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Vendas de veículos patinam neste ano e tendem a piorar em 2023

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

19/07/2022 11h16

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A revisão das projeções de vendas para o mercado brasileiro em 2022, anunciadas na semana passada pelas duas principais entidades do setor automotivo no País, Fenabrave e Anfavea, revelou muito daquilo que virá a partir do segundo semestre, além do que já se constatara nos primeiros seis meses: a falta de componentes evitou e evitará que a indústria atenda plenamente à demanda tanto os poucos consumidores e, principalmente, às locadoras.

O lado oculto da projeção menor para este ano, que espera a repetição das vendas de 2,1 milhões de unidades de 2021, porém, será mais visível somente em 2023.

"O grande vilão da demanda é o crédito, que ficou mais caro e menos acessível" aponta reportagem de capa da edição 390 da revista AutoData, publicada na última sexta-feira, 15. Os argumentos que sustentam essa afirmação estão bastante evidentes na ponta da linha, ou na mesa do consultor de vendas de uma concessionária: a taxa de juros do CDC subiu para 28% ao ano e os bancos têm aprovado somente metade dos pedidos de crédito para compra de um veículo zero quilômetro.

A reportagem demonstra que, neste momento, inverteu-se a tendência de compra a prestação e os pagamentos à vista são maioria, mesmo em um universo bastante reduzido de negócios com o popular cliente pessoa física. O que sustenta as projeções da indústria são as vendas corporativas, especialmente para locadoras que já manifestaram o interesse de comprar 600 mil veículos novos ainda este ano.

Em evento organizado pela AutoData Editora no início do mês, justamente para revisitar as projeções dos líderes da indústria automotiva, Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, falou com todas as letras: "O mercado mudou e hoje temos mais vendas diretas. Essa modalidade ganhou mais importância porque é ali que estão os pedidos".

O descompasso na cadeia de abastecimento que resulta na falta de insumos, sobretudo semicondutores, continuará levando a culpa pelo desempenho que, dizem consultores do setor automotivo, poderia ser melhor em 2022. Por outro lado a falta de produto, mesmo considerando os aumentos de preços que excluem parte considerável da clientela, pode não ser tão catastrófica assim quanto o que está por vir em 2023.

Por enquanto não há sinais de que no ano que vem as condições macroeconômicas darão um respiro para o mercado automotivo. É difícil esperar que num período tão curto de três, seis meses, qualquer política anticíclica seja capaz de devolver à taxa básica de juros patamar de apenas um dígito porcentual.

Da mesma forma não será com os poderes Executivo e Legislativo renovados que as taxas de desemprego despencarão, com a renda retornando a trajetória capaz de melhorar a capacidade de compra da família brasileira. Nem mesmo os preços dos veículos tendem a baixar trazendo de volta, assim, o consumidor que, segundo o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Jr., faz o segmento de duas rodas crescer mais do que o esperado porque o cliente não tem poder aquisitivo para comprar um carro.

Trocando em miúdos a expectativa de repetir as vendas de 2021 é, de fato, uma boa notícia. Porque em 2023, que está logo ali, o cenário poderá ser ainda pior, com as fábricas produzindo sem restrições enquanto o mercado segue sem fôlego. Na reportagem de capa da revista AutoData Lima Leite, da Anfavea, resume muito bem:

"Se não tivéssemos o problema de produção abaixo da demanda é possível que o crédito mais caro e restrito já estivesse puxando as vendas para baixo. Mas como estão faltando carros para entregar e os estoques estão baixos, este ainda não é um problema. Mas poderá ser".

* Colaboraram André Barros, Pedro Kutney e Vicente Alessi, filho