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Montadoras articulam acordo com governo para enfrentar pausa em produção

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL*

03/04/2020 10h48

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As pequenas e médias empresas, principalmente do setor de serviços, estão desesperadas para fechar suas contas enquanto o consumo continua estagnado. Não há fluxo no caixa para pagar fornecedores e empregados, financiamentos e outros gastos correntes que não podem atrasar.

A situação das grandes empresas, que empregam milhares de pessoas e contratam fornecedores, dentre tantas outras obrigações, não é diferente. Na indústria automotiva isso também acontece: sem vender carro ou caminhão o fluxo do caixa não gira, o que acaba sufocando as empresas.

Para piorar, desde a segunda-feira, 30, nenhum veículo foi produzido no Brasil e como o cenário pós-quarentena ainda é nebuloso as entidades representativas do setor automotivo no País estão levando essa situação do fluxo de caixa para o governo federal na tentativa de evitar uma catástrofe.

AutoData conversou com diversos executivos que confirmaram os contatos das entidades com o governo. Eles apontaram alguns caminhos para resolver a questão do fluxo de caixa, um dos principais desafios neste momento.

Foi o que relatou João de Oliveira, o novo presidente da Abeifa, a associação dos importadores. Individualmente a Abeifa levou ao Ministério da Economia pedido para a redução do imposto de importação dos atuais 35% para 20%.

Outras propostas, como a criação de linha de crédito especial junto ao BNDES para aliviar o fluxo de caixa nos próximos seis meses, e a suspensão de alguns tributos para toda a cadeia automotiva por 120 dias, foram apresentas em conjunto pela Anfavea, Fenabrave e Abeifa, relatou uma fonte de AutoData, que pediu para manter sua identidade em sigilo.

Algumas dessas propostas e o envio do pleito em conjunto também foram citadas por Oliveira em entrevista ao editor Marcos Rozen, de AutoData, na sexta-feira, 27.

Desde a semana passada ocorrem reuniões desse grupo do setor automotivo com representantes do governo federal, mais especificamente da equipe do ministro Paulo Guedes. Nesses encontros online discute-se com grande preocupação a situação da cadeia de fornecimento de peças, mais suscetível ao estrangulamento do fluxo de caixa.

O entendimento, segundo nossa fonte, é que o auxílio às grandes companhias pode criar um efeito cascata em seus fornecedores, evitando o fechamento dessas empresas e o desemprego de milhares de pessoas.

Espera-se para a segunda-feira, 6, pronunciamento da Anfavea sobre esse tema. Além, é claro, do balanço de vendas, produção e exportação da indústria automotiva em março.

Queda de 40%. Essa é a projeção do presidente da FCA, Antonio Filosa, para as vendas este ano: "O mercado vinha dentro de nossa projeção anual de crescimento de 8% até a primeira quinzena de março, mas na segunda quinzena as vendas caíram 90%. Certamente teremos um segundo trimestre muito difícil e severo", disse em entrevista a AutoData.

Pode ser pior. Filosa avalia que neste momento está complicado chegar a uma projeção precisa para os impactos da crise do coronavírus na economia. A redução de 40% nas vendas é, estatisticamente, a mais aceitável no momento: "Os mais otimistas falam em baixa de 35% e os mais pessimistas em 50% a 60% de queda. Mas isso me parece, por ora, pessimista demais".

Vendas recuam a 2006. As vendas em março foram de 163,6 mil unidades, desempenho superior apenas ao de março de 2006, quando os brasileiros compraram 156,7 mil veículos 0 KM. Este é o primeiro impacto da pandemia da covid-19 no mercado automotivo, que registrou queda de 21,8% com relação a março do ano passado.

Sinal amarelo. Para o presidente da Fenabrave a antecipação das férias e o uso de banco de horas para funcionários das concessionárias, muitas ainda fechadas devido aos decretos estaduais e/ou municipais, não se sustentarão por muito tempo: "Sabemos que a prioridade é a saúde da população. Mas, a continuar como está, mais um mês de estagnação pode comprometer 20% dos empregos em nossa atividade", disse Alarico Asumpção Júnior.

Paralisação geral. AutoData reuniu as medidas informadas pelas empresas nas linhas de produção por causa da covid-19. Veja as ações abaixo [última atualização 1° de abril]:

AGCO - As fábricas de Canoas, Ibirubá e Santa Rosa, RS, e Mogi das Cruzes, SP, que produzem máquinas Fendt, GSI, Massey Ferguson, Valtra e Precision Planting param no início de abril por dez dias, inicialmente. O centro de distribuição de peças em Jundiaí, SP, segue operação normal, cumprindo os protocolos de saúde.

Audi - A operação conjunta com a Volkswagen em São José dos Pinhais, PR, está parada desde 23 de março, por três semanas.
BMW- Férias coletivas na fábrica de Araquari, SC, a partir de 30 de março, com retorno previsto para 22 de abril. Em Manaus, AM, onde produz motocicletas, a parada está prevista de 30 de março a 23 de abril.

