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Leaf x Sentra: comparamos carros da Nissan para ver se vale ter o elétrico

Colunista do UOL

25/06/2020 04h00

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Trabalhar com carros, para mim, é um privilégio. Todos os dias tenho contato com eles e, vez ou outra, aparece algo diferente de tudo e faz a experiência ser ainda mais interessante.

Foi o que aconteceu na última semana, quando fiquei uns dias com o Nissan Leaf. Essa foi a primeira vez que tive contato direto com um carro elétrico. Já tinha avaliado alguns híbridos, como Ford Fusion e Toyota Prius. Mas 100% elétrico, esse Leaf foi o primeiro.

Não tenho opinião formada sobre o futuro dos elétricos. Apenas especulo, sem medo de errar, que não vão vingar aqui no Brasil. Muita coisa precisa mudar ou se adaptar, e me parece que os passos para isso estão bem lentos, principalmente quando comparamos com outros países, onde os carros elétricos são uma realidade.

Uma coisa é certa: eles são bons demais de serem guiados. O silêncio a bordo e o desempenho são invejáveis. O que não é tão certo é definir se vale a pena colocar um desses na garagem.

Para tentar responder essa questão, comparei com outro Nissan, o Sentra, que considero ser o mais próximo em itens de conforto, acabamento e segurança.

Aliás, quem conhece bem um Nissan e entra em um Leaf, se sente em casa. Com exceção de alguns comandos específicos, ele poderia passar batido para um desavisado. Está claro que a Nissan optou por um design, interno e externo, compatível com outros modelos da marca, sem apelar muito para um visual futurista.

Preço inicial

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Imagem: Murilo Góes/UOL

No site da Nissan, o Leaf não tem preço divulgado. Quem quiser comprar é direcionado para uma das sete concessionárias que oferecem o modelo, em seis estados diferentes. Porém, numa rápida consulta, encontrei anúncios em torno de R$ 195 mil. Nesse preço, está incluso um carregador rápido e sua instalação na garagem do comprador.

Já o Sentra, carro conhecidíssimo do nosso mercado, pode ser comprado em mais de 180 concessionárias espalhadas pelo Brasil, com preços que variam entre R$ 88 mil e R$ 109 mil. O mais caro, a versão SL, é o que mais se aproxima do Leaf por conta dos itens de segurança, como vários airbags e alertas de colisão.

Por outro lado, o Leaf não tem teto solar e ar-condicionado dual zone, presentes no Sentra SL. Mas vamos deixar esses detalhes de lado, pois a considerável diferença de preço está mesmo na tecnologia de propulsão elétrica que só o Leaf entrega. Ele é R$ 86 mil mais caro que o mais caro dos Sentras. Nesse primeiro ponto, é indiscutível que o Sentra é mais vantajoso.

IPVA

Quando o assunto é imposto, o Leaf sai na frente. Por ser elétrico, é isento de IPVA em alguns estados. Em outros, a alíquota é menor. Porém, se levarmos em consideração o estado de São Paulo, essa vantagem desaparece.

Por aqui, o Sentra recolhe 4% de IPVA, ou R$ 4.360 na versão SL. Já o Leaf recolhe 3%, ou R$ 5.850. O percentual é menor, mas aplicado ao preço bem mais alto do carro - o que o torna maior que o do Sentra. Pelo menos uma vantagem, que pode ser imensurável para alguns, é o fato de o Leaf ser isento do rodízio de veículos aplicado na capital paulista.

Manutenção

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Enquanto o Sentra utiliza motor e transmissão tradicional, com várias peças móveis e lubrificantes, o Leaf é mais simples do que podemos imaginar. Para explicar melhor, o Sentra requer manutenções constantes para o seu perfeito funcionamento, tal como em qualquer outro carro comum com motor a combustão.

Por outro lado, a simplicidade do Leaf exige pouca atenção do seu proprietário. Esqueça as constantes trocas de óleos e filtros no Leaf. Em seu manual, o cronograma de manutenção chega a ser cômico, pois em sua maior parte tem apenas a indicação "I" de "inspecionar". Claro que sistemas de freio e de suspensão também se desgastam, mas são manutenções de longo prazo.

O calcanhar de Aquiles do Leaf está no custo das baterias. A Nissan oferece garantia de oito anos ou 160 mil km nelas, o que não deve ser problema para o primeiro dono, que geralmente não fica todo esse tempo com o carro.

