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Barroca Zona Sul traz Zé Pelintra para derrubar estereótipos da Umbanda

Do UOL, em São Paulo

24/04/2022 05h00

A Barroca Zona Sul foi a quinta escola de samba a desfilar pelo grupo especial na segunda noite de São Paulo. A Verde e Rosa fundada em 1974, que escolheu suas cores em homenagem à Estação Primeira de Mangueira, levou para o Anhembi neste ano um samba com homenagem a Zé Pelintra, entidade da Umbanda conhecida como "advogado dos pobres e dos menos favorecidos".

A agremiação homenageia uma das entidades mais importantes dos cultos afro-brasileiros. O Zé Pelintra é normalmente invocado quando seus seguidores precisam de ajuda com questões domésticas ou financeiras. Na Umbanda, é um guia da linha do Povo da Malandragem, mas isso não tem relação com aspectos negativos.

Desta forma, o objetivo da Barroca é justamente despir a entidade de estereótipos negativos, com o samba-enredo "A Evolução Está na Sua Fé... Saravá Seu Zé".

O enredo adentrou a avenida no ano em que a Umbanda, religião proveniente do Rio de Janeiro, completa 114 anos. Mas a Barroca não é a única escola a trazer temas que envolvem religiões de matriz africana para o Carnaval. A Águia de Ouro, em SP, falou sobre Oxalá; já a Acadêmicos do Grande Rio usou o desfile para desmitificar Exu.

O início do desfile foi marcado por muita emoção por parte dos componentes da escola, que chegaram a cair no choro de felicidade enquanto viam a agremiação desfilar no Sambódromo do Anhembi. O desfile contou a história de Zé antes de ele se tornar o "defensor de fracos e oprimidos", de sua vida enquanto José Pereira dos Anjos, à sua posterior transformação em entidade.

A comissão de frente de Carlinhos de Jesus trouxe 13 componentes da Barroca vestidos como Zé Pelintra, com um diferencial na gravata. Enquanto a da entidade é sempre retratada como vermelha, os foliões sambaram usando gravatas de cores diferentes, que simbolizam as muitas frentes das religiões africanas e os múltiplos devotos da entidade.

"Quis representar nas gravatas dos membros da Comissão de Frente as cores dos cinco continentes, para simbolizar que os devotos de Zé estão em todos os lugares", explicou o coreógrafo de 69 anos.

Ele mesmo devoto de Zé Pelintra, Carlinhos desfilou na Comissão de Frente, e passou pela avenida bastante sorridente. Foi sua primeira vez no Sambódromo do Anhembi, e o dançarino exaltou a avenida:

"Eu não vejo diferença [entre o Rio e São Paulo]. Se é para citar alguma diferença, eu digo: a pista é pequena, e poderia ser maior, porque queríamos continuar a sambar. A escola queria que eu viesse como malandro, e eu estou muito feliz por receber esse convite."

A Barroca Zona Sul representou na avenida os múltiplos significados carregados por devotos da entidade, e marcou com fantasias e alegorias extremamente coloridas. Além disso, a empolgação do intérprete Pixulé também deixou componentes e foliões animados. A escola encerrou o desfile no tempo limite, com 1h05min cravados.

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