Caoa - A produção em Jacareí, SP, foi suspensa em 23 de março, a princípio por duas semanas. Em Anápolis, GO, a produção também foi interrompida em 23 de março e não há prazo estimado para retorno.

CNH Industrial - Atividades suspensas em todas as fábricas da Case IH, New Holland Agriculture, Case Construction, New Holland Construction, Iveco e FPT Industrial desde 27 de março. Não foi estimado prazo para retorno.

DAF - A produção em Ponta Grossa, PR, foi paralisada de 24 de março a 6 de abril, atendendo orientação global da Paccar, sua controladora.

FCA - As fábricas de Betim, MG, Campo Largo, PR, e Goiana, PE, reduzem gradualmente a produção até parar, completamente, em 27 de março. Operações programadas para retornar em 21 de abril.

Ford - Desde 23 de março as fábrica de Camaçari, BA, Taubaté, SP, e a unidade da Troller em Horizonte, CE, estão sem produzir veículos, motores e componentes. A retomada está prevista para 13 de abril.

General Motors - Em 20 de março parou a fábrica de Gravataí, RS, em 23 de março as de Mogi das Cruzes e São Caetano do Sul, SP, o Campo de Provas de Cruz Alta, em Indaiatuba, SP, e a fábrica de motores em Joinville, SC. A unidade de São José dos Campos, SP, para em 24 de março - e a companhia não estipulou data para o retorno das atividades.

Honda - Trabalhadores das fábricas de automóveis de Itirapina e de Sumaré, SP, entram em férias coletivas de 25 de março a 14 de abril, com o retorno podendo ser postergado para 28 de abril. A retomada dependerá das orientações dos governos municipal, estadual e federal. A produção de motocicletas em Manaus, AM, está suspensa de 27 de março a 13 de abril, podendo ser estendida por mais uma semana.

HPE - Linhas que produzem modelos Mitsubishi e Suzuki em Catalão, GO, pararam em 23 de março por sessenta dias, inicialmente.

Hyundai - Fábrica de Piracicaba, SP, fechou em 20 de março, após um trabalhador da área de suporte à produção relatar suspeita da covid-19. Assim permanece até 25 de março, quando os funcionários entram em férias coletivas, programadas para vigorar até 13 de abril. O teste do funcionário deu negativo para o vírus, descartando o risco de contaminação com pessoas que tiveram contato nas últimas semanas.

Iveco - Fábrica de Sete Lagoas, MG, começou a parar gradativamente em 25, suspendendo totalmente as operações em 27 de março. Não foi estimado prazo para retorno.
Jaguar Land Rover - Produção em Itatiaia, SP, suspensa de 25 de março a 6 de abril.

JCB - Produção em Sorocaba, SP, suspensa de 30 de março a 22 de abril.

John Deere - As fábricas de Horizontina e Porto Alegre, RS, pararam em 25 de março. No dia 30 a produção foi interrompida em Indaiatuba, SP, Catalão, GO, Canoas e Montenegro, RS. Não há previsão de retorno.

Mercedes-Benz - As operações de Iracemápolis e São Bernardo do Campo, SP, e Juiz de Fora, MG, param em 23 de março. Um dia depois será a vez dos trabalhadores de Campinas, SP. Em 30 de março todos entram em férias coletivas até 19 de abril, com retorno previsto para 22 de abril, a depender da situação.
Nissan - A produção na fábrica de Resende, RJ, para em 25 de março e tem retorno previsto para 22 de abril, ainda a ser confirmado.

PSA - Produção de modelos Peugeot e Citroën em Porto Real, RJ, interrompida de 23 de março a 21 de abril, com o reinício condicionado à situação na data.

Renault - Os 7,5 mil trabalhadores do Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais, PR, param em 25 de março com retorno estimado para 14 de abril.

Scania - Férias coletivas aos trabalhadores de São Bernardo do Campo, SP, de 23 de março a 13 de abril.

Toyota - Em 24 de março param as fábricas de Indaiatuba, Porto Feliz, São Bernardo do Campo e Sorocaba, SP, com retorno previsto para 6 de abril. A fabricante adiou a retomada para 22 de abril.

Volkswagen - Atividades suspensas até o fim de abril nas fábricas de São Bernardo do Campo, São Carlos e Taubaté, SP, e São José dos Pinhais, PR, a partir de 23 de março. Na primeira semana as folgas serão administradas por meio de banco de horas, e nas seguintes passam a vigorar férias coletivas.

Volkswagen Caminhões e Ônibus - Produção na fábrica de Resende, RJ, parada de 23 de março a 20 de abril.
Volvo - Férias coletivas de quatro semanas aos 3,7 mil funcionários que produzem caminhões, ônibus, motores, transmissões e cabines em Curitiba, PR, a partir de de 30 de março.

Yamaha - Atividades fabris no Polo Industrial de Manaus, AM, estão suspensas de 31 de março a 19 de abril.

*Colaboraram André Barros, Bruno de Oliveira, Caio Bednarski e Marcos Rozen