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Jovem relata homofobia em bar no Carnaval de SP: "Tapa na cara e pauladas"

Felipe David da Silva - Reprodução/Instagram
Felipe David da Silva Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Gonzalez

Do UOL, em São Paulo

26/02/2020 15h34

Um radialista relatou, nas redes sociais, ter sido vítima de homofobia enquanto pulava Carnaval no bloco Sai Hétero, na última segunda-feira (24), na região central de São Paulo.

Felipe David da Silva, de 29 anos, disse que "virou estatística" após ter sido agredido a pauladas em um bar na região da rua Augusta e publicou um vídeo em que aparece sendo medicado em um hospital e com ataduras na cabeça.

"Infelizmente estou aqui porque eu virei estatística. Acabei de levar duas pauladas na cabeça dentro de um estabelecimento, um bar em que estávamos eu, minha irmã e alguns amigos", começou. "A gente pediu para usar o banheiro, o proprietário não deixou e recebi um tapa na cara, duas pauladas de uma marreta gigante, sei lá, um pedaço de pau".

Segundo o radialista, tudo teria ocorrido no estabelecimento que fica na rua Martins Fontes, 390. "Não vão para este lugar", alertou, nas redes sociais.

Relato da vítima

"No final do bloco, minha irmã precisou ir ao banheiro e só podia usar o bar se consumisse. Ela comprou uma cerveja e deixaram ela descer [até o banheiro]", contou ao UOL, na tarde de hoje. "Depois de dez minutos, decidi ir até o bar ver se estava tudo bem. Vi minha irmã no fundo do bar e quis ir até lá falar com ela, mas o dono do bar colocou um cabo de vassoura na minha frente e disse 'não vai passar'".

Felipe perguntou se poderia usar o banheiro, já que estava consumindo, mas ouviu "não" como resposta. Foi quando as agressões aconteceram.

A vítima precisou levar oito pontos na cabeça e teve o braço luxado, assim como sua irmã, que foi ferida ao tentar defendê-lo. Ele recebeu atendimento emergencial em um posto de saúde próximo ao local das agressões e, na sequência, foi socorrido no Hospital São Camilo, na Pompeia.

"Não sei como consegui chegar sozinho até o posto. Lembro de colocar a mão na cabeça e tirar a mão coberta de sangue, até que notei que meu corpo todo estava ensanguentado", relatou. "O cara foi para me machucar mesmo, ele veio para cima de mim".

O jovem prestou queixa contra o proprietário do bar por lesão corporal e passou por exame de corpo de delito, também na tarde de hoje.

O UOL teve acesso ao boletim de ocorrência, que descreve as agressões: "O proprietário puxou-o [Felipe] pelos cabelos e deu-lhe um tapa em sua face. Na sequência, o agressor retirou um pedaço de madeira debaixo do balcão e desferiu dois golpes na cabeça de Felipe".

A reportagem tentou contato com o local e não teve resposta.

Outros casos

Uma testemunha que preferiu não se identificar disse que presenciou outro caso de homofobia no mesmo dia, no mesmo estabelecimento.

O enfermeiro ouvido pela reportagem disse chegou ao bar na segunda-feira (24), logo depois das agressões e encontrou um rapaz ensanguentado, com um corte na nuca e "quase desmaiando".

"Eu estava no local comprando um café e, diante dessa situação, por ser enfermeiro, ajudei a socorrer", contou. "A irmã estava desesperada e ele já estava machucado, mas demoramos para ver o sangue. Quando ele tirou a camiseta e vi os hematomas e os arranhões, falei 'vamos para o hospital'".

A testemunha disse que foi difícil conseguir socorro para a vítima, já que um bloco de rua passava pela região e dificultava a chegada de uma ambulância.

Ele afirmou, ainda, que é cliente do estabelecimento há alguns anos e já presenciou outras situações de violência no local.

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