Portela escolhe artista do subúrbio para abrir desfile: 'Inacreditável'

"Inacreditável". É assim que Bea Machado, artista plástica do subúrbio do Rio de Janeiro, define sobre ser convidada pela Portela para levar sua arte para o abre-alas que encerra o Carnaval de 2025, na Marquês de Sapucaí. Oito telas foram produzidas num período de seis meses e seis delas estarão na primeira alegoria.
As obras retratam figuras lendárias da azul e branco como Tia Dodô, Clara Nunes e Candeia. E, claro, Milton Nascimento, o primeiro artista homenageado em vida pela escola de Oswaldo Cruz.
"Fico muito emocionada e feliz de ver o meu trabalho desfilando pela minha escola. Além da Portela, também desenvolvi um trabalho para a Império Serrano. Pintei Dona Ivone Lara. Estou bem feliz com os trabalhos nas escolas de Madureira porque, para mim, Madureira é centro cultural do Rio de Janeiro", diz a artista de 32 anos.
A centenária Portela tem o abre-alas mais tradicional do Carnaval do Rio de Janeiro, que traz a águia, simbolo da agremiação, todo ano de uma forma diferente que dialogue com o enredo. E diretamente de Madureira, neste ano, a escola se lança avenida adentro para fazer uma grande procissão em homenagem a Milton Nascimento. O convite para Bea partiu de André Rodrigues e Antônio Gonzaga, autores do enredo "Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol - Uma homenagem a Milton Nascimento".
"A gente convidou a Bea para essa ação no carro de abertura da escola por ela já trazer esse imaginário do subúrbio carioca, esse imaginário dos sambistas. A gente conhece e admira o trabalho dela e acha que é sempre importante dialogar com quem produz arte de qualidade", diz Antônio.
"Ela produz uma série de imagens sobre a mulher no mundo do samba e a partir daí que sai essa nossa ideia de fazer com ela outros retratos de portelenses ilustres, baluartes da escola", diz ele.
Nascida e criada em Bangu, na Zona Oeste a cerca de 30 km do Centro do Rio de Janeiro, a artista escolhe os subúrbios cariocas e seus modos de vida, festas, fé, lutas e lutos para expressar suas obras. Bea reconhece os holofotes que o Carnaval aponta para os subúrbios cariocas, mas afirma que a festa ainda é marcada por desigualdades.
"É sempre uma honra fazer parte e ter minha arte, meu trabalho, no maior espetáculo da Terra. Mas é importante reforçar que o Carnaval, seja de rua, seja na Sapucaí, só acontece porque muitas pessoas que moram nos subúrbios e nas periferias estão trabalhando. Não consigo romantizar e pensar em subúrbio vencendo por isso", diz ela.
Falta muita estrutura, oportunidade, condições de trabalho dignas e uma lista imensa para o subúrbio ter verdadeiras condições de vencer. Bea Machado
O match Portela e Bituca é um presente para a carreira e também para a vida pessoal da artista.
"Eu amo a Portela e, como se não fosse suficientemente gigante ser notada pela minha escola do coração para desenvolver um trabalho que está dentro da minha pesquisa artística, ainda tenho a oportunidade de fazer isso quando o enredo é um dos maiores nomes da música mundial. Milton Nascimento é gigante e sempre esteve presente na minha vida a partir das suas canções e da sua voz", conta ela.
Pelas mãos de Bea, com as bênçãos de Milton Nascimento, a águia que aponta "o caminho que vai dar no sol" estará rodeada de reforços para manter a Portela no topo do ranking de títulos do Carnaval do Rio e levar para Madureira seu 23º campeonato.
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