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Salgueiro homenageia 1º palhaço negro do Brasil com espetáculo circense

Salgueiro na concentração da Sapucaí - Lucas Landau/UOL
Salgueiro na concentração da Sapucaí
Imagem: Lucas Landau/UOL

Do UOL, em São Paulo*

25/02/2020 00h08

Terceira escola a desfilar no segundo dia do grupo especial do Carnaval carioca, o Acadêmicos do Salgueiro promoveu um verdadeiro espetáculo circense para homenagear Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, que completaria 150 anos em 2020.

A agremiação levantou a Sapucaí com o samba-enredo "O Rei Negro do Picadeiro", que fez uma ode à resistência com versos como "aqui o negro não sai de cartaz; Se entregar, jamais". O desfile fez questão de lembrar a importância dos negros para a cultura e arte do país, com a presença de personalidades como Negra Li, MC Rebeca e Érika Januza, bem como dos atores Ailton Graça e Nando Cunha e o humorista Hélio de La Peña, que representaram Benjamin de Oliveira em alas diferentes.

Em um desfile que transcorreu sem problemas de evolução, a escola veio grandiosa, com alas coreografadas, fantasias luxuosas e alegorias coloridas e caprichadas que a colocam como uma das favoritas a um posto no desfile das campeãs, que acontece no sábado.

Inspiração

Exaltando Benjamin de Oliveira, que também foi ator e compositor, o Salgueiro deu destaque à contribuição dos negros à cultura brasileira. O quinto e último carro, "Milhões de Benjamins", lembrou o legado deixado pelo artista por meio das figuras que seguiram seus passos, como o eterno Mussum, dos "Trapalhões".

"Foi a figura que me inspirou a ser artista, então espero tê-lo reapresentado muito bem", disse Ailton Graça ao UOL após o desfile. "É o primeiro palhaço e ele era negro. Foi o que acabou abrindo um leque de possibilidades muito grande para o nosso povo. Seguido, é claro, por Ruth de Souza, Grande Otelo", continuou enumerando o ator.

Fantasias

As fantasias do Salgueiro foram um show à parte. Além de detalhistas e bem construídas, elas também abusaram da criatividade, com ciganas lendo bolas de cristais que se acendiam no meio da avenida.

Rainha das rainhas

À frente da "Furiosa", como é conhecia a bateria do Salgueiro, Viviane Araújo mais uma vez provou por que tem o título de "rainha das rainhas". Ela surgiu carismática e poderosa à frente dos ritmistas, com quem apresenta uma sinergia fora do comum, monopolizando as atenções na avenida.

"O Rei Negro do Picadeiro"

Compositores: Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga do Salgueiro, Getúlio Coelho, Ricardo Neves e Francisco Aquino
Intérpretes: Emerson Dias e Quinho

Na corda bamba da vida me criei
Mas qual o negro não sonhou com liberdade?
Tantas vezes perdido, me encontrei
Do meu trapézio saltei num voo