Topo

Rio de Janeiro

Quem ganhará Carnaval do Rio? Histórico pode indicar favoritos

No Carnaval de 2019, o título no Rio de Janeiro ficou com a Mangueira - Júlio César Guimarães/UOL
No Carnaval de 2019, o título no Rio de Janeiro ficou com a Mangueira Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Marcelo Damato

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/02/2020 04h00Atualizada em 26/02/2020 12h24

Resumo da notícia

  • Nos últimos 20 anos, as escolas que desfilaram na segunda-feira ganharam mais vezes.
  • Outra condição boa é estar entre as duas últimas escolas a entrarem na Sapucaí.
  • Em contrapartida, quem abre o Carnaval dificilmente se dá bem. Geralmente, acaba rebaixado.

Quando terminam os desfiles das escolas de samba do Rio começa o suspense. Quem será a campeã? Quais escolas serão rebaixadas? Como acompanhar a apuração do RJ? Quais os quesitos e critérios de desempate?

O cenário parece imprevisível. Mas uma análise dos últimos 20 desfiles diz o contrário.

É possível ter uma boa ideia sobre o resultado olhando apenas uma informação: a ordem de entrada das escolas na passarela do Sambódromo. Nenhum outro fator, como o resultado do ano anterior, o nome do carnavalesco ou o tema do enredo, apresenta maior correlação com o resultado do que a ordem dos desfiles.

O Grupo Especial neste século foi disputado por 12 ou 14 escolas, sendo 6 ou 7 a cada dia. Os dados obtidos por um levantamento dos últimos 20 desfiles podem fazer com que as pessoas tenham dúvidas sobre o sistema de jurados e os mecanismos de sorteio da ordem de entrada na avenida. As coincidências são grandes.

Para ter um bom desempenho, o primeiro "obstáculo" a superar é ser escalado para a segunda-feira. Quem desfilou no segundo dia teve nove vezes mais sucesso na disputa do título que os participantes do domingo. Foram 18 títulos contra 2. A chance de isso acontecer apenas por acaso é de uma em 5 mil.

E, dentro do segundo dia, é crucial ser escalado entre as duas últimas apresentações. Nos últimos dez anos, nada menos que oito campeãs estavam nessas posições. Quem fez o sexto desfile na segunda-feira (foi o penúltimo ou último desfile, dependendo do ano) teve uma colocação média com incríveis 9,5 posições acima de quem abriu o desfile no domingo.

Quem abre o Carnaval se dá mal

Aliás, abrir o Carnaval é quase como enfrentar um pelotão de execução. Dos 20 desfiles realizados, entre 2000 e 2019, em 17 os jurados colocaram a primeira escola a aparecer na pista em último lugar - a chance de isso acontecer apenas por acaso é de 0,13% ou 1,3 em mil.

Dessas 17, não houve rebaixamento em três. Ou seja, se sua escola abrir o desfile, a chance de ela cair é de 70%. E a chance de ela escapar pelo cancelamento do rebaixamento é a mesma de ela pontuar o suficiente. A última vez que isso aconteceu foi em 2010, quando a União da Ilha foi penúltima. Na média, as escolas ficaram em 12º lugar.

Na lista dos rebaixados — é preciso lembrar que o número oscilou entre 0 e 2, dependendo do regulamento e de eventuais anulações do rebaixamento —, a diferença é gigante. Em 20 anos, 22 desfilantes do domingo caíram, contra apenas 1 da segunda-feira (União da Ilha, em 2001).

Comparando as colocações das escolas de um dia e de outro em bloco, outra mostra de que o desequilíbrio não incomoda os organizadores do Carnaval. Dos 20 desfiles, a média das colocações das escolas da segunda-feira superou a de domingo em 19 vezes - numa ocasião, os seis piores colocados ficaram todos do mesmo lado. Só "perdeu" em 2011, na disputa marcada por um incêndio que destruiu os barracões de três escolas na Cidade do Samba, um mês antes do desfile. Por causa disso, elas foram declaradas hors concours e não houve rebaixamento.

As diferenças não acontecem apenas com as escolas em bloco. Individualmente, isso também é fácil de detectar. Um caso notável é o da Beija-Flor, a maior vencedora do período. Nos dez anos em que desfilou no domingo, não passou do vice-campeonato - três vezes e chegou até a amargar um 11º lugar (em 2019). Na média, ficou em 5º. Mas, quando desfilou na segunda-feira, a escola chegou a outro patamar. Em dez apresentações, foi campeã oito vezes e vice duas. E, nas cinco disputas em que desfilou por último, venceu todas. E, neste ano, ela desfilou de novo em último - seis vezes em 21 anos, aliás, é muito acima da média das equipes. Se vai repetir o desempenho, se saberá nas próximas horas.

Oficialmente, as escolas são distribuídas por sorteio, exceto a novata, que recebe a posição mais inglória. Apesar disso, a presença das principais escolas - como Beija-Flor, Mangueira, Portela e Unidos da Tijuca - nas posições mais favoráveis é muito superior ao que seria esperado estatisticamente. Outras, todas menores, ficaram anos amargando a abertura do desfile de segunda-feira, a pior posição do melhor dia. Porto da Pedra e São Clemente desfilaram cinco vezes lá cada e nunca passaram de sétimo.

Opinião da Liga de Escolas

Procurado para explicar todos esses fenômenos, o assessor de imprensa da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Vicente Dattolu, disse que a primeira posição do desfile é dada à escola que vem do acesso. Fora isso, as posições são definidas por "sorteio puro". O fato de haver tantas campeãs num dia e rebaixadas no outro é apenas coincidência.

Rio de Janeiro