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Volta do carro popular? Ideia pode salvar indústria e agrada até montadoras

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

24/03/2023 09h50

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O primeiro evento de AutoData este ano reuniu os pesos-pesados do setor industrial do País para apresentar as megatendências do setor automotivo. Formas de atacar a desindustrialização do Brasil, maior inserção ao mercado global e até a volta do carro popular foram temas abordados em painéis online que tomaram todas as tardes desta semana.

Os presidentes das principais entidades setoriais do País, a saber, Fiesp, Abimaq, Anfavea e Sindipeças, abriram o evento na segunda-feira listando uma agenda de prioridades para recuperar a importância do setor industrial no País. Temas que ficaram adormecidos ou foram sufocados nos últimos quatros anos retomam o topo da lista de prioridade do setor industrial.

Por exemplo, reverter a perda de participação da indústria de alta e média tecnologia dentro da indústria de transformação, segundo José Velloso, presidente da Abimaq: "Para isso é preciso políticas corretas, de uma agenda de competitividade, reformas, como a tributária, e discutir o custo de capital para investimento e alavancar os negócios".

Josué Gomes, presidente da Fiesp, acrescentou que foram criadas situações hostis, como o excesso de tributação, que afeta a capacidade de investimento das empresas, e a alta taxa de juros: "A indústria de transformação deve voltar a ser a locomotiva do crescimento nacional sem termos uma nova industrialização, e que pressuponha uma integração às cadeias de suprimento, mais digitalizada, inovadora e de baixo carbono, com uma política industrial horizontal, juros compatíveis e modernização tributária".

Mas talvez a principal sugestão para a recuperação da indústria automotiva nacional tenha a ver com a necessidade de produtos que os consumidores brasileiros possam comprar. Nesse sentido a formação de uma nova câmara setorial, reunindo todos esses atores, foi a sugestão do presidente da Stellantis, Antonio Filosa:

"A demanda por mobilidade no Brasil não mudará, por questões demográficas. Hoje ela é distribuída em transporte público, carros novos e usados, motos e serviços de mobilidade, como Uber. Se conseguirmos emplacar um projeto de carro popular ou de baixo custo haveria uma migração das motocicletas ou dos veículos usados, o que beneficiaria a indústria e os consumidores. Mas é um projeto estratégico para a indústria e deve ter a participação igual de cada um dos interlocutores."

O dirigente de seis importantes marcas no Brasil - Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Ram e Abarth - disse que não há mágica: "Para fazer isto é preciso surpreender o mercado com novas tecnologias e novas soluções, por exemplo, de descarbonização, trabalhar com os concessionários e fornecedores".

O presidente da Fenabrave também acredita na viabilidade do carro popular como forma de manter os negócios da rede de concessionários. José Maurício Andreta Júnior espera que veículos com preço médio menor traga o cliente às lojas: "Para ganhar escala isso será necessário [a volta dos veículos de entrada] e só esta escala manterá viva a rede de concessionárias, porque com o volume atual a conta não fecha. As revendas precisam de maior volume de veículos para se manter, assim como fornecedores e seguradoras".

Há muito trabalho a ser feito para trazer de volta os bons momentos da indústria nacional. E nem todos estão diretamente relacionados à atividade principal das empresas, que é produzir veículos.

A indústria automotiva, inserida no ambiente de indústria de transformação, perdeu 16 pontos porcentuais com relação ao PIB em 30 anos. Desde 2008 caiu 37%: tinha um peso de 16,8% no PIB e em 2021 representou apenas 10,3%.

Para Cláudio Sahad, presidente do Sindipeças "é preciso recuperar a situação da indústria porque a cadeia automotiva gera empregos de qualidade superior. Além disso a inovação é inerente aos nossos negócios. Precisamos aparar arestas macroeconômicas para eliminar os entraves da competitividade".