhapress -  21-03-2012
Imagem: Gabo Morales/Folhapress - 21-03-2012

Colunista do UOL

22/04/2021 04h00

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Hoje é comum os fabricantes de carros oferecerem longos períodos de garantia, mas nem sempre foi assim. Me lembro bem dos anos 90, quando meu pai tinha costume de comprar veículos zero-quilômetro e não fazia nenhuma revisão em concessionária.

O motivo era simples: a garantia era de apenas um ano, ou seja, quando chegava o período de fazer a primeira manutenção, a garantia já estava no fim, portanto não fazia sentido pagar caro por uma revisão em concessionária.

Com o passar dos anos, os carros foram ficando cada vez mais confiáveis, e os fabricantes se sentiram mais seguros em ofertar prazos mais longos, que em alguns casos chegam a até seis anos. Mas é claro que isso é mediante as caras manutenções nas concessionárias, que meu pai sempre evitou e eu acabei seguindo o mesmo caminho.

Deixo claro que não sou contra o serviço de manutenção em concessionária. Entendo que, para muitas pessoas, esse é o melhor caminho. Mas o cliente paga muito mais caro pelo serviço quando comparado com oficinas particulares.

E essa conta vai ficando cada vez mais alta com o passar dos anos, quando o carro já acumulou algumas dezenas de milhares de quilômetros e exige manutenções mais pesadas para o bolso.

No fundo, a concessionária nem quer pegar esses carros mais rodados, com problemas mais complexos que podem demandar muitas horas de trabalho. Eles preferem atender veículos mais novos e pouco rodados, que entram e saem rapidamente da oficina, liberando espaço para outros atendimentos.

Infelizmente, também tem muita coisa que é "empurrada" para o cliente, que acaba pagando por peças e mão de obra que nem sempre seriam necessárias. Já avaliei muitos carros que fiquei assustado com os registros das manutenções feitas. Como nem todos têm conhecimento sobre mecânica, acabam acreditando naquilo que o profissional avalia e dão carta branca para reparos totalmente dispensáveis.

Mas isso não é exclusividade de concessionárias, e é claro que muitas oficinas particulares também usam dessa prática desleal, que deixa o consumidor sempre na dúvida se está sendo enrolado.

Uma alternativa que vem ganhando cada vez mais força são as oficinas especializadas em apenas uma marca. Esse modelo de negócio não é exatamente uma novidade, mas se tornou mais difundido com o surgimento das redes sociais, em que as pessoas passaram a se comunicar com mais facilidade e rapidez.

Nessa semana, estive em uma oficina especializada em Nissan. A ideia era apenas trocar algumas peças da suspensão do meu Sentra, mas o bate papo que tive com o proprietário rendeu muito mais do que isso. Para mim, ficou claro o valor de um profissional como esse, que conhece as entranhas do meu carro como poucos.

Conhecimento e foco

Para um mecânico ser especialista em apenas uma marca, é bem provável que seu conhecimento tenha sido adquirido trabalhando para ela. Geralmente são profissionais que passam bons anos dentro de concessionárias, mas que em algum momento da vida resolvem abrir o próprio negócio, focado naquilo que sabem de melhor.

Por terem convivido diariamente com modelos de uma marca, conhecem cada parafuso do carro e nada fica no "achismo". É quase impossível alguém chegar com um problema em uma oficina como essa e sair sem solução.

Problemas crônicos

Você já deve ter tido um problema no seu carro e depois descobriu que outros proprietários do mesmo modelo também tiveram. Chamamos isso de problema crônico, que é quando algum defeito é prematuro e recorrente.

Não faltam exemplos de problemas crônicos no mundo automotivo. Mecânicos especializados em uma marca sabem deles como ninguém, e muitas vezes apresentam soluções alternativas que são mais baratas e funcionais, como o reparo da peça problemática em vez da troca por completo da mesma.

Ferramental

Os carros são cada vez mais complexos e diferentes. Uma oficina multimarcas exige constantes investimentos do proprietário em ferramentas e softwares que atendam a maior quantidade possível de modelos. Ainda assim, é capaz de receber um veículo que exigirá uma ferramenta diferente de qualquer outra que tenha por lá.

Já uma oficina monomarca tem apenas as ferramentas necessárias para a manutenção dos modelos daquela montadora. Para o consumidor, é muito mais assertivo, pois sabe que não correrá o risco de o mecânico paralisar alguma etapa da manutenção por descobrir que não tem a ferramenta adequada.

Recentemente estive em uma oficina que atende somente carros da Subaru, e fiquei surpreso com a quantidade limitada de ferramentas. O dono da oficina me disse que bastavam aqueles equipamentos para trabalhar com qualquer problema de veículos da marca.

Peças paralelas

Nada como uma boa peça genuína, de marca homologada pelo fabricante do carro. Quem opta por elas sabe que está fazendo o melhor possível pelo carro. Mas elas nem sempre são acessíveis. Por vezes, os preços são proibitivos e afastam o consumidor, que busca por alternativas no mercado.

O problema dessas alternativas, as chamadas peças paralelas, é a qualidade duvidosa. Tem muitas peças ruins no mercado, que em nome da segurança jamais deveriam ser comercializadas. Mas como saber se uma peça paralela é boa ou ruim? Difícil, principalmente para quem não trabalha com isso.

Nessas horas, um mecânico monomarca é muito útil, pois eles só usam peças paralelas que já testaram e validaram em outros casos. Quando ela é ruim, ele prefere nem fazer o serviço.

Aconteceu algo assim no meu Sentra, pois umas das peças que eu queria substituir era a bieleta da suspensão dianteira esquerda. A peça está com a borracha desgastada, mas o mecânico avaliou que ela ainda estava boa, sem folgas, e que ainda era original de fábrica mesmo depois de quase 220 mil quilômetros rodados.

Foi franco em me dizer que uma peça paralela duraria de 10 a 20 mil quilômetros, e sugeriu que eu continuasse com a original mesmo com a borracha desgastada.

Relacionamento

O atendimento de uma oficina particular é sempre mais pessoal. O cliente conhece o dono, que por sua vez sabe das particularidades do carro. No caso de uma oficina monomarca, isso se estende aos grupos nas redes sociais.

Quem tem um Peugeot, por exemplo, pode participar de grupos de donos de carros da marca, e entre eles estarão alguns profissionais especializados. Cria-se um relacionamento que ajuda até na fidelidade da montadora.

Eu, como dono de Nissan, tendo o atendimento especializado do meu mecânico, me sinto seguro em trocar meu Sentra por outro Nissan, por saber que sempre terei o mesmo atendimento. Isso acaba sendo muito valioso para o fabricante do carro, que acaba se beneficiando de forma indireta.