Anhembi cobra R$ 600 mil para escolas de samba atravessarem estacionamento

A Prefeitura de São Paulo pagou R$ 600 mil à concessionária GL Events para que as escolas de samba que desfilam no Sambódromo do Anhembi possam se concentrar no estacionamento do local. O contrato de concessão prevê o uso gratuito da área de desfile, mas não do espaço do início da concentração. O valor pago em 2025 é 60% superior ao de 2024.

O que aconteceu?

Todo o Complexo do Anhembi foi concedido pela SPTuris (São Paulo Turismo) à GL Events em 2022. O contrato cita três equipamentos distintos dentro dele: o palácio das convenções, o pavilhão de exposições e o sambódromo.

O acordo prevê que, todo ano, a SPTuris tenha uso preferencial do sambódromo por 68 dias, incluindo os 50 dias anteriores à sexta-feira de Carnaval. Isso garante que os ensaios técnicos e desfiles aconteçam no local pelos 30 anos de concessão sem que a prefeitura tenha que pagar por isso.

Desfile da Mocidade no sambódromo do Anhembi
Desfile da Mocidade no sambódromo do Anhembi Imagem: Simon Plestenjak/UOL

O contrato não prevê, porém, a necessidade de as escolas de samba se "formarem" para chegar até o sambódromo, reunindo os componentes em alas que seguem em cortejo até a passarela. Esta etapa historicamente acontece no estacionamento descoberto entre o palácio de exposições do Anhembi e a avenida Olavo Fontoura.

A concentração fica dentro da área de concessão, mas não do espaço do qual a prefeitura, via SPTuris, tem utilização preferencial. A gestão municipal não tem, portanto, a garantia de que as escolas terão onde começar a se concentrar. Todo ano, precisa negociar com a GL.

De acordo com a prefeitura, o local é o "único na cidade" que pode abrigar a "formação das escolas", o que faz com que a contratação seja por inexigibilidade. Ou seja, sem concorrência. Só a concessionária pode alugar o espaço, e cabe a ela definir o preço.

Este ano, a SP Turis pediu para incluir no contrato a "antiga engenharia", uma área arborizada entre o estacionamento dos carros alegóricos na concentração e a marginal do rio Tietê, onde a concessionária promete um dia construir uma arena multiuso. De acordo com a GL Events, o terreno nunca havia sido alugado antes e, por isso, não havia sido precificado.

A concessionária, que cobrou R$ 360 mil só para ceder o estacionamento em 2024, desta vez pediu R$ 662 mil pelo pacote, incluindo o aluguel da "antiga engenharia" a partir de 5 de fevereiro. O contrato foi fechado em R$ 600.137,44 e só foi publicado na última terça-feira (25), data em que começou a valer a locação.

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A verba para o aluguel foi repassada pela prefeitura à SPTuris, que disse ao UOL que "a disponibilização de todo o equipamento para o Carnaval traria dificuldades de viabilidade e desequilíbrio financeiro da concessão."

"A SPTuris informa que os valores médios aplicáveis a cessões de espaço levam em consideração preços de mercado praticados no Distrito Anhembi", informou ainda a empresa municipal.

Já a GL Events afirmou que o contrato de concessão prevê a utilização preferencial durante 68 dias do carnaval para concentração, pista, arquibancadas e dispersão, mas que as demais áreas do complexo podem ser comercializadas pela concessionária. A empresa não explicou como calculou o valor da "antiga engenharia".

Durante o Carnaval, o pavilhão de exposições é transformado em estacionamento e a concessionária colocou à disposição 5.500 vagas este ano, que custarão R$ 80 por carro.

Procurada, a Liga SP, que organiza o carnaval, não respondeu as tentativas de contato.

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