Porém, um dia essa conta vai chegar, e eu não desejo ser o dono que tenha que arcar com essa manutenção. Não tenho informação exata do custo dela, mas se compararmos com o que é praticado no Japão, bateria e mão de obra chegam a 20% do valor de um Leaf novo - ou seja, cerca de R$ 40 mil aqui no Brasil.

Lembra quando eu disse que muita coisa precisa mudar para que os elétricos vinguem no Brasil? Pois é, essa é uma dessas coisas.

Custo por quilômetro rodado

Aqui o Leaf dá um banho. Você pode comparar com qualquer carro que ele vai levar a melhor. A Nissan divulga autonomia de 240 km com carga cheia. Levando em conta que as baterias tem capacidade de 40 kWh, e que o custo do kWh é de 80 centavos (considerando o que pago de energia na minha residência, valor que pode variar de acordo com a região), o gasto é de apenas R$ 32 para "encher o tanque", ou seja, 13 centavos por quilômetro rodado.

Já o Sentra podemos arredondar o consumo em 10 km/l com gasolina, com um custo de R$ 4 por litro. Nessas condições, para rodar os mesmos 240 quilômetros, é preciso desembolsar R$ 96, que eleva para 40 centavos o custo do quilômetro rodado.

Se você já está feliz com essa conta, te animo ainda mais quando digo que é perfeitamente possível rodar mais do que esses 240 km no Leaf. Assim que eu carreguei 100% da bateria, o computador de bordo acusou autonomia de quase 300 km.

Recarga / reabastecimento

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Imagem: Murilo Góes/UOL

Se por um lado o custo por quilometro rodado do Leaf é imbatível, por outro ele sofre bastante com suas recargas. O motorista do Sentra, ou de qualquer outro carro comum, não se desespera quando acende a luz da reserva do tanque de combustível. Cedo ou tarde, vai aparecer um posto de combustível, que em 10 minutos resolve seu problema.

Já o motorista do Leaf precisa calcular muito bem o trajeto que fará para não correr o risco de ter que chamar um guincho. Isso porque são poucos os postos de recargas espalhados, mesmo se formos considerar a capital paulista, cidade mais populosa e desenvolvida do país.

Na vizinha Guarulhos, cidade onde eu moro, apenas um ponto de recarga está disponível, coincidentemente do lado de casa. Porém, o plugue é diferente, o que fez eu soltar alguns palavrões de raiva quando descobri. Lembrei dos primeiros anos dos telefones celulares, em que cada marca e modelo tinha um carregador diferente. Seria pedir muito que padronizassem esses plugues?

Voltando ao tempo da recarga, precisei aguardar mais de 12 horas para carregar o carro na garagem da minha casa, utilizando tomada 220V. Isso porque as baterias nem estavam zeradas, tanto que entrou apenas 26 kWh. Caso os postos de recarga estivessem mais espalhados, bastaria apenas 40 minutos para carregar 80% da bateria, já que são bem mais rápidos que a simples tomada 220V da minha garagem. Ainda é mais demorado que abastecer um carro comum, mas também não é o fim do mundo.

Desempenho

Outro baile do Leaf, que mais parece um esportivo nesse quesito. Sua aceleração é brutal e faz o corpo "grudar" no banco. O velocímetro cresce com uma rapidez que requer muita atenção do motorista para que o pior não aconteça. E tudo em um total e absoluto silêncio. Como minha querida filha disse, "que paz".

A estabilidade também é notável no Leaf. Apesar de utilizar configuração tradicional de suspensão, inclusive com eixo de torção na traseira, ele gruda nas curvas. Boa parte da sua excelente estabilidade é por conta das baterias distribuídas no assoalho do carro, que deixa o centro de gravidade do carro bem baixo.

Ou seja, compará-lo com o Sentra é covardia. O sedã da Nissan ganha apenas na velocidade máxima, já que no Leaf ela é limitada em 150 km/h. Mas se sua ideia não for correr em um autódromo, isso não fará diferença.

Vale a pena comprar um elétrico?

Na ponta do lápis, está claro que não vale a pena. Seria preciso rodar muitos milhares de quilômetros para ter o retorno do investimento em um carro tão caro. Mas entendo que é um veículo de nicho, para pessoas que não vão fazer essas contas. Quem compra um Leaf, ou qualquer outro elétrico, está comprando tecnologia.

Assim como tem quem pague caríssimo em um celular de última geração, que custará bem menos depois de um tempo, tem quem valorize ter aquilo que a indústria oferece de melhor. Nesse ponto, o proprietário do Leaf estará bem servido.