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Quem é a pernalta que coloriu vários blocos do Rio

Raquel Potí, pernalta que desfilou por blocos como Carmelitas, Cordão do Boitatá e Céu na Terra - Luciola Villela/UOL
Raquel Potí, pernalta que desfilou por blocos como Carmelitas, Cordão do Boitatá e Céu na Terra Imagem: Luciola Villela/UOL

Osmar Portilho

Do UOL, no Rio de Janeiro

26/02/2020 04h00

Nas capas de jornais, sites e stories do Instagram ela estava lá. Boa parte dos foliões que passou pelo Carnaval do Rio de Janeiro teve sua atenção chamada por Raquel Potí, pernalta que desfilou por blocos como Carmelitas, Cordão do Boitatá e Céu na Terra. Os panos coloridos esvoaçantes, a habilidade de sambar sobre as pernas de pau e o sorriso estampado fixamente no rosto tornaram Raquel figura marcada do Carnaval carioca.

"Minha história com Carnaval começa antes de eu nascer. Meu bisavô era da Banda Maestro Deozílio uma das mais antigas do Rio de Janeiro com mais 130 anos", disse ao UOL. Com a família toda enraizada em Pedra de Guaratiba, bairro onde o Carnaval tradicional tem forte presença.

"Carnaval transformou minha dor em alegria"

Sua relação com a festa se estreitou novamente em 2009 quando perdeu um companheiro após um relacionamento de 8 anos em uma batalha contra o câncer. "Fui para o Carnaval para mudar essa energia de dor e sofrimento. Estava muito triste".

O primeiro bloco que participou foi Carmelitas, que a acolheu desde então. "Nunca mais vou esquecer disso. Foi muito mágica essa entrada no Carnaval. Um processo de cura".

Raquel Potí, pernalta do bloco Carmelitas - Luciola Villela/UOL - Luciola Villela/UOL
Imagem: Luciola Villela/UOL
Rainha nas alturas

Depois de passar alguns anos fora do Rio, retornou mais uma vez na cidade e montou algumas oficinas de perna de pau nos principais blocos da cidade: Boitatá, Amigos da Onça, Monobloco, Cacique de Ramos, entre outros.

Durante o desfile do Carmelitas, que se recorda com exatidão, ela subiu nas pernas de pau e surpreendeu os integrantes de sua bateria. Aquela surpresa também se tornou tradição e marca registrada para quem frequenta os blocos e vê Raquel "flutuando" ali no meio da folia.

Potí se diverte ao lembrar da música infantil "Borboletinha", onde anos depois se deu conta de um trecho que mistura seu sobrenome com sua habilidade.

Borboletinha tá na cozinha
Fazendo chocolate para a madrinha
Poti-poti
Perna de pau
Olho de vidro
E nariz de picapau
Pau-pau

"Nossa senhora. Como as coisas são. Eu fiquei surpresa com isso e todos os lugares que esse trabalho tem me levado. Mudou a minha vida e muda as pessoas que entram em contato com ele".

Durante o Carnaval, são mais ou menos vinte ativações que Raquel Potí tem programadas em sua corrida agenda como pernalta. No entanto, seja como brincante ou como "trabalho", sua atividade artística passou a ocupar seu ano inteiro.

Raquel Potí, pernalta do bloco Carmelitas - Luciola Villela/UOL - Luciola Villela/UOL
Imagem: Luciola Villela/UOL

"O Carnaval ficou muito grande para mim. Eu sou artista e tenho no Carnaval uma oportunidade de compartilhar isso com muitas pessoas. O meu trabalho é diversão. Essa é minha sensação. Não sei se estou trabalhando ou me divertindo", afirma.

Em todos os áudios que enviou para a reportagem, Raquel é enfática ao lembrar em como o os dias de folia lhe ajudaram neste processo de cura e abrem uma oportunidade para as pessoas se libertarem das amarras do dia a dia.

"Carnaval ajuda a dar visibilidade para as pessoas que normalmente não tem essa oportunidade ao longo do ano. Ela extravasa sonhos, fantasias e possibilidades que ela tem como ser humano. As pessoas se manifestam de forma plena".

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