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Fernando Calmon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Carro 'pelado' 0 km ganhará força como alternativa a seminovo inflacionado

Fiat Mobi (foto) e Renault Kwid vão ganhar terreno nas versões mais simples para quem faz questão de levar carro zero-quilômetro - Divulgação
Fiat Mobi (foto) e Renault Kwid vão ganhar terreno nas versões mais simples para quem faz questão de levar carro zero-quilômetro Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

15/09/2021 11h54

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Apesar de o quadro econômico-financeiro do País indicar preocupações, a procura por veículos não parece se abalar. Segundo dados da Anfavea, a produção em agosto deste ano (164 mil unidades) foi a menor em 18 anos. Mas a produção acumulada nos oito primeiros meses de 2021 (1,476 milhão de unidades) superou em 33% o volume de igual período de 2020. Em ambos os casos, porém, a base comparativa é muito baixa.

No entanto, quem deseja comprar um carro agora já sabe que não poderá recebê-lo antes de três ou quatro meses. Os estoques são de apenas 13 dias, considerando pátios das fábricas e concessionárias, um terço do volume considerado normal para pronta entrega.

Trata-se do menor nível histórico desde 1999, quando esse indicador se tornou conhecido. Outro problema é que a indústria tem que continuar a exportar para não perder clientes no exterior. Isso explica o aumento de 43% nas vendas externas nos oito primeiros meses deste ano frente a igual período de 2020.

Os problemas tendem a se agravar até o final de 2021. As previsões apontam para uma queda de produção entre 240 mil e 280 mil unidades, cerca do dobro do que já foi perdido no primeiro semestre. Alternativa é procurar o mercado de usados. Como muitos fizeram essa escolha, as vendas subiram nada menos de 47% em relação ao período de janeiro a agosto do ano passado. O resultado foi uma valorização rápida nos preços, em especial dos seminovos (com até três anos de uso).

Outra tendência, que já antecipei, pode estar em curso. Modelos de entrada devem ganhar espaço adiante, apesar de fabricantes alegarem interesse baixo dos compradores. Estes estariam exigindo só modelos completos e recheados de eletrônica de bordo. O mercado, de fato, valoriza esses itens. Mas também há aqueles que ainda querem um modelo novo, mesmo menos equipado, como alternativa ao seminovo.

Ricardo Bacellar, da consultoria KPMG, em entrevista recente à Autodata, comentou que eliminar do portfólio o carro novo de entrada pode não ser a melhor estratégia.

"O consumidor quer comprar, mas está com dificuldades. Poucas empresas oferecem modelos menos equipados. Sem opções, ele acaba optando por migrar para o segmento de seminovos", observou.

Accord agora é híbrido avançado

Honda Accord Híbrido - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A solução híbrida deveria ter avançado muito mais, nesses tempos em que a tração elétrica ainda precisa evoluir bastante em preço e suporte de infraestrutura.

A Honda, no entanto, conseguiu dar um bom passo à frente com a tecnologia que batizou como e-HEV, só agora disponível no Brasil. O Accord Híbrido, por exemplo, vem em versão única dos EUA por R$ 299.900. Motor 2-litros entrega 145 cv e o elétrico, 184 cv. Potência combinada (não divulgada aqui) é de 215 cv, um pouco baixa para os 1.530 kg.

Alcance no modo puramente elétrico (tratando o pedal do acelerador com suavidade) não chega a dois quilômetros, mas, em outros híbridos convencionais, nem chega a isso. Economia de combustível em cidade é sua grande vantagem. Na avaliação, o computador de bordo chegou a apontar quase 17 km/l de gasolina. Em autoestrada, apesar de trechos congestionados e, quando possível a 120 km/h, o consumo de gasolina se aproximou de 19 km/l.

No modo Engine Drive o motor a combustão acopla-se de modo direto às rodas dianteiras. Nos modos híbrido e elétrico o 2-litros turbo atua apenas como gerador para recarregar a pequena bateria de tração. É possível também usar as borboletas atrás do volante para ampliar o efeito regenerativo nas desacelerações.

ALTA RODA

+ Reduzir a carga tributária para carros elétricos e híbridos é o mínimo que o Brasil pode fazer para aliviar um pouco a alta diferença de custos. Em nível federal, há isenção de imposto de importação e pequeno estímulo no IPI. O que de fato surpreende é o ICMS ser maior em São Paulo, que "esqueceu" até da substituição tributária do tributo estadual nesse caso. Accord Híbrido, por exemplo, custa no Estado mais rico da federação R$ 310.990 (R$ 11 mil a mais). Sensibilidade zero e fúria arrecadatória de mãos dadas.

+ Nova Ford Ranger tem aparecido disfarçada em publicações no exterior, mas sua produção só começará na Argentina em 2023. Para sustentar o interesse no modelo atual, a Ford lança edições especiais como a recente Black Edition, focada no público urbano. Apenas com tração 4x2, é 200 kg mais leve que a Ranger Storm (4x4). Esta entrega potência 40 cv maior, desempenho melhor e preço superior. Porém, em uso predominantemente urbano, a Black Edition não decepciona e custa R$ 32 mil a menos.

+ Chile lançou a pedra fundamental de uma usina de produção de combustíveis sintéticos limpos (e-fuel, em inglês) para motores a combustão interna. Utiliza energia eólica, água do mar e apenas o ar atmosférico para produzir combustível líquido de pegada de carbono 90% menor. Iniciativa da Porsche com apoio da Siemens e dos governos alemão e chileno. Já em 2022, serão 130 mil litros e 550 milhões, em 2026. Como o 911 não terá versão elétrica (apenas híbrida), poderá ser abastecido com este e-fuel.