Campeã do Rio sai nesta quarta; Grande Rio e Beija-Flor chegam favoritas

O Carnaval do Rio de Janeiro vai conhecer na tarde desta quarta, a partir das 16h, a escola de samba campeã de 2025. Beija-Flor e Grande Rio chegam como favoritas ao título, que também tem Salgueiro e Imperatriz (Veja abaixo).
Vale lembrar que este é o primeiro Carnaval dividido em três noites de desfiles. Em vez se seis escolas em dois dias, agora foram quatro cortejos em cada uma das madrugadas de Sapucaí.
O modelo de julgamento teve novidades para este ano. A principal tem a ver com os módulos de jurados. Até 2024, eram três deles. Agora, são quatro: um para cada avaliador dos nove quesitos. Eles ficam nos setores 3, 6, 9 e 10.
Como as escolas de samba param para se apresentar em cada cabine, foi preciso adaptar a evolução para a exibição extra. A mudança influência diretamente outros quesitos, como harmonia, mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente e bateria.
Outra alteração importante foi o fim da nota comparativa. Antes, os jurados faziam anotações ao longo das madrugadas, mas somente registravam as notas após a apresentação da última agremiação. Havia um entendimento de que esse método favorecia as escolas que encerravam o Carnaval — a segunda noite, historicamente, tem mais campeonatos do que o domingo. Agora, a pontuação de cada escola é registrada após o término do desfile.
Quesito a quesito
São 36 jurados, quatro para cada um dos nove quesitos: Alegorias e Adereços, Bateria, Comissão de Frente, Enredo, Evolução, Fantasias, Harmonia, Mestre-sala e Porta-bandeira e Samba-enredo. A menor nota em cada um deles é descartada.
A ordem de leitura dos quesitos será definida no início da tarde, em sorteio realizado pela Liesa — entidade que organiza os desfiles do Grupo Especial. O critério de desempate acontece na ordem inversa. Ou seja, o último quesito apurado é o primeiro de desempate. E assim por diante.
As seis primeiras colocadas voltam à Marquês de Sapucaí no sábado (8). A última colocada é rebaixada para a Série Ouro.
Unidos de Padre Miguel
A Unidos de Padre Miguel contou a história do mais antigo templo afro-brasileiro em atividade no Brasil, que completa 200 anos em 2025. O enredo "Egbé Iya Nassô" prestou homenagem a Iyá Nassô, ialorixá que fundou o Terreiro da Casa Branca, no Engenho Velho, fundado em 1830 em Salvador.
O abre-alas teve um problema logo no início do desfile, e alguns componentes precisaram descer. Algumas fantasias se desmontaram conforme a escola avançava. O som da avenida também oscilou no início, o que logo foi corrigido.
A UPM voltou ao Grupo Especial depois de 53 anos. O carnavalesco veterano Alexandre Louzada comandou o desfile ao lado de Lucas Milato, 27, que estreou na elite após conduzir o boi vermelho ao título da Série Ouro. Veja fotos da Unidos de Padre Miguel.

Imperatriz Leopoldinense
A Imperatriz apresentou o enredo "Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón". A escola conta um dos itãs (contos iorubás) mais conhecidos do candomblé, sobre o a visita de Oxalá ao reino de Oyó, governado por Xangô. O caminho é atribulado, marcado por dificuldades que resultam em uma prisão injusta, revertida pela orixá da Justiça.
O desfile foi marcado pelas comemorações do primeiro Oscar do Brasil. O anúncio da categoria de melhor filme internacional aconteceu enquanto a Imperatriz atravessava a avenida, provocando uma onda de comemorações na arquibancada e nos camarotes.

Com um desfile "redondo", a Imperatriz passou pelo portão no tempo regulamentar. A apresentação começou e terminou em tons brancos, sendo a última alegoria uma grande coroa, símbolo do orixá da justiça e da escola. Veja fotos da Imperatriz Leopoldinense.
Unidos do Viradouro
A Viradouro homenageou o líder do Quilombo do Catucá, em Pernambuco. A escola apresentou o samba-enredo "Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos".

