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Picape a diesel vale mais a pena que uma a gasolina? Não é bem assim

Murilo Góes/UOL
Imagem: Murilo Góes/UOL

Colunista do UOL

24/12/2020 04h00

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Os motores a combustão interna atuais são indiscutivelmente mais eficientes que os do passado. Isso significa que o desempenho é melhor e o consumo de combustível menor. Se, por um lado, são basicamente iguais há muitas décadas, por outro a evolução da eletrônica, dos processos de usinagem e dos materiais empregados fazem com que os motores sejam cada vez melhores.

Porém, quando olhamos para os números de consumo dos carros do passado, principalmente aqueles com motores pequenos, com menos de 2 litros, cometemos o erro de pensar que não evoluímos. Na verdade, esses carros econômicos do passado têm algo que nenhum outro atual consegue ter, que é o baixo peso.

Por exemplo, se compararmos um antigo Fiat 147 com um atual Fiat Mobi, temos quase 200 kg de vantagem para o primeiro, algo que certamente contribui para o consumo de combustível, mesmo que aquele antigo motor "FIASA" do 147 não seja tão eficiente quanto os atuais Fire e Firefly do Mobi.

Vale dizer que o Fiat Mobi não é mais pesado porque ele quer. Isso se deve às exigências de segurança que são cada vez mais rígidas. A carroceria de um Mobi é muito mais resistente que a de um 147, e esse é o principal motivo desse peso extra.

Quis fazer essa introdução para ficar claro que, quanto mais pesado for o carro, mais exigido será o seu motor e, consequentemente, maior será seu consumo de combustível. Quando falamos de veículos naturalmente mais pesados, como um SUV ou uma picape, essa exigência do motor é ainda maior.

É nesse ponto que os motores a diesel entram na discussão. Por ser um motor mais eficiente que os movidos a gasolina ou álcool, além da vantagem do custo do combustível, os compradores estão sempre se perguntando se vale a pena optar por versões a diesel. A resposta favorável parece óbvia, mas não é bem assim.

Veículos com motores a diesel são bem mais caros. Não só no preço de partida do carro, como também no custo do seguro, que normalmente é maior. A conta fica ainda mais desfavorável quando o comprador não roda tanto com o carro, deixando para um futuro quase sempre inatingível a possível vantagem do custo menor por quilometro rodado gerado pelo diesel.

Vou deixar mais claro, usando como exemplo a picape Chevrolet S10 LTZ 4x4 com transmissão automática, que nessa configuração pode ser equipada com motor a diesel ou flex. Segundo o site da Chevrolet, hoje, dezembro de 2020, são R$ 180 mil na flex e R$ 216 mil na diesel, ou seja, R$ 36 mil diferença.

De acordo com as medições do Inmetro, essa picape faz entre 5 e 6,2 km/l com álcool, entre 7,4 e 9 km/l com gasolina e entre 8,7 e 10,6 km/l com diesel. Consultei o posto de combustível mais próximo aqui de casa que comercializa o litro desses combustíveis a R$ 3,00, R$ 4,30 e R$ 3,40 respectivamente.

Agora ficou fácil: basta fazer as contas e ver que é preciso rodar muito para compensar o investimento daqueles 36 mil extras. Mais precisamente, cerca de 230 mil quilômetros, nesse exemplo da S10. Quantas pessoas você conhece, que rodam isso com apenas um carro?

Sobre custo de manutenção, mais um ponto favorável para a S10 flex, que segundo o site da Chevrolet exige custo de R$ 9.760 nos primeiros 100 mil quilômetros, contra R$ 12.280 para a S10 diesel no mesmo período.

Por fim, o leitor deve estar imaginando que a desvalorização dessa S10 flex é maior que da S10 diesel, e de fato é o que acontece. Mas essa diferença nem é tão grande assim.

Consultei um dos maiores classificados de carros do Brasil, e uma S10 como essa do exemplo, mas modelo 2018, custa em média R$ 120 mil quando equipada com motor gasolina, e R$ 150 mil quando equipada com motor diesel. Comparando com o preço atual das novas, a desvalorização foi de 33,3 % na flex e 30,5% na diesel.

Não sei se consegui te convencer, meu caro leitor. Essas contas que apresentei podem variar de acordo com o consumo que cada um consegue, com o custo do combustível de cada região e outras variáveis. Mas coloque a margem de erro que quiser que o resumo será sempre o mesmo: é preciso rodar muito com uma picape a diesel para compensar o investimento. Estou convencido disso.

A inspiração no tema veio da recente intermediação que fiz na venda de uma picape Ford F1000 98. Quando anunciada por mim, no mês de maio desse ano, foi discriminada por muitos por ser à gasolina.

Precisou de longos sete meses para que alguém desse o devido valor e a levasse para casa. O comprador tem outra F1000, ainda mais antiga, modelo 86. Essa sim, movida a diesel, como a maioria das pessoas preferem nesse tipo de veículo.

O curioso dessa história foi quando ele e sua esposa fizeram o teste de rodagem na F1000 à gasolina. Bastou girar a chave para sentir duas vantagens desse tipo do motor, o silêncio e a suavidade do fantástico 6 cilindros de 4,9 litros. Percebendo a felicidade dos dois naquele momento, eu tive certeza que o negócio estaria fechado.

Durante o percurso, a esposa confessou que não gosta muito da antiga 86 a diesel, justamente por conta do barulho e da vibração, que tornam cansativas até pequenas viagens. Nem ela e nem os vizinhos gostam, já que estão sempre reclamando do barulho e da fumaça que a picape faz.

Como o leitor pode observar, motores movidos a gasolina tem suas vantagens, até mesmo em veículos pesados. Obviamente, o consumo de combustível é maior, mas dependendo do uso isso não é um problema. No caso dos compradores dessa picape, que vão usar apenas para lazer nos finais de semana, o custo do quilômetro rodado é muito menor que o da satisfação em ter um veículo desses.