Ícone do Carnaval, Laíla ganha homenagem da Beija-Flor: 'Baluarte do samba'

Quando entrar na Sapucaí na noite de segunda-feira (3), a azul e branca de Nilópolis fará do desfile um ato de saudade e celebração. No ano que marca a aposentadoria de Neguinho da Beija-Flor, a escola presta homenagem a Laíla, um dos maiores nomes da história da agremiação, que morreu em 2021, vítima de covid-19.

Foi o contraventor Anísio Abraão David quem levou, nos anos 1970, o cria do Salgueiro para a Beija-Flor, junto a Joãosinho Trinta. Junta, a dupla revolucionou o Carnaval e levou a escola a uma sequência de três campeonatos — além de muitos outros títulos.

"O Laíla foi um baluarte do samba. Veio do Salgueiro, dedicou-se à Beija-Flor e fincou raízes ali", resume ele, que é presidente de honra da escola.

A homenagem tomou um rumo inesperado na preparação do desfile. A escola chegou a contratar um ator para interpretar Laíla na Avenida, mas a semelhança de um dos compositores do samba-enredo foi tão impressionante que a escolha foi natural: Serginho Aguiar assumiu o papel.

O compositor da Beija-Flor Serginho Aguiar caracterizado como Laíla
O compositor da Beija-Flor Serginho Aguiar caracterizado como Laíla Imagem: Instagram/beijafloroficial

Ao UOL, Aguiar relembra a amizade com Laíla, marcada por encontros regados a peixe e boas conversas. No entanto, hesitou em aceitar a caracterização.

"Não aceitei de primeira, não me acho parecido. E eu não sou ator, sou compositor. Mas agora estou aqui", emociona-se ele, que assina a letra do samba junto com Romulo Massacesi, Junior Trindade, Ailson Picanço, Gladiador e Felipe Sena.

O legado de Laíla na Beija-Flor também se reflete na bateria. Foi ele quem trouxe o mestre Rodney para a escola há 27 anos, confiando-lhe anos depois o comando da Soberana.

"Esse samba vai ficar marcado. Ele tem uma feitura e uma beleza impressionantes. Tem sentimento", afirma o comandante da bateria.

Continua após a publicidade

Emoção que atravessa gerações

Luiz Cláudio, filho de Laíla, conta que o neto — bisneto do homenageado — sentiu a força do enredo logo no primeiro contato.

"Ele ouviu o samba pela primeira vez, aos 9 anos, e disse: 'Esse samba é meu avô'."

Luiz, que já atuou como harmonia na escola e chegou a ser braço direito do pai, estava afastado do Carnaval havia sete anos. Decidiu voltar justamente para a homenagem e para apresentar o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Selminha Sorriso e Claudinho.

"Por um tempo, me afastei. Minha filha me incentivou a voltar. E, logo depois, fui contemplado com o enredo dele. Aceitamos porque é um legado. Ele respirava Carnaval", descreve ele.

Diziam que era carrancudo, mas isso é lenda. Tinha um coração maravilhoso. Luiz Claudio, filho de Laíla

Continua após a publicidade

Selminha e Claudinho, um dos casais de mestre-sala e porta-bandeira mais premiados da história do Carnaval, também tiveram suas vidas transformadas por Laíla. O convite para integrarem a escola veio do diretor. Desde então, já são mais de três décadas defendendo o pavilhão nilopolitano.

"Foi um homem preto que venceu pelo talento, pela arte do samba. É uma inspiração, porque, mesmo sem ter estudado, sabia tanto que compartilhava. Mesmo que esteja no plano espiritual, ele vai receber amor e gratidão", emociona-se Selminha.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.