O desfile mostrou a jornada de Malunguinho pelas matas ao lado dos povos indígenas. Em tons de vermelho, verde e dourado, a escola de Niterói apostou em alegorias grandiosas e efeitos especiais, com fogo e chapéus voadores, para contar a trajetória do quilombola que se tornou uma cultuada entidade afro-indígena.
A escola, porém, enfrentou uma série de contratempos na avenida, como as fantasias de alguns membros da escola se desfizeram durante o desfile. Também houve problemas de evolução, com paradas mais longas que o comum. Veja fotos da Viradouro.
Estação Primeira de Mangueira
A Mangueira abordou a importância dos povos bantus na formação cultural da cidade do Rio de Janeiro. A escola apresentou o samba-enredo "À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões".
Mangueira apostou em tecnologia. Drones de pipas voaram na avenida na comissão de frente enquanto integrantes mandavam "passinhos" em cima da alegoria. No total, foram usados sete drones, cada um com um piloto treinado pela verde e rosa.

A última alegoria, uma grande escultura de uma criança coroada, trouxe a ministra Anielle Franco e o motociclista Thiago Gonçalves. Thiago foi preso e liberado na última semana depois de ser acusado de roubo. Ele e o estudante Igor Melo, estampado em uma camiseta, foram alvejados por um PM reformado — ele se recupera em casa após ser atingido.
A escola precisou acelerar para fechar o desfile. A escola deixou a avenida faltando pouco mais de um minuto para o fim do tempo regulamentar e pecou na evolução. Veja fotos da Mangueira.
Unidos da Tijuca
A Unidos da Tijuca abriu a segunda noite com o enredo "Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita", o primeiro da escola 100% dedicado a um orixá. A entidade escolhida tem as mesmas cores da agremiação e é representada pelo pavão, que também é símbolo da escola do Borel.

A escola fez um desfile luxuoso e colorido, sem grandes contratempos. Veja fotos da Unidos da Tijuca.
Beija-Flor
A escola de Nilópolis homenageou Laíla, ícone do Carnaval carioca. O diretor, que esteve à frente da escola em 13 de seus 14 títulos, morreu em 2021 de covid.
A Beija-Flor revisitou a infância de Laíla, reverenciou sua devoção aos orixás e sua trajetória na agremiação. Toda a família dele participou do desfile.

O desfile foi marcado pela despedida de Neguinho da Beija-Flor, que se aposenta dos vocais da escola. Ao UOL, ele disse que não está se aposentando da avenida, apenas do carro de som. As arquibancadas aplaudiram e gritaram o nome de Neguinho, que ficou muito emocionado com o carinho do público.
Houve também uma referência ao famoso desfile "Ratos e Urubus, larguem minha fantasia" , de 1989. Na ocasião, a escola atravessou a avenida com um Cristo Redentor coberto por um plástico perto com os dizeres "mesmo proibido, olhar por nós". Neste ano, o Cristo trazia os dizeres "Do orun, olhai por nós". O orun é o mundo espiritual na língua iorubá.
Com um desfile "redondo" e sem adversidades, a Beija-Flor foi uma das favoritas da noite. Veja fotos da Beija-Flor.
Acadêmicos do Salgueiro
O Salgueiro exaltou os rituais de fechamento de corpo em diferentes culturas e religiões. A escola apresentou o enredo "Salgueiro de corpo fechado", trazendo patuás, amuletos, guias, ervas e outros elementos utilizados para proteção física e espiritual.

Em um desfile muito espiritual, o Salgueiro consultou Zé Pilintra, que fez um pedido especial. A entidade, considerada o espírito patrono dos bares, casas de jogo e sarjetas, pediu que o casal de mestre-sala e porta-bandeira, além de cumprirem sua função na avenida, desfilasse também no último carro. A escola atendeu e a alegoria veio com Sidclei Santos e Marcella Alves caracterizados como Zé Pilintra e pombagira. Veja fotos do Salgueiro.
Unidos de Vila Isabel
A Unidos de Vila Isabel apresentou o enredo "Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece". A escola fez um desfile com sustos e suspense para a avenida: o trem fantasma passeou por lendas e mistérios, como o bicho-papão, o lobo mau e vampiros.
A escola enfrentou várias falhas ao longo do desfile. O drone que carregava uma abóbora na comissão de frente caiu em frente à cabine dos jurados e um dos carros soltou fumaça na avenida por um problema do gerador.

O carnavalesco Paulo Barros foi vaiado na Sapucaí. Ele, que disse em entrevista à Folha que enredos com temas de origem afro são "todos iguais", se limitou a dizer que aquela era apenas sua opinião. "Eu simplesmente falei da minha preferência. E é isso", afirmou ao UOL.
Mocidade
A Mocidade abriu a última noite com o enredo "Voltando para o futuro, não há limites pra sonhar". A escola misturou passado, presente e futuro para mostrar que, independentemente do grau de evolução tecnológica, cabe ao homem o cuidar do meio onde vive.
A agremiação apostou em um desfile tecnológico com humanoides, cachorros-robôs e telões. O coreógrafo Marcelo Misaillidis contou ao UOL que a ideia era levar à avenida o gigantismo da inteligência artificial, mas com a mão do ser humano.

