Quitéria Chagas: racismo, luto e a volta ao Brasil pelo samba
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A entrevista por vídeo começa com um pequeno atraso, e Quitéria Chagas, 44, se desculpa. "É a correria do Carnaval", justifica. Mesmo após 25 anos de Avenida, a rainha do Império Serrano garante que cada desfile traz suas próprias peculiaridades.
"Agora, acrescentaram mais elementos, porque estou lançando minha autobiografia em fevereiro. Além disso, há um outro livro, em parceria com a historiadora Helena Teodoro, que conta não apenas a história do Carnaval, mas também das rainhas, um papel muitas vezes invisibilizado pela narrativa oficial", adianta.
Dificuldades na Europa
Quitéria abre o coração ao falar sobre o racismo que enfrentou na Europa, onde morou com o marido, o italiano Francesco Locati, e sobre a perda dele, vítima de um câncer. "Tive que enfrentar milhões de burocracias, machismo, racismo."
Após sete anos na Itália, ela voltou ao Brasil muito em função dos preconceitos que sofreu desde o início da relação.
Ser solteira, brasileira, preta e sambista é muita informação para eles. Quitéria Chagas sobre a vida na Itália
Até mesmo seu companheiro, um CEO, enfrentou questionamentos. "É atípico um homem branco e bem-sucedido assumir uma mulher preta como esposa. Normalmente, ele assume como amante. Quando assume."
Quando Francesco foi internado, Quitéria enfrentou mais uma batalha: "Você não consegue acesso aos serviços sem que o marido fale por você, mesmo em Milão. E a palavra 'acolhimento' eu acho que não existe no vocabulário italiano. Eu que dei acolhimento para o meu marido."
E detalha o que passou.
Lá, eles pegam o braço do paciente, injetam morfina e vão embora. O médico sabe que a pessoa vai falecer, mas não prepara a família. O diretor do hospital chegou a sugerir que meu marido morresse em casa. Ele morreu na minha frente, sem aparelhos. Deixam a pessoa agonizando, sem respirador, sem nada. Foi traumático.
"Eu tenho que melhorar"
De volta ao Brasil, Quitéria precisou encontrar forças para seguir em frente, equilibrando o luto com as responsabilidades diárias. "O luto é atropelado. Você não tem tempo para uma depressão profunda, que era o que eu queria. Porque, na verdade, você morre junto com a pessoa. Eu só queria chorar, mas tinha que levantar, resolver documento, funeral, crematório. Tive que levar minha filha para a escola. Eu queria ficar parada, sem pensar em nada."
Ela encontrou forças dentro de si para reagir. "Eu falei: 'Eu tenho que melhorar'. Fui ao salão fazer o cabelo. Eu estava morta por dentro, descabelada, suja. Mas fui aos poucos tentando virar a chave, passo a passo, até conseguir voltar ao Brasil."
Expor sua história em entrevistas a ajudou a encontrar acolhimento. "Quando viram meu relato, as pessoas se sensibilizaram. Me mandavam mensagens. Isso me fortaleceu."
Mas foi o Carnaval que resgatou a vontade de viver nela. "O samba foi me trazendo de volta. Quando fui à quadra do Império, eu só chorava. Eu conheci ele lá. As pessoas percebiam que eu não estava como antes. Mas fui acolhida."
História documentada
Agora, Quitéria quer garantir que a histórias como a dela sejam contadas. Com os livros, ela luta por visibilidade da mulher negra no Carnaval. "Não quero que minha filha passe pelos mesmos desafios que eu passei. O conhecimento é o que pode transformar a nossa história."
Principalmente na obra em que escreve com Helena, a rainha denuncia o apagamento histórico das personalidades negras na folia. "Tem gente que chegou ontem e já fez trilhões de coisas, enquanto quem está na base, como historiadores e personalidades negras, não é escutado", desabafa.
Ela também critica a exploração de personalidades que viveram a história do samba. "É desrespeitoso ligarem para esses idosos, pedirem que contem a história e não darem nada em troca. Enquanto isso, outros ganham fortunas", aponta. Para ela, é essencial valorizar quem construiu a festa.
As conquistas e os desafios que persistem
Mas Quitéria também vê avanços. "Quando entrei, as mulheres não tinham voz na imprensa, principalmente as pretas. Éramos reduzidas ao corpo, à imagem do cartão postal", relembra. Ela foi uma das vozes que lutaram pela lei que proibiu a exposição dos glúteos das mulheres nos cartões postais, uma conquista simbólica importante.
Hoje, celebra a maior presença de rainhas negras e a diversidade no Carnaval. "Agora há equidade. Temos personalidades brancas, pretas, o Carnaval está mais inclusivo", avalia.
No entanto, ressalta que ainda existem desigualdades. "As rainhas que estão na linha de frente, que vão aos ensaios todo fim de semana, não recebem salário. Gastam muito para se manter e não têm retorno financeiro", explica.
Ela também critica a falta de representatividade nas campanhas publicitárias. "Chamam sempre as mesmas rainhas, enquanto outras, com mais tempo de avenida, ficam de fora", pontua.
Após 25 anos de Carnaval, Quitéria finalmente estampou a capa de uma revista de grande circulação, mas reflete: "Só agora estou conseguindo espaço. Não quero ser a única. Lutei para abrir portas para as outras."
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Serviço
Quando: 8 de fevereiro (sábado), 12h
Onde: Allianz Parque (Av. Francisco Matarazzo, 1705 - Água Branca, São Paulo - SP)
Classificação etária: 16 anos
Mais informações: Instagram @carnauoloficial
Vendas: Eventim
Quanto:
Cadeira Superior - R$ 195 (estudante) / R$ 234 (social) / R$ 351 (pré-venda UOL) / R$ 390 (inteira)
Cadeira Inferior - R$ 295 (estudante) / R$ 354 (social) / R$ 531 (pré-venda UOL) / R$ 590 (inteira)
Pista - R$ 345 (estudante) / R$ 414 (social) / R$ 621 (pré-venda UOL) / R$ 690 (inteira)
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INCLUSO
Open Bar: cerveja, água mineral, refrigerante, whisky, gin, vodka, água tônica e energético.
Setor FRONT STAGE PAGBANK proibido para menores de 18 anos
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ALLIANZ PARQUE - BILHETERIA A
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Funcionamento: Terça a sábado das 10h às 17h
MORUMBIS - BILHETERIA 5
Endereço: Av. Giovanni Gronchi, 1866 - Próximo ao Portão 15 - Morumbi - São Paulo/SP
Funcionamento: Terça a sábado das 10h às 17h
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