Ela assumiu o comando de escola de samba aos 20 e foi campeã: 'Duvidaram'
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Aos 20 anos, a estudante Lara Mara já entrou para a história do samba carioca. Em seu primeiro ano como diretora de Carnaval da Unidos de Padre Miguel, ela levou a escola ao título da Série Ouro, garantindo o acesso ao Grupo Especial em 2025. Criada dentro da agremiação, ela rompe barreiras em um ambiente majoritariamente masculino e inspira uma nova geração de mulheres a ocuparem espaços de liderança no samba.
Uma trajetória escrita no samba
Desde o berço, o destino de Lara parecia traçado. Filha de Vanessa e Cícero Costa, nomes conhecidos no mundo do Carnaval e que comandaram a agremiação, ela foi levada à quadra da Unidos de Padre Miguel com apenas um mês e meio de vida. Cresceu respirando samba e passou por diversas funções na escola: integrou a ala infantil, aos 7, depois a das crianças, aos 12, foi destaque da alegoria e, aos 19, foi promovida à diretora de Carnaval. "Foi meu pai quem me colocou no samba. O caminho natural seria que eu me tornasse musa. Mas não, quis ser diretora", afirma.
A influência dos pais foi determinante em sua formação, mas Lara também se espelha em grandes lideranças femininas do Carnaval. "Para mim, a Cátia Drumond revolucionou a Imperatriz Leopoldinense. Ela não só transformou a escola, mas também abraçou a comunidade, e isso é exatamente o que eu quero fazer na Unidos de Padre Miguel. Tenho uma imensa gratidão por ela e também pela Solange, que, além de ser uma referência, me dá muita força. A forma como ela comanda a Mocidade Alegre, em São Paulo, mantendo um forte vínculo com a comunidade, também é algo que admiro e quero levar para a UPM. Os programas sociais da Cátia e o Instituto Imperatriz são inspirações para um sonho que desejo realizar no futuro para a nossa escola.
O desafio de ser jovem e mulher no comando
Assumir um cargo de liderança em uma escola de samba tão jovem e sendo mulher não foi fácil. "Muita gente duvidou da minha capacidade, mas nunca a minha comunidade. Eles me viram crescer, conhecem minha trajetória e confiam no meu trabalho, porque sabem do meu compromisso com a Unidos de Padre Miguel. As dúvidas vieram, principalmente, de quem está de fora, por eu ser filha de quem sou, por ser jovem e, sem dúvida, por ser mulher", revela.
Com a ascensão da Unidos de Padre Miguel ao Grupo Especial, a responsabilidade aumenta. "Essa conquista é coletiva. A UPM sempre esteve pronta para esse momento, e agora é hora de mostrar para o mundo a nossa força, a nossa identidade e a nossa história. Sei que há uma grande expectativa e que muitas pessoas duvidaram da nossa capacidade, mas seguimos confiantes, trabalhando com muita dedicação e respeito ao Carnaval. Vamos fazer um desfile inesquecível e mostrar que a UPM chegou para ficar no Grupo Especial", afirma, determinada.
Mulheres no Carnaval: luta por espaço
A presença feminina na liderança das escolas de samba ainda é pequena, algo que Lara deseja mudar. "É claro que eu tive a oportunidade através do meu pai, e não posso ser hipócrita ao negar isso, mas isso não diminui a importância de lutarmos por mais mulheres na liderança do Carnaval. Sinto falta de mais mulheres nesse universo, em cargos de comando e decisão. Nós temos uma sensibilidade e uma percepção que, muitas vezes, os homens não têm - e o Carnaval precisa disso", diz.
Entre o samba e o Direito
Além da direção de Carnaval, Lara cursa Direito, mas diz conseguir conciliar tudo com o apoio do pai. "Sei que, por enquanto, consigo administrar as duas coisas, mas também sei que pode chegar um momento em que precisarei fazer uma escolha", reflete.
O aprendizado acadêmico também tem influenciado sua gestão na escola. "O Direito me ensina muito sobre disciplina, algo essencial no Carnaval, principalmente na forma de lidar com pessoas", destaca. Ao mesmo tempo, ela vê no Carnaval uma escola de vida: "No Direito, nem sempre as coisas acontecem como a gente quer, e o Carnaval me ensinou a lidar com isso".
Visão de futuro
Para Lara, a nova geração tem um papel fundamental na evolução da festa. "Não é sobre revolucionar, mas atualizar, sem perder nossas origens e nossa essência", explica. Ela admira o trabalho de Gabriel David, presidente da Liesa, e de João Felipe Drumond, diretor executivo da Imperatriz, na modernização do Carnaval.
"Fico muito feliz quando dizem que sou parte dessa nova geração, porque estou realmente animada com o que essa geração está trazendo para o Carnaval. Não é sobre revolucionar, mas atualizar, sem perder nossas origens e nossa essência."
Mais do que uma festa, Lara defende que o Carnaval seja reconhecido como uma potência cultural e econômica. "Precisamos dar mais respeito ao artista do Carnaval, que infelizmente ainda não é devidamente reconhecido. O Carnaval do Rio de Janeiro tem que ser cada vez mais globalizado, para que as pessoas vejam que ele não é apenas uma festa, mas um movimento que gera economia e muda vidas, especialmente nas periferias", conclui.
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