A escola levou ainda personagens como os Jetsons e os Flintstones para a avenida. Outros carros abordaram temas como os videogames, discos voadores e viagens espaciais.
A rainha de bateria Fabíola Andrade desfilou com a inicial do marido, o contraventor Rogério de Andrade, no peito. Rogério está detido no Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, desde 27 de outubro de 2024, réu pelo assassinato do bicheiro Fernando de Miranda Iggnácio, genro de Castor de Andrade, tio dele.

Outra homenageada da noite foi a carnavalesca Márcia Lage, que morreu em janeiro, aos 64 anos, vítima de leucemia. O carnavalesco Renato Lage desfilou usando uma camisa com a foto da mulher, que também desenvolveu o enredo, enquanto o puxador Zé Paulo Sierra usou um boné com o nome dela. A escola também balançou bandeiras com o rosto de Márcia ao longo da avenida.
Plasticamente, a Mocidade relembrou os célebres desfiles da verde e branco da década de 1990. Veja fotos da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Paraíso do Tuiuti
A Tuiuti veio em seguida com uma homenagem a Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil. Xica foi trazida do Congo, escravizada e executada em praça pública no Brasil. Hoje é um símbolo da luta da população trans e travesti.
O discurso no esquenta foi feito pela deputada federal Erika Hilton, que veio na comissão de frente da escola. Foi o primeiro discurso neste Carnaval feito por alguém que não é da direção da escola. "O país que ainda mata mulheres como Xica Manicongo terá de ver sua história sendo contada", disse.

Além de Erika, o desfile contou com outras lideranças e representantes da comunidade travesti e trans. A deputada federal Duda Salabert, a vereadora de São Paulo Amanda Paschoal, a deputada estadual do Rio Dani Balbi e a cantora Pepita, entre outras, estavam presentes no desfile.
O tripé pede-passagem da Tuiuti retratou o "Exu Maioral". Na Quimbanda, a entidade representa a união das forças opostas que se complementam, um ser andrógino com cabeça de bode, seios femininos e pés de boi. Outras alegorias da escola representaram o "pajubá", dialeto usado principalmente por mulheres trans e travestis, e o encontro de Xica com a espiritualidade e a cultura indígena.

A Tuiuti terminou o desfile no último minuto e pode perder pontos de evolução. A escola precisou correr para terminar dentro do tempo regulamentar, e fechou o desfile "no laço". Veja fotos da Paraíso do Tuiuti.
Grande Rio
A Grande Rio exaltou o Pará após receber um aporte de R$ 15 milhões do estado, ostentando o maior investimento da história do Carnaval. O samba "Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós" conta a história de três princesas turcas que, após desaparecerem de sua terra, se "encantaram" no Pará e se tornaram entidades cultuadas pela cultura local.

O desfile foi marcado pela despedida da rainha de bateria Paolla Oliveira, que se aposenta da função neste ano. A atriz, muito aplaudida pelo público nas arquibancadas, veio representando a lua.
A Grande Rio, como de costume, trouxe várias celebridades entre seus integrantes. Dona Onete, Fafá de Belém, as ex-BBBs Alane e Isabelle Nogueira, Patricia Poeta, Dira Paes, Xamã, Mileide Mihaile e Mulher Melão foram alguns dos famosos que atravessaram a avenida.

A Grande Rio apresentou um desfile luxuoso e colorido, fechando os portões no tempo regulamentar. Veja fotos da Grande Rio.
Portela
A Portela homenageou Milton Nascimento no desfile que fechou o Carnaval carioca. A escola apresentou o samba-enredo "Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol."
A azul e branco foi do subúrbio carioca a Três Pontas, em Minas Gerais, em busca do "rei sol", Milton, acompanhada de canções marcantes do músico. O esquenta da Portela foi ao som de "Maria, Maria", que empolgou o público na arquibancada.
Emocionado, Milton Nascimento veio no último carro da escola. O cantor disse que essa foi uma das maiores honras de sua carreira.

A Portela enfrentou algumas dificuldades técnicas e de evolução, abrindo buracos ao longo da avenida. A escola também teve problemas com o carro abre-alas e com a fantasia de um dos destaques. O desfile, no entanto, foi concluído dentro do tempo regulamentar, faltando dois minutos para o portão fechar. Veja fotos da Portela.

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