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Carro antigo é para poucos: saiba como mantê-lo para não ficar na mão

Nissan Quest - Divulgação
Nissan Quest Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL

10/10/2019 04h00

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Não é novidade que sou apaixonado por carros antigos. Quem me acompanha nas redes sociais já deve ter percebido que escrevo e falo com muito mais entusiasmo dos antigos e clássicos, sejam nacionais ou importados. Claro que também gosto do novo, mas o antigo trás uma boa sensação de nostalgia e resgata lembranças do passado.

Inclusive é comum acharmos que no passado tudo era melhor, feito com mais capricho e mais qualidade. Mas, na prática, sabemos que não é bem assim. Os carros de hoje são indiscutivelmente melhores que os seus similares do passado. Podem derrapar aqui e ali, em detalhes que a equipe de "cortes de custos" resolveu fazer diferente para ter mais rentabilidade. Mas, no geral, motores, estrutura, segurança embarcada e equipamentos são superiores.

Vale dizer que o conceito de carro antigo é um tanto subjetivo. Para alguns, é preciso ter mais de 30 anos para ostentar o glamuroso status de antigo. Para outros, onde eu me incluo, não precisa esperar uma data certa para isso. Meu Nissan Maxima 95 já é um carro antigo para mim. Assim como tantos outros modelos do final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Ainda mais quando o modelo é raro no Brasil. Sempre que publico algo de um carro com essa característica, boa parte dos comentários são quanto à manutenção. Dúvidas de como encontrar peças de reposição ou oficinas que tenham ferramentas e conhecimentos para operar esses carros são as perguntas mais frequentes.

Foi o que aconteceu recentemente, quando publiquei o vídeo de uma rara Nissan Quest 2005, carro que um cliente do Rio Grande do Sul se interessou e solicitou minha avaliação. Essa van de 7 lugares da marca japonesa já era uma velha conhecida minha em uma de suas variações.

Por volta de 1993, o pai de um amigo apareceu com uma inusitada Mercury Villager. O carro foi feito numa parceria entre Ford e Nissan, onde marca americana promoveu o modelo à sua divisão de luxo Mercury com o nome Villager, já a marca nipônica optou pelo nome Quest. Ambas eram luxuosas e bem-acabadas, mas a Mercury era mais requintada.

Ela mais parecia uma nave espacial, ainda mais a noite, quando toda a dianteira acendia, graças a um extensor dos faróis acima da grade, característica dos Mercurys dessa época.

Lembro dos detalhes como se fosse hoje: painel digital, sistema de som com toca fitas leitor de CDs, bancos individuais na segunda fileira, porta corrediça e, o mais legal de tudo, controles do som e do ar condicionado separado na segunda fileira, que podiam ser controlados por quem viajasse do lado esquerdo. Imagine a briga que dava entre esse amigo e seus irmãos para decidirem quem iria sentar ali...

Mercury - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O motor V6 era da Nissan, que nessa época só tinha modelos de luxo por aqui e que obviamente venderam muito pouco. Levando isso em conta, não é difícil imaginar que aquela Villager possa estar abandonada em algum canto do Brasil. Se é que já não virou sucata. Quem seria capaz de manter essa van funcionando nos dias de hoje?

Com essa boa lembrança em minha mente, estava ansioso para conhecer a 2005 que meu cliente estava interessado. Vale dizer que nenhum desses carros citados foi importado de forma oficial por seus fabricantes. São modelos bem exclusivos, que geralmente são importados de maneira independente, ou então desembarcam aqui por alguma embaixada, que tem autorização para trazer modelos vendidos em seu país de origem. Para os brasileiros apaixonados por casos, é sempre muito legal ter contato com esses carros, que são diferentes de tudo que estamos acostumados.

E diferente é o que melhor define a Quest 2005. A arquitetura dos bancos ainda é a mesma da velha Villager, assim como vários itens de comodidade. Mas nessa mais moderna, são duas portas laterais corrediças, ambas operadas de maneira elétrica. Para o motorista, até os pedais tem regulagem de distância. O motor, ainda V6, mas agora bem mais potente e tecnológico, é da mesma família dos esportivos 350Z e 370Z. Para quem ainda não viu, sugiro que assista o vídeo que fiz, onde mostro esses e todos outros detalhes curiosos do carro.

