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Indústria brasileira de veículos precisa explorar mais a América Latina

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL*

28/08/2020 08h20

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O parque industrial automotivo brasileiro está preparado para produzir 5 milhões de veículos ao ano, mas em 2020 o número de unidades produzidas não ultrapassará 1,7 milhão. Aquilo que consumiu bilhões de dólares em investimentos e foi configurado para atender a demanda de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas do continente sul-americano ou do que se conhece como América Latina, jamais exerceu esse protagonismo.

Mesmo que o Brasil e a Argentina tenham constituído mercado comum com potencial de 4 milhões de unidades negociadas ao ano ainda há a oportunidade para vender mais 1 milhão de veículos na região. Mas as burocracias, as ineficiências e até a pouca conexão do país continental, o Brasil, com a chamada América Espanhola, historicamente impediram o desenvolvimento do setor automotivo para este nível de ocupação plena da sua capacidade.

Pior: em alguns mercados os carros chineses exercem certo protagonismo - e, pasmem, é mais barato trazer um carro da China para determinados países do que enviar um do Brasil.

Um dos efeitos da pandemia, além de ceifar vidas e causar uma apreensão generalizada do consumidor brasileiro, argentino, chileno e peruano, foi o de levantar o tema da exportação regional como uma das alternativas à sobrevivência da cadeia automotiva já estabelecida na região.

Na próxima semana AutoData discutirá com os líderes deste setor quais os caminhos para um programa de maior integração regional no 2º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana.

Ainda que os principais mercados sul-americanos como a Argentina, a Colômbia, o Chile e o Peru tenham registrado quedas superiores a 40% no volume de negócios no primeiro semestre, durante a pandemia, há otimismo que a recuperação já esteja em curso.

As vendas do mercado peruano dobraram em julho contra o mês anterior. Pela primeira vez depois da pandemia o Chile registrou aumento de 37% nas vendas de julho sobre junho. Já a Colômbia experimenta o terceiro mês consecutivo de alta nas vendas. Apenas a Argentina deu um passo atrás em julho: retração de 19% com relação a junho. Mas o governo local estuda instrumentos para incentivar a venda de veículos por lá.

Ajuste à vista. A Volkswagen segue negociando com os sindicatos alternativas para adequar sua capacidade produtiva ao tamanho do mercado na pandemia. As entidades alegam que a companhia trabalha com cálculos que chegam a até 35% de mão-de-obra excedente no País. Demissões serão inevitáveis.

Próximos capítulos. Como tem acordo vigente com todos os sindicatos, as negociações deverão se arrastar. Enquanto isso, a Volkswagen lança mão de lay offs, reduções de jornadas e outras medidas - assim como suas concorrentes: na última semana GM e Mercedes-Benz, por exemplo, conseguiram acordos neste sentido. Na GM foram abertos, também, PDVs, Planos de Demissão Voluntária.

Atraso? O curioso é que a Abla, associação que representa algumas locadoras, alega ter 60 mil pedidos de veículos 0 Km represados nas linhas de produção das montadoras. Pode ser um indicativo de que as empresas mantém o pé no freio das suas fábricas, ainda desconfiadas com os desdobramentos na economia e o futuro do País.

Ou descompasso? Outra hipótese é a de que alguns elos da cadeia de fornecedores ainda não conseguem acompanhar o ritmo do mercado, possivelmente pelos mesmos motivos citados acima.

De navio. Dois novos modelos que serão vendidos no mercado nacional já começaram a ser produzidos, mas fora do País. São as novas gerações do Peugeot 208, na Argentina, e do Nissan Versa, no México. O primeiro chega em setembro, o segundo até dezembro.
Investimento. E a Nissan anunciou investimento de US$ 130 milhões em Córdoba, na Argentina. Ali produz a picape Frontier na mesma linha em que sua parceira de Aliança, a Renault, monta a ainda inédita Alaskan.

* Colaboraram: André Barros, Bruno de Oliveira e Caio Bednarski