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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O negacionismo à circularidade

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

05/11/2021 09h17

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Não há alternativa para as empresas. Esperar que os governos se movimentem para criar regras e resolver esse dilema não dá tempo. A turma do financeiro já demonstrou que se algo não for feito, e rápido, alguém vai perder muito dinheiro, correndo o risco de também perder o bonde da história. E agora o consumidor aprendeu que isso é importante e incorporou o conceito na sua lista de prioridades. Não se iluda, caro leitor. A agenda a partir de agora é socioambiental.

Os investidores estão cada vez mais atentos às boas práticas ambientais, sociais e de governança das empresas e esta é a faísca para a grande transformação que está em curso, quer você acredite na ciência ou que a terra é plana.

Muitos líderes ainda não compreenderam a tarefa que precisa ser executada simplesmente porque não dispõem de ferramentas para lidar com múltiplos desafios. A visão de mundo se amplificou com a tecnologia e está refinando os valores das pessoas que, aos poucos, vão deixando de consumir alimentos ultra processados ou produtos manufaturados com mão de obra escravizada.

A transformação da mobilidade é apenas um dos reflexos dessa mudança de paradigma. As empresas terão mais responsabilidades com os seus e com todos os outros, da sociedade e da natureza. Além, obviamente, de sofrerem julgamentos constantes caso seus produtos não respeitarem valores muito particulares dos clientes.

Esta perspectiva nova que toma conta das sociedades é aquilo que foge aos olhos dos líderes que continuam focados, para não dizer presos, à operacionalização financeira/industrial de suas atividades. Eles também não encontram tempo para absorver conhecimento multidisciplinar que pode ser útil na sua função de tomar decisões que conduzam à "sustentabilidade" aos negócios.

A economia circular, por exemplo. Simplesmente por confrontar sua abordagem com a economia linear - cujo objetivo cru, daquela linha ascendente no gráfico, é apenas e tão somente gerar riqueza aos acionistas -, não está na lista de prioridades dos gestores como alternativa de longo prazo para trazer bons [e novos] dividendos à organização.

Por conta desse lapso no currículo dos líderes da indústria alguns elos da intrincadíssima cadeia circular ainda não existem ou se existem não estão conectados ao sistema industrial. Hoje sabemos que além de gerar desperdício, poluição, destruição do meio ambiente e escassez de recursos a abordagem linear da economia está deixando de faturar algum ao longo de uma jornada circular dos produtos e de todos os recursos de que ele é feito.

As empresas ganharam novas responsabilidades e esses limites têm se alargado à medida em que valores como transparência, igualdade e respeito foram amplificados nos últimos tempos, sobretudo durante uma catastrófica e inesperada pandemia.

Continuar cumprindo a tabela atendendo apenas o que está escrito na legislação é um papel pequeno para a indústria e insuficiente para a transformação que está em curso.

Grande parte da sociedade já deu a letra: "contamos com as empesas para, todos, juntos, fazermos deste planeta um lugar melhor". Aos negacionistas desse movimento sem precedentes a história reservará um espaço. O da extinção.

Se o nobre leitor teve a paciência de chegar até aqui estará capaz de compreender que as tentações que o ESG oferece para as empresas agora podem ajudar a transformar os negócios nos próximos anos. Mas isso não será nada comparado ao que pode ser feito. Que é modificar o contrato social da empresa e tornar uma obrigação a partir daí cumprir e extrapolar todos os requisitos que o ESG ou a economia circular exigem do mundo dos negócios. Seja qual for o negócio: sobre rodas, asas ou qualquer outra coisa que se queira vender no planeta.