Bloco Mulheres Rodadas faz 10 anos: 'Recebemos cachê menor que o de homens'

Em 2014, um post machista viralizou no Facebook com a frase "eu não mereço mulheres rodadas". A resposta veio direto das ruas do Rio de Janeiro: o surgimento do bloco Mulheres Rodadas, um protesto irreverente contra o machismo no Carnaval — uma festa que não existiria se não fosse o protagonismo feminino.

Dez anos depois, o bloco, que sai na Quarta-Feira de Cinzas, às 8h, do Largo do Machado, não só cresceu como também escancarou desafios que ainda persistem.

Demos voz ao debate sobre assédio, por exemplo. Mas ainda falta muito quando se trata de liderança e gestão. Queremos essa festa cada vez mais na mão de mulheres Renata Rodrigues, cofundadora do bloco

Carnaval ainda tem barreiras

Apesar da presença feminina crescente no Carnaval, os obstáculos seguem firmes. A falta de incentivos financeiros e de infraestrutura dificulta a participação das mulheres na música e na gestão dos blocos.

O Rio de Janeiro se vende como a cidade do Carnaval, mas não oferece estrutura para ensaios. Tudo é pago e caro. A única praça disponível ficou sem segurança e sem luz. E aí, quem tem mais medo nessa situação?

Os desafios financeiros também são um entrave. Editais públicos para blocos são raros e os valores, baixos. A falta de patrocínios piora a equação. "Nos mantemos com recursos próprios, mas isso limita quem pode estar ali, porque tudo se torna caro", diz.

Desigualdade no cachê: um problema real

Mesmo quando conseguem espaço nos eventos, blocos liderados por mulheres ainda enfrentam desigualdade.

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"Queremos que a iniciativa privada contrate blocos femininos pagando igualmente. Uma vez tocamos num evento e recebemos cachê menor que um grupo de homens", denuncia Renata.

A desvalorização não acontece apenas no cachê. Segundo a organizadora, as mulheres ainda encontram resistência para assumir posições de liderança no meio musical. "Não falta interesse. Mas professores e gestores dos grupos ainda são, em sua maioria, homens", aponta.

A diferença também aparece nos instrumentos. "Os de sopro, por exemplo, são mais caros, exigem mais tempo de estudo. Não é coincidência que haja menos mulheres tocando", explica.

Maternidade e violência

Outro fator pouco debatido no meio carnavalesco é a maternidade. "Não há incentivo para que mulheres ocupem cargos de liderança. Não há debate ou preocupação sobre como a maternidade impede ou dificulta o acesso", observa Renata.

A violência de gênero também está no caminho. O Mulheres Rodadas perdeu uma integrante vítima de feminicídio. Além disso, a insegurança dos espaços públicos impacta diretamente a participação feminina no Carnaval.

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Perspectivas: ainda há esperança?

O protagonismo das mulheres na folia depende de mudanças estruturais, mas, até agora, falta iniciativa do poder público e dos festivais.

"Não vejo preocupação com isso. E não conheço nenhuma iniciativa que esteja tentando mudar essa realidade", finaliza Renata.

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