'Querido e pai exemplar': quem era folião morto ao defender amigo no Recife

Ler resumo da notícia
Um folião foi assassinado após defender um amigo durante discussão numa passagem subterrânea de pedestres da Avenida Sul, no Recife, logo após os desfiles do Galo da Madrugada. A família tenta agora superar a dor da perda e preservar a memória da vítima, procurando obter justiça.
"Família e pai exemplar"
João Amâncio Neto, 32, trabalhava como caldeireiro e era apaixonado pelo Carnaval. Nascido e criado no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, ele era conhecido por sua dedicação ao trabalho e à família.
Casado há mais de 12 anos, João era um pai presente e carinhoso para seus dois filhos, de 12 e 5 anos. Segundo o irmão, Deneval Amâncio, ele fazia questão de estar sempre perto da família e sonhava em dar uma vida melhor para os filhos. "Meu irmão era muito querido, um homem bom, um pai exemplar. Só queria se divertir e voltou para casa num caixão", afirmou
João pegou quatro horas de estrada no sábado, com amigos e familiares, para curtir o Galo da Madrugada. O grupo fretou um ônibus para sair do Cabo de Santo Agostinho ainda de madrugada e chegar cedo no Recife, onde passaram o dia acompanhando os desfiles.
Fantasiado de Fred Flintstone, ele celebrou a folia ao lado da esposa e dos amigos. Quando o evento terminou, o grupo seguiu para uma passagem subterrânea que liga a avenida Sul, onde ocorrem os desfiles, ao bairro da Cabanga, para pegar o ônibus de volta para casa.
No caminho, uma mulher esbarrou em David, um dos amigos de João, e começou uma discussão. Quando João tentou intervir perguntando "o que foi aí?", um homem que acompanhava a mulher sacou uma arma e atirou.
O tiro atingiu João no tórax e ele caiu no chão. O suspeito continuou andando e foi abordado por quatro policiais militares. Segundo Deneval, o homem se identificou e foi liberado no local. "Ele mostrou a carteira e os PMs deixaram ele ir embora. A gente gritou, implorou, mas ninguém fez nada." Deneval afirma que, ao questionar a liberação, foi agredido e jogado no chão pelos próprios policiais.
João foi socorrido pelos PMs, mas a família acredita que ele já estava morto ao chegar ao hospital. "Quando cheguei lá, só me chamaram para avisar que ele tinha morrido", disse Deneval.
O amigo, David, permanece internado no Hospital da Restauração, com um tiro alojado no queixo. Seu quadro clínico não foi divulgado pela unidade.
No velório, a família soube que o suspeito se apresentou à polícia, mas sua identidade não foi revelada. "Por que ele não foi preso em flagrante?", questiona Deneval. O caso está sob investigação da 1ª Delegacia de Homicídios.
A irmã da vítima fez um desabafo nas redes sociais cobrando justiça. "Meu irmão estava muito feliz e esbarrou sem querer na namorada desse policial. Isso não é motivo para morrer."
Os familiares exigem punição e respostas. "Queremos justiça. Quero que esse policial pague pelo que fez e saber por que os PMs liberaram ele depois do crime", completou Deneval.
O que dizem as autoridades
A Polícia Civil informou que o caso está sob investigação da 1ª Delegacia de Homicídios. Um inquérito foi instaurado e diligências seguem em andamento para esclarecer o crime.
A identidade do suspeito não foi divulgada, e as autoridades não explicaram por que ele foi liberado no local. A Polícia Militar e a Polícia Civil ainda não se pronunciaram sobre a abordagem feita pelos agentes.
A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco informou que as investigações seguem em andamento. "No momento mais informações não podem ser repassadas para não atrapalhar as diligências", comentou em nota.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.