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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Como compensei a poluição dos 16 carros que testei durante um ano

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

11/06/2021 12h48

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É cada vez maior a influência da pauta ambiental nos negócios e na vida de cada um de nós. A poluição dos mares, a extinção de espécies, a perda da biodiversidade, o aquecimento global, dentre tantos outros eventos, têm feito parte do noticiário e do cotidiano de muitas pessoas.

No mundo do automóvel não é diferente. A eletrificação é a pauta da vez e se apresenta como a solução para evitar a contaminação do ar, da atmosfera e dos pulmões das pessoas, um movimento sem precedentes, que vai mudar drasticamente a indústria automotiva e, claro, seus produtos. Mas essa transformação ainda está distante e já surgem discussões se será suficiente para anular todos os impactos de pouco mais de um século de reinado dos motores a combustão interna.

Até agora o consumidor era passageiro nesse enredo e estava feliz com seu papel de apenas desfrutar das máquinas maravilhosas que a indústria automotiva construiu - e que muitos continuam amando - sem ter que se preocupar com a fumaça preta [ou invisível] que sai pelo escapamento, por exemplo.

Mas alguma coisa mudou. Hoje é o cliente que determina as configurações do produto. De quase todos os produtos. E as preocupações com o meio ambiente começam a figurar na sua lista de prioridades. Por isso a eletrificação é a resposta da indústria para a mobilidade sem emissões.

Mas enquanto isso não acontece de forma que o carro elétrico esteja disponível para todos existem outras maneiras do consumidor aliviar sua consciência agindo por conta própria para encaminhar a solução de vários temas ambientais polêmicos com uma tacada só. Fazendo a compensação das suas emissões.

Este não é um assunto novo por aqui, mas neste mês em que se comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente [5/6] e o Dia dos Oceanos [8/6], não custa tentar, mais uma vez, inspirar o nobre leitor com o resultado da experiência conduzida por este repórter.

Em 2020, utilizei diversos veículos em avaliações desses produtos, anotei a quilometragem rodada, o combustível utilizado, e com esses dados paguei do próprio bolso para fazer a compensação das emissões plantando árvores. O resultado: com o total de 9,4 mil quilômetros rodados foram emitidas 1,8 toneladas de CO2 que serão compensadas com o plantio de oito árvores.

Todo esse serviço, para realizar os cálculos de cada veículo considerando os protocolos para emissões dos gases de efeito estufa, a escolha de espécies originárias da Mata Atlântica, o local do plantio [geralmente em áreas desmatadas], o plantio dessas mudas e o manejo para que elas se transformem em árvores e façam o trabalho de captar as quase 2 toneladas de CO2 que emiti como motorista desses carros em 2020 custou R$ 160,00.

A organização dedicada à restauração florestal Iniciativa Verde deu todo o suporte para realizar essa experiência pelo segundo ano consecutivo.

Além da matemática para calcular a emissão dos veículos de acordo com o Programa Brasileiro GHG Protocol e ainda criar alguns critérios para identificar as emissões de um veículo híbrido - que não faz parte do protocolo nacional que classifica as emissões de todos os modelos - o pessoal da Iniciativa Verde trabalha durante alguns anos para garantir que as árvores realizarão o serviço contratado.

Após o pagamento o consumidor recebe um certificado de que seu CPF está cadastrado no inventário nacional de compensação de gases de efeito estufa, que demonstra que a sua ação realmente aconteceu.

Enquanto os fundos ESG estremecem as estruturas das grandes empresas, que precisam converter seus negócios guiados por esses critérios de governança, social e ambiental, atitudes individuais, como o de um motorista pagar para compensar suas emissões, pode parecer bobagem. Ou não, à medida que muitos estão preocupados com o meio ambiente, com a pandemia e como será o futuro depois de tudo isso.

Para o repórter a conclusão desse teste de longa duração com dezesseis veículos ao longo de 2020 foi: plantar árvores é simples e barato. Muito mais em conta que um carro elétrico. E tão eficiente quanto.

Onix Plus. O sedã da Chevrolet com motor 1.0 rodou 555 quilômetros só na estrada. Despejou quase 94 kg de CO2 equivalente [medida utilizada no GHG Protocol] utilizando um mix de gasolina e etanol no tanque. O fator de emissão de kg/CO2e por quilômetro rodado foi 0,1688. O fator de emissão serve como referência para conhecer a eficiência do motor, pois é resultado de cálculos considerando a utilização de combustíveis fósseis [gasolina, GNV, diesel], biocombustíveis [etanol, biodiesel] e os diversos motores [1.0, 1.6, 2.0...] dos veículos nacionais movidos a gasolina, flex ou diesel.

208. O novo Peugeot com motor 1.6 a gasolina emitiu 76 kg/CO2e na jornada de 516 quilômetros. O consumo médio ficou em 11,4 km/l rodando parte na cidade, parte na estrada. O fator de emissão do 208 na versão Griffe foi de 0,1485 kg/CO2e por quilômetro rodado.

Tiggo 8. O SUV de sete lugares com motor 1.5 litro rodou 534 km na estrada e emitiu 100 kg/CO2e. Seu fator de emissão foi de 0,1881 kg/CO2e por quilômetro rodado.

Defender. Foram 707 km com o novíssimo Land Rover na cidade, na estrada e em terreno acidentado. Seu motor 2.0 a gasolina de 300 cv emitiu 221 kg/CO2e, volume de dióxido de carbono suficiente para plantar uma árvore, segundo os cálculos da Iniciativa Verde. O fator de emissão do jipão foi 0,3135 kg/CO2e por quilômetro rodado.

Ranger. A picape da Ford, assim como picapes com motor diesel das outras marcas, polui mais que um automóvel movido a gasolina. A versão Storm também foi a que mais rodou neste experimento em 2020: 1.290 km, com a emissão de 357 kg/CO2e. Somente nessa viagem com trajetos em percurso urbano, na estrada com asfalto e de terra, foi necessário o plantio de uma árvore e meia [veja a tabela completa de cálculos em AutoData] para compensar a poluição despejada na atmosfera. O fator de emissão da picape foi 0,2768 kg/CO2e.

Metodologia. A Iniciativa Verde utiliza rigorosas tabelas de dados para realizar os cálculos. Elas são originadas a partir de protocolos apresentados pelo IPCC, Painel Intergovernamental para Mudanças do Clima, da ONU, e pelo Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Durante a utilização dos veículos a única metodologia utilizada foi a de anotar os dados do computador de bordo.

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