
Centenas de equipamentos, mixagem ao vivo e estrutura de megashow. O Desfile das Escolas de Samba de São Paulo tem cara de festival, mas não se equipara a nenhum evento do gênero quando o assunto é áudio. A operação para sonorizar o Anhembi de ponta a ponta, sem atrapalhar o samba tocado ao vivo, é tão grande e complexa que a organização apelidou a central de controle de Nasa.
Como funciona a 'Nasa' do samba
Do recuo da bateria, numa sala escondida, o engenheiro de som Armando Baldassarra, conhecido como Tuka, e o técnico de áudio Rodrigo Pimentel comandam o sistema da avenida. O trabalho vai desde o esquenta para o desfile, 15 minutos antes de os portões se abrirem, até a finalização.
"Não tem nada parecido com o Carnaval de São Paulo", afirma Pimentel sobre a operação que comanda. Além das 58 caixas de som espalhadas por 530 metros de pista, ele conta, o "palco" é móvel e as escolas, com projetos diferentes de áudio, estão em competição.
Tuka trabalha com Carnaval há mais de 25 anos. Ele explica porque foi necessária a criação da "Nasa do samba": "É um projeto que veio sendo desenvolvido da necessidade que existia de sonorizar a pista, o retorno dos intérpretes, a bateria e, ao mesmo tempo, as arquibancadas. E é um projeto que vem evoluindo a cada ano com implementações tecnológicas".

O apelido da sala se devido à complexidade do que acontece ali. "Essa central tem o apelido de Nasa porque 16 anos atrás não se fazia uma estrutura desse porte para o Carnaval. Como era uma coisa inusitada e tinha muitos equipamentos, como tem hoje, então deu-se o apelido. E ficou".
A quantidade de equipamentos exata é incerta. "São centenas de equipamentos maiores, menores, de áudio... tem alguma coisa de vídeo, streaming. Nós temos o estúdio da Globo aqui do lado, que também é montado e gerenciado por nós e operado por eles. Então tem muito equipamento".
A estrutura da Nasa do Anhembi não pode ser comparada com a de festivais de música. "É muito diferente. A estrutura de um sistema de festival, de um Rock in Rio, ela tem um formato de show, um formato estático. A estrutura aqui é para atender vários artistas, que são os sambistas, os intérpretes, a escola como um todo. [E todo] esse palco anda, é um palco móvel".
A engenharia e ciência envolvida
É nessa estrutura onde é feita a mixagem para o que a pista e as arquibancadas escutam. "O sinal chega lá no caminhão [que acompanha os intérpretes]. Então todos os sinais individualmente chegam lá. São oito canais de voz, doze de bateria e tem mais alguns stand-by — canais reservas para o caso de falhas", explica Pimentel.
O trabalho é ininterrupto. Ao todo, são 53 torres na avenida em que o sinal é captado para enfim ser retransmitido da concentração à dispersão: "Existem automações acontecendo ali, de acordo com a posição do carro. São diferentes cenários. A gente tem, por exemplo, 53 torres [com caixas de som]. Ou seja, tem 53 situações acontecendo de acordo com a movimentação dos carros".
Todos sinais recebidos dos caminhões que atravessam a Avenida são mixados para as mais diferentes mídias atendidas. "São as rádios, o YouTube da própria Liga, e tem mais uma mesa (...) que também recebe todos os sinais abertos e faz a mixagem para a emissora que transmite o Carnaval".

Tudo é feito para que a arquibancada não fique sem som em momento algum. Para isso, conceitos da física são usados. "[Precisamos] fazer isso porque seriam tempos de som diferentes, o som viaja eletricamente a uma velocidade e viaja acusticamente a outra velocidade. Fazemos um ajuste de tempo para que eles fiquem convergentes."
Há na equipe um entendimento do trabalho ininterrupto que não pode prejudicar alguma escola. "Diferente de qualquer festival do mundo, aqui é uma competição. Um vai ganhar e, infelizmente, outros não irão ganhar. Então nós fazemos parte dessa competição, mesmo que indiretamente."
A gente tem o tempo todo que se precaver para garantir que todo mundo tenha a mesma condição de participar do que eles esperaram aí, do que eles prepararam o ano inteiro. Rodrigo Pimentel, sambista e técnico de som
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.