Topo

AutoData

Falta pneu, carro e cliente: mercado automotivo entra em colapso no Brasil

Rodrigo Paiva/Folhapress
Imagem: Rodrigo Paiva/Folhapress

Colunista do UOL

29/01/2021 10h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Alertas para a escassez de insumos como aço, pneu e roda em implementos de veículos pesados, paralisação de grande parte da produção de motocicletas no Polo Industrial da calamitosa Manaus (AM) [por causa do colapso da rede de saúde], entidades das revendas de novos e usados indo às ruas em São Paulo, contra aumento do ICMS. No mundo automotivo os problemas surgem numa velocidade compatível com o dos contaminados pelo coronavírus no Brasil.

Nas últimas semanas os casos se alastraram de ponta a ponta do País: no Rio Grande do Sul os principais fabricantes de implementos rodoviários, tão importantes para o início de operação de um caminhão novo, estavam com muitos desses equipamentos parados no pátio pela falta de rodas e pneus. Mesmo com a perspectiva de crescimento da atividade em 2021 o momento é de intensa negociação para encontrar aço e alumínio para abastecer a linha de produção e atender à demanda.

O ritmo dessa importante cadeia, que movimenta bilhões de reais ao ano, está com dificuldades neste momento porque as usinas de aço trabalham para elevar a produção com mais fornos em operação - o que leva um bom tempo. Mas também há uma pressão enorme com o câmbio e a demanda global de aço, que está aquecida. Tudo isso pode gerar atrasos nos primeiros meses de 2021 e prejudicar o incremento dos negócios de veículos comerciais no Brasil.

É o mesmo diagnóstico na outra ponta do País, em Manaus, maior polo produtivo de veículos de duas rodas na América do Sul. A catástrofe ocorrida na Capital com a falta de oxigênio nos hospitais e a identificação de uma nova variante do Sars-CoV-2, a P.1, que neste momento preocupa as autoridades sanitárias no planeta, levaram Honda, Dafra, Ducati e Suzuki a paralisar totalmente a produção. Outras fabricantes não pararam, mas intensificaram os protocolos de segurança reduzindo o número de unidades produzidas.

O resultado é que está faltando de 100 mil a 150 mil motos no mercado, calcula a Abraciclo, associação do setor. E já está claro que a produção nacional será 50% menor em janeiro, atrasando a recomposição dos estoques. Ainda assim espera-se um crescimento tanto da produção quanto das vendas e exportações para 2021.

Já em São Paulo o imbróglio é na ponta da cadeia. Concessionários e revendedores independentes questionam o governo do Estado sobre a nova alíquota do ICMS para a venda de novos e usados. O cálculo é complicado, gera polêmica e a questão pode parar na Justiça pois, segundo as entidades representativas do setor, esse decreto do governo do Estado estaria retirando 50% da margem do revendedor. Tudo isso atrapalha o movimento dos negócios gerando incerteza no consumidor, o que é péssimo...

Ah! E como se nada mais pudesse perturbar o mundo automotivo em janeiro na primeira quinzena o diesel teve aumento de 2,72% na comparação com mesmo período em dezembro, segundo índice que mede o abastecimento em 18 mil postos no País. O Brasil já está rodando com preços praticados antes do início da pandemia. Haverá reflexo no preço do frete e dos produtos em geral. Por exemplo a gasolina e o etanol, que são transportados pelo País por caminhões movidos a diesel.

Tudo isso contribui de alguma forma no resultado de vendas. E as últimas informações dão conta de gargalos nas lojas: faltam carros para a entrega e, também, consumidores. A média diária está em 7 mil unidades, bem menor do que em dezembro, com 11,6 mil carros. Na quinta-feira, 28, fontes do varejo automotivo consultados por AutoData projetavam que as vendas este mês seriam de 140 mil veículos.

A impressão é de que as coisas estão em câmera lenta. Essa é a sensação de quem está na linha de frente das vendas. A reforma tributária tem sido muito citada nas conversas de AutoData com essas fontes como o remédio que o mercado precisa para manter o otimismo de que haverá uma atividade econômica mais robusta em 2021. Mas a lista de problemas é enorme. E pode vir greve de caminhoneiros por aí.

* Colaboraram André Barros, Bruno de Oliveira, Caio Bednarski e Vicente Alessi, filho