Simpatia é quase amor faz desfile-protesto com enredo Carnaval sem Anistia

Carnaval e política se encontram no Simpatia é quase amor. Essa mistura é receita antiga e, no domingo (2), o bloco promete levar para as ruas de Ipanema, área nobre do Rio de Janeiro, um desfile-protesto: "Carnaval sem anistia". Assim, direto e reto, o bloco quarentão vai pedir punição para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, entre eles o agora indiciado pela Procuradoria Geral da República (PGR), ex-presidente Jair Bolsonaro.

O samba-enredo também faz menção ao filme "Ainda Estou Aqui" e, coincidentemente, o desfile do bloco será na manhã do mesmo domingo em que os olhos do Brasil estarão divididos entre a folia e a disputa inédita pelo Oscar.

"Tomara que seja um prenúncio. Acho que o Brasil merece, acho que o Rubens Paiva merece e acho que, sobretudo, a Eunice Paiva merece. Não dá para tolerar quem relativiza a democracia e a tortura. "A gente vai continuar mais 40, mais 80, mais 120, mais quantos anos forem, sem mudar de opinião em relação a isso", diz Tomaz Miranda, compositor do samba junto com Leandro Fregonesi.

Histórico politizado

A luta pela democracia vem de outros carnavais. O Simpatia foi criado após o movimento das Diretas Já, em 1984. Nascido numa mesa de bar, seus componentes eram militantes e intelectuais de esquerda, que ousaram defender seus direitos, em um país que se despedia do regime militar (1964-1985).

"Ele [o bloco] sempre foi politizado, sempre lutou pelas bandeiras da liberdade, da democracia e da resistência", conta Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, liga que representa alguns dos blocos de Carnaval mais tradicionais do Rio.

Para Rita, a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 indiciados pela PGR veio para corroborar o enredo do Simpatia.

"Foi uma feliz coincidência. Já havia uma perspectiva de que isso fosse acontecer. O Carnaval é reflexo daquilo que acontece na sociedade. Ele não poderia deixar de cantar essa temática no ano comum", diz ela.

Tomaz Miranda no Simpatia é quase Amor
Tomaz Miranda no Simpatia é quase Amor Imagem: Carnaval de Rua 2023 - Rio, 11/02/2023 - Bloco Simpatia é Quase Amor, me liga. Foto Fernando Maia/Riotur
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Da arte nasce um enredo

E como Carnaval não se faz sozinho, a agremiação convocou o carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense e da Unidos de Maricá, Leandro Viera, que assinou a arte da camisa dos componentes. Mas não só. Foi ideia de Vieira o tema do enredo do Simpatia em 2025.

"A gente não tinha estabelecido esse enredo, a gente chamou o Leandro para fazer e ele deu o mote. Foi ele que fez o Carnaval sem anistia. Ele é o carnavalesco-enredista do Simpatia em 2025", conta Tomaz.

Leandro defendeu que um bloco com histórico de militância não poderia ir às ruas com outro tema.

"É a primeira vez que o Simpatia tem um enredo, mas, na verdade, não é um enredo. Surgiu da intenção de fazer uma camisa que dialogasse com coisas urgentes do nosso tempo."

A arte da camisa do Simpatia é Quase Amor já passou pelas mãos de um timaço. Ziraldo, Rosa Magalhães, Fernando Pamplona, Vik Muniz, Adriana Varejão, Lan e outros já assinaram a arte. Em conversa com UOL, Leandro celebrou o convite.

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"Fiquei feliz da vida porque adoro Carnaval de rua e porque as camisas do Simpatia foram feitas por grandes nomes. Grandes artistas pensaram na camisa do Simpatia. Já trabalhei com tantas cores de escolas de samba, mas nunca tinha podido fazer nada que fosse amarelo e lilás", diz o carnavalesco.

De dia, folia. De noite, Oscar

O sucesso mundial do filme "Ainda estou aqui" é só a confirmação de que o enredo de 2025 reflete questões do momento. O bloco aposta na tradição e na alegria do povo de amarelo e lilás que enfeitam a orla para atrair os foliões e a burguesia de Ipanema, que é convocada em alto e bom som.

"Tenho muita admiração por essa luta e a gente se coloca junto nessas fileiras. O filme é uma das coisas mais importantes que aconteceram. Para lembrar, para denunciar e para que não aconteça de novo. O Simpatia continua exatamente misturando [política e Carnaval] porque a gente é isso. A gente nasceu disso", finaliza Tomaz.

Letra do samba:

"Carnaval sem Anistia"
Tomaz Miranda e Leandro Fregonesi

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Já faz mais
De 40 carnavais
Que eu canto com o povo
De amarelo e lilás
Eu venci
Ditadores e que tais
Capitão e generais
Eu sou o bicho
Nasci das Diretas
Fiz sorrir e enxuguei os prantos
Brincar o Carnaval
É meu ofício
Difícil é resistir aos meus encantos

Deixa o samba me levar que eu vou
Ver o pôr do sol no arpoador
Abro os braços pro meu Redentor
É tudo Quase Amor

Mais feliz do que pinto no lixo
Eu vou te contar um capricho
Eu sou desses que não mudaram
De lado e de opinião
Eu lutei pela democracia
E "Ainda Estou Aqui"
Muito prazer
Eu sou o Simpatia!

Sem anistia! Sem anistia!
Sem perder a ternura jamais
Quem sabe um dia...
Como eu queria
A fantasia de viver em paz!

Serviço

Simpatia é Quase Amor
Domingo, 2 de março, às 16h.
Praça General Osório, Ipanema.

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