Conteúdo publicado há 26 dias

Estreante na Mangueira, Sidnei França define enredo: 'Resistência'

Sidnei França, 48 anos, está prestes a viver um marco em sua carreira: a estreia como carnavalesco da Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais e amadas do país. Natural da zona norte de São Paulo, ele compartilha suas emoções, desafios e a responsabilidade de levar para a Sapucaí um profundo debate sobre identidade, resistência e ancestralidade, com o enredo "À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões"

"A minha conexão com esse samba vem de uma identidade preta? Eu sou um jovem periférico de família preta da zona norte de São Paulo", conta ele, um dos maiores campeões do carnaval paulistano, com quatro títulos pela Mocidade Alegre (2009, 2012, 2013 e 2014), e um pela Águia de Ouro (2020).

França destaca que o samba-enredo vai além da festa e da folia: "Ele fala muito comigo no lugar da identidade, do pertencimento de uma cultura que, além de preta, é muito ligada às questões de marginalização e polarização socioeconômica que o Brasil infelizmente pratica."

Para o pesquisador, o enredo é também uma forma de resistência. "Quando você fala que 'a figura do cria é o alvo que a bala insiste em achar, lamento informar: é um sobrevivente', é bonito, é triste, mas é sinônimo de resistência", reflete.

Carnaval no sangue: da ala das crianças à Mangueira

O artista não exagera ao dizer que nasceu dentro do Carnaval. "Minha mãe era passista em uma escola de samba de São Paulo (Mocidade Alegre) e ficou grávida de mim ainda adolescente. Quando eu nasci, ela tinha 16 anos e me levava no colo para a escola", relembra.

Aos 7, ele já desfilava na ala das crianças e, desde então, nunca mais parou. "Fui passista, integrei o departamento cultural e, em 2008, assinei meu primeiro Carnaval como carnavalesco. Agora, estou indo para o meu 16º na função", orgulha-se.

Desafios de um paulista na Mangueira

Mudar de São Paulo para o Rio de Janeiro e assumir o comando de uma escola como a Mangueira não foi uma tarefa simples para França. "O desafio é entender como funciona o Carnaval do Rio, que tem outra identidade. Em São Paulo, o Carnaval é um grande evento, como a Parada Gay ou a Fórmula 1. Já no Rio, é cultura popular", explica.

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Sidnei destaca que a Mangueira é um "termômetro do Carnaval carioca". "Aqui, o trabalho não é só para performar na pista ou tirar nota 10. Na Mangueira, você aprende que tem que ser mangueirense e sambista para além de profissional. Não é sobre ganhar. É sobre pertencer a uma identidade verde e rosa que é maior que todos nós", reflete.

Ele ressalta a importância de honrar o legado da escola, que está próxima de completar 100 anos.

"A Mangueira está chegando ao centenário, e nossa missão é honrar o passado e garantir que as próximas gerações tenham um elo com essa história."

E reforça a importância de preservar a identidade da escola para as próximas gerações. "Se não tivermos a responsabilidade de romper com a identidade da Mangueira, não vamos propiciar para os jovens o elo com o passado. Somos parte dessa corrente que liga o passado ao futuro."

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