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Sonho do carro zero está mais distante: inadimplência cresce

Mateus Bruxel/Folhapress
Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress

Colunista do UOL

29/07/2022 10h10

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A deterioração do ambiente macroeconômico no País não é nenhuma novidade. Alguns itens essenciais estão deixando de frequentar a cesta do brasileiro, dentre vários outros problemas. O combustível, mesmo com algumas reduções mínimas nos preços, ainda tem grande influência em todos esses movimentos e traz impactos sobre a mobilidade das pessoas e dos produtos. Mas, agora, os primeiros sinais da diminuição do poder de compra estão chegando ao varejo automotivo. A inadimplência cresceu.

A falta de pagamento dos financiamentos de veículos zero km alcançou, em abril, seu maior índice desde maio de 2020, no momento mais crítico das medidas restritivas decorrentes da pandemia da covid-19. Dados divulgados pelo Banco Central na quarta-feira, 27, apontam que os atrasos nos pagamentos superiores a noventa dias chegaram a 4,5%.

Já mostramos aqui a preocupação da indústria de entregar carros novos para clientes pessoa física por causa do desabastecimento de insumos, sobretudo semicondutores.

Mas em um ano o índice de inadimplência medido pelo Banco Central cresceu 1,3 ponto porcentual, trazendo à tona uma bolha que, esperava-se, poderia estourar para valer só em 2023. Nos últimos dados divulgados, em abril, comparado com março a inadimplência avançou 0,3 pp. De dezembro a abril o aumento chegou a 0,6 ponto porcentual. Não é pouca coisa.

Além da taxa Selic em 13,25% empurrando os juros para cima a inadimplência também é fator bastante considerado pelo mercado financeiro na concessão [ou não] de crédito. A taxa média praticada para os financiamentos automotivos alcançou 27,2% ao ano, também em abril. Em doze meses os juros médios cresceram 5,9 pontos porcentuais, de acordo com o BC, acompanhando a tendência de reajuste na taxa Selic.

Para os executivos uma procura menor pelos financiamentos e, também, a dificuldade para aprovação de crédito por parte dos bancos são suficientes para o varejo automotivo continuar desaquecido, segundo uma fonte consultada por AutoData.

A opção pelo crédito para comprar qualquer bem de consumo, inclusive um veículo, roda pela contramão, de acordo com a Serasa Experian: no mês passado a procura por novos financiamentos recuou 2,2%, comparado com o mesmo mês de 2021.

Na próxima semana haverá o balanço das vendas de julho que, segundo especialistas no mercado automotivo, deve manter o ritmo de junho, algo como 178 mil unidades. Grande parte entregue para clientes corporativos, a chamada venda direta. E o sonho do carro zero vai ficando cada vez mais longe para muitos.

* Colaboraram André Barros e Vicente Alessi, filho