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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Uma série de boas notícias para a indústria automotiva

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

16/07/2021 09h44

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Enquanto a crise de semicondutores afeta de maneira mais aguda as empresas fabricantes de automóveis, outros setores da cadeia automotiva nacional estão colhendo bons resultados e projetando dias ainda melhores em 2022.

Nesta semana, durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2021, alguns dos principais líderes da cadeia produtiva do setor mostraram seus resultados do primeiro semestre e as projeções para o negócio nos próximos meses.

E aqui está a primeira boa notícia: embora as empresas ainda estejam sofrendo, e muito, com os impactos causados pela pandemia ao longo dos últimos dezesseis meses, elas conseguiram sobreviver a esse momento sem precedentes na história e seguem imaginando que, a partir de agora, tudo vai melhorar.

É o caso do segmento de caminhões que, no primeiro semestre, teve crescimento de 55% nos negócios, impulsionado por um lado pelo agronegócio e o bom momento das commodities como o minério de ferro e, por outro, pelo aumento significativo das entregas de curtas distâncias por causa do isolamento social imposto pela pandemia.

A indicação de que o PIB possa crescer mais de 5% este ano é suficiente para que os negócios em caminhões acompanhem essa curva ascendente segundo Ricardo Alouche, da Volkswagen Caminhões e Ônibus: "Se o PIB cresce o mercado de caminhões reage instantaneamente. E o contrário também é verdade. Com a projeção de que a economia cresça pelo menos 5% este ano a produção de caminhões cresce junto".

Aliás, durante sua apresentação no seminário de AutoData, terça-feira, 13, Alouche mostrou em primeira mão o e-Delivery, primeiro caminhão elétrico nacional, um marco para a indústria automotiva do Brasil, que estava sendo lançado naquele momento.

O Sindipeças, entidade que reúne o parque nacional de produção de componentes para as montadoras veiculares, relatou que sua capacidade produtiva reagiu e, em maio, foi a 74,1%, ante os 42,9% de utilização em igual período de 2020. E que, se o faturamento desse setor em 2021 ainda não seja o ideal, com avanços, é verdade, mas longe do desempenho de 2019, a recuperação dos estoques em 2022 e a tendência de normalização do fornecimento de semicondutores a partir do segundo semestre podem sedimentar os alicerces para a retomada de um crescimento mais adequado a partir de 2023.

Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, olhou para o futuro demonstrando o seu já conhecido otimismo com os pés no chão: "Retornaremos a um nível de crescimento mais ameno em 2023 e 2024 e voltando, em 2024, para a casa das 3 milhões de unidades, patamar que tínhamos em 2019".

Outro segmento que ficou otimista com os resultados no presente e projeta dias ainda melhores no futuro próximo é o de máquinas agrícolas e de construção. O desempenho da economia no País é, novamente, o fator que impulsiona os negócios. A projeção de o segmento crescer 20% já foi revisada para 30% em 2021 pela Volvo CE, com o agronegócio, a construção civil e a atividade mineradora puxando as vendas.

Para o setor de duas rodas a vacinação é o ponto crucial para que as vendas possam superar as projeções revisadas para o segundo semestre. E aqui uma série de fatores um tanto diferente do resto da cadeia automotiva justifica a expectativa. Há um descompasso da produção com a entrega dos veículos de duas rodas ao consumidor causado pelas restrições mais rígidas em Manaus, AM, epicentro de um dos piores momentos da pandemia no Brasil e o polo produtivo desse setor.

Como disse Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo, entidade que representa as empresas fabricantes nacionais, "é possível que a produção seja maior caso a vacinação avance rapidamente em Manaus, porque ainda temos muitas limitações em nossas fábricas por causa das ações tomadas para controlar a pandemia".

Para o segundo semestre a entidade aposta numa maior irrigação do crédito por parte das instituições financeiras, prorrogação do auxílio emergencial, evolução da campanha de vacinação, aumento do transporte individual e do e-commerce, fatores que podem melhorar o desempenho projetado para 2021, que é de crescimento de 10,2% das vendas com relação ao ano passado.

Ao fim dos três dias de apresentações e debates sobre as perspectivas para o setor automotivo concluiu-se que a indústria sofreu bastante, e ainda sofre os efeitos da pandemia. Mas todos estão respirando. Seguindo os protocolos e as tendências do mercado. E usando máscara.

Entraves. Os desafios para que os pesados sigam em alta estão concentrados na cadeia de suprimentos, que além da falta de semicondutores mostra atrasos na entrega de peças e matérias-primas. Nessa conta também entram reajustes das matérias-primas, que superam 120% no caso do aço e 50% dos pneus.

Entraves 1. Além disso outros problemas externos prejudicam as programações, segundo Ricardo Alouche da VWCO: "Nevasca no Texas, obstrução do canal de Suez, incêndio em fábrica de semicondutores no Japão. Sem um desses itens que ficaram retidos não se monta um caminhão".

PIB. O pior da pandemia e o pior da economia já ficaram para trás. Afirmação do economista Pedro Renault, do Banco Itaú, no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2021, justifica a projeção de alta de 5,8% do PIB brasileiro este ano.

PIB 1. A avaliação é a de que o tombo na segunda onda da contaminação foi menor do que na primeira porque aprendemos a trabalhar remotamente, vender e comprar online, e a indústria não parou tanto como no ano passado.

PIB 2. O Itaú aguarda pela aceleração da economia a partir do segundo trimestre de 2021, pois até outubro há a expectativa de que toda a população adulta do País seja vacinada. Será uma ótima notícia para o setor de serviços, como restaurantes, bares, salões de beleza, turismo e alguma parte de bens, como vestuário, que está relacionado à mobilidade.

* Colaboraram André Barros, Caio Bednarski, Soraia Abreu Pedrozo e Vicente Alessi, filho