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'Julho das Pretas': atividades no mês celebram a força da mulher negra

Colunista do UOL

28/07/2020 04h00

No dia 25 de julho é comemorado o dia Internacional da Mulher Afro-Latino Americana e Caribenha. A data é inspirada no "1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe", que ocorreu na República Dominicana em 1992. No Brasil somente, 22 anos depois, a data é instituída pela Lei 12.987, de 2014 e nomeada como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

A homenagem a Tereza de Benguela é uma forma de criar um símbolo de resistência da luta das mulheres negras na história do Brasil. Mulheres negras guerreiras, como Luiza Mahin, Maria Felipa, Dandara dos Palmares, Aqualtune, entre tantas outras que foram fundamentais nas lutas por libertação do povo preto, no entanto, são apagadas e invisibilizadas na história.

Por isso, na Bahia, o "Julho das Pretas", idealizado pelo Instituto Odara e construído em coletivo com outras organizações de mulheres negras da Bahia e do nordeste, reúne todos os anos uma gama de atividades conjuntas que distribui uma agenda ocupando todo o mês de julho, conectando redes de mulheres negras, com objetivo se estratégias politicas de fortalecimento e projeção das lutas das mulheres negras e sua comunidade - através de debates, palestras, oficinas, passeatas e atividades artísticas em diversos locais.

Este ano o "Julho das Pretas", que tem como tema "Em defesa das vidas negras, pelo bem viver", contará 257 atividades. Em função da pandemia de coronavírus, em respeito ao isolamento social, se fez necessário a readequação do eventos através das rede online, o que consequentemente possibilitou maior alcance, alastrando suas atividades para todo Nordeste e para estados como Pará, Paraná, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, que levaram essa agenda até dia 18 de agosto.

Além da agenda do Julho das Pretas, outras agendas e movimentos constroem atividades online para mobilizar a sociedade e levantar também a potencialidade de mulheres negras. Um exemplo é o Café das Pretas, um coletivo de mulheres no Recôncavo baiano que vem promovendo encontros através das lives via Instagram ( @_cafedaspretas), nas manhãs de domingo.

Os encontros convidam mulheres negras mais velhas, lideranças quilombolas, benzedeiras, rezadeiras, mães que contam sua trajetória compartilhando estratégias de sobrevivência, através dos relatos de enfrentamentos as opressões vivenciadas em "sua época", compartilham formas de autocuidado, medicina preventiva natural através das plantas, falam sobre auto-estima, autonomia, coletividade entre outros milhares de conhecimentos e atravessamentos concretos e subjetivos das suas vivência que são por vezes comum a grande parcela das mulheres negras.

São múltiplos os movimento das mulheres negras em prol da equidade de gênero, raça e classe, pois nossas lutas caminham juntas para romper com toda prática que ameace não só nossa existência e a dos nossos, mas de todos valores culturais, intelectuais, ancestrais do povo preto. Podemos estar na base da pirâmide das hierarquias, mas não nos manteremos nela.

Numa população que, segundo o IBGE, é 54% compostas por negras e negros e 51,8% feminina, e apesar do impulso deste novo formato de comunicação que permite romper as fronteiras, ainda nos esbarramos com a invisibilidade desta data.

Ser mulher em um país machista, que subjuga, subalternizar, sexualiza e violenta as mulheres. E negra, num país onde o racismo é estruturante das hierarquias de poder. E pobre num sistema capitalista, que centraliza e amplia a riquezas nas domínio de um grupo racial e economicamente já privilegiado, que permanecem incessantemente na busca por mais poder para manter a soberania e o controle sobre os demais, é um desafio diário.

Com isso, o dia 25 de julho é uma data para celebrar nossas guerreiras, celebrar as avós, bisavós, mães, tias, filhas e todas mulheres pretas que seguem guerreado na continuidade da luta de nossas antepassadas. É uma data que nos recorda a nossa responsabilidade de reescrever as histórias e colocar as mulheres negras nelas, não só as que já foram esquecidas, mas também a nós, e as que vieram antes, as nos ensinaram e o que nunca podemos esquecer.

"Você é negra, siga em frente sempre minha filha, não precisa ser de nariz em pé, mas sempre de cabeça erguida, não desista"
(SANTANA, Margarida / minha mãe
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