Paulo Barros: 'Cansei de estar triste. Resgatei minha alegria no Carnaval'

Existe quase um consenso entre quem cobre Carnaval de que Paulo Barros é uma pessoa difícil de aturar. Ele mesmo admite não fazer esforço para agradar. Mas algo mudou. Aos 62 anos e com 30 de avenida, o carnavalesco garante: reencontrou o prazer pelo Carnaval.

Essa nova fase de vida está refletida não somente no olhar cuidadoso e na fala afável durante a entrevista para UOL como no desfile que prepara para a Vila Isabel. O enredo? Assombrações! Mas nada de clima soturno.

"É uma grande brincadeira, um trem fantasma para o público embarcar e se divertir", explica ele em seu escritório, na Cidade do Samba.

'Resgatei minha alegria de ir a ensaios'

Com quatro títulos só no Grupo Especial, o criador do icônico carro DNA, da Unidos da Tijuca, resume que seu atual desfile será pautado na alegria. "As pessoas pensam: 'Vai ser macabro', mas não tem nada disso. É leve, alegre, divertido. Fazem um pré-julgamento antes mesmo de ver."

Barros sabe o peso dos julgamentos — seja pelo temperamento ou pelo estilo high-tech do seu Carnaval. Também por isso, entrega, passou por um momento introspectivo, desanimado com a folia.

O que me encanta hoje é o que eu deixei de ter há alguns anos. Eu resgatei minha alegria de ir a ensaios técnicos. Nunca gostei dessa parte. Paulo Barros em entrevista a UOL

"Sempre fui de ficar no barracão. Não sou festeiro, não sou da noite. Mas esse ano, estou curtindo. Tenho ido aos ensaios, tenho enchido a cara — ilustrativamente falando —, e me misturado com o público", revela.

O gatilho para essa revolução foi voltando os olhos para si, conta ele, fazendo parecer um simples.

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"Foi olhar no espelho e falar: 'Porra, levanta, se alegra'. Foi isso. Porque às vezes a gente fica meio desanimado e triste, e a gente mesmo é culpado por isso. A gente põe na cabeça que a gente está numa situação", aponta.

"Eu cansei de estar triste. Porque eu nunca fui. Eu sempre fui carrancudo, sempre fui muito sério, eu sempre fui muito dedicado ao meu trabalho. As pessoas que me conhecem no barracão me respeitam, e eu respeito a todas elas. Quando eu tenho que dar um esporro, elas entendem que é uma coisa que agrega para o próprio trabalho."

Observado por funcionários que entravam e saíam da sala, Barros frisa que trata a todos de maneira igual e nem permite que batam em sua porta. Entra quem quiser, ele garante.

"Essa relação que eu tenho com o pessoal do barracão é de extrema amizade. Por que eu tenho que criar esse tipo de barreira? As pessoas que fazem essa imagem [de carrancudo]. É que a minha cara é feia mesmo. Eu tenho uma postura que as pessoas tomam como insuportável. Mas às vezes eu sou insuportável, sim."

"Esse é o Carnaval da minha vida"

A fase mais leve também trouxe a Barros a maturidade de não se preocupar em responder a qualquer ataque, incluindo nas redes sociais. "A internet dá voz a quem não tem. Eu não respondo porque estaria dando voz a quem não entende merda nenhuma. Não convive no barracão, não sabe os desafios."

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Ele também rechaça a ideia de que faz algo pensando na aceitação do público. "Eu não faço para agradar ninguém. Faço para encantar. Se eu apresento um carro e a pessoa fala 'que legal', eu sei que é uma merda. Se a reação é 'caralho', aí eu sei que acertei."

Barros diz sentir que esse será o maior desfile da vida, independentemente do resultado. E em termos de público também.

"O Carnaval passou por uma fase onde o jovem não se interessava tanto pela escola de samba. Mas de uns quatro, cinco anos para cá, essa juventude voltou. E não é só hype. Há uma nova geração chegando, e isso se reflete até na venda de ingressos, que esgotam rápido. A iluminação da Avenida trouxe mais glamour ao espetáculo e, graças a Deus, o Carnaval deu uma levantada. Porque, na minha opinião, ele estava morrendo."

Agora, ele vê um Carnaval revigorado — e um Paulo Barros também.

Esse é o Carnaval da minha vida, porque eu resgastei a alegria.

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