Foi nesse vídeo que percebi o medo que as pessoas têm de carros assim, raros e exclusivos. Por mais que tenham adorado as soluções do modelo, jamais o colocariam em suas garagens, com receio que não tivessem condições de mantê-lo. Dito isso, será que é tão complicado assim manter um importado com esse? Onde comprar peças?

De fato, em carros como esses são pequenas as chances de encostar num balcão de peças e conseguir de imediato o que precisa. Porém, foi-se o tempo que esse era o único ponto de venda. Com a internet, é possível comprar de tudo, mesmo que tenha que trazer de fora. São vários os sites de compras que entregam aqui. Só é preciso entender um pouco de inglês e ter um cartão de crédito internacional. O lado ruim é que pode demorar uns bons dias para chegar. Também tem o risco de o produto ser taxado, o que aumenta consideravelmente o seu preço final.

Para quem não quer passar por isso, pode recorrer às várias empresas importadoras, que fazem toda essa parte chata por você. Se der sorte, pode ser que tenham à pronta entrega a peça solicitada, agilizando bastante a logística.

Nessa semana, conheci o galpão de uma dessas empresas, que fica na cidade de Vinhedo, interior de SP. Fiquei surpreso com a quantidade de peças em estoque, para vários modelos diferentes de carros. Para o meu Maxima, infelizmente nada tinha, mas já encomendei o que preciso e devo receber num prazo de 15 dias.

No caso do meu cliente, que no fim das contas comprou a Quest, são comuns suas viagens para os Estados Unidos, país que essa van vendeu aos montes. Para ele, é ainda mais fácil e barato trazer algumas peças de lá.

Em qual oficina levar?

Nem sempre aquele seu mecânico de longa data terá condições de mexer num carro exclusivo. Isso porque muitos deles exigem conhecimento e ferramental próprio. Portanto, antes de entrar numa aventura como essa, é bom saber se tem alguém, próximo de onde você mora, capacitado para te atender. Geralmente esse tipo de oficina mecânica está nos grandes centros urbanos.

Ainda assim, nada garante que seu carro será aceito. Esses profissionais sabem que peças de reposição para carros específicos, podem levar muitos dias para chegar, e obviamente não querem ter um carro desmontado ocupando espaço em suas oficinas. O ideal é que tudo seja bem programado. Por exemplo, se a ideia é trocar o conjunto de amortecedores, compre as peças primeiro, espere chegar e só depois leve tudo ao mecânico.

Nissan - Felipe Carvalho/UOL - Felipe Carvalho/UOL
Imagem: Felipe Carvalho/UOL

É para qualquer um?

Se você chegou até aqui e se animou em ter aquele importado antigo e baratinho na garagem, espera mais um pouco que agora vem a pior parte.
Esse tipo de carro não é para qualquer um. Na verdade, é sempre bem frustrante quando um desavisado embarca numa dessa. É certo que ele vai se arrepender logo no primeiro problema que aparecer pela frente.

Para começar, não compre um carro desse se ele for o único em sua garagem. É provável que, numa dessas de ter que esperar dias, ou até meses, por uma peça, o carro te deixe na mão.

Também não é nada barato mantê-los. Seja comprando pela internet, ou de algum importador, pode ter certeza que a conta final será mais alta do que seria num modelo de carro mais comum. É preciso ter dinheiro de sobra para não desanimar com esses iminentes reparos, que às vezes são até imprevisíveis.

A mão de obra, por ser especializada, também é mais cara. Uma oficina que investe mais em conhecimento e ferramentas, não pode cobrar o mesmo que outra que opta por trabalhar com modelos mais comuns.

Vale a pena?

Se é mais caro e complicado de manter um carro desse, qual a razão para comprar um? Nenhuma!

É isso mesmo. Não é nem um pouco racional comprar carros como esse. É preciso parte do clube dos apaixonados por carros, que colocam peso maior em todo o prazer e exclusividade que esses carros trazem para seus donos.

Além da paixão, paciência e uma boa sobra financeira são imprescindíveis. Se não for para encarar com essa disposição, recomendo que aborte a missão e seja feliz com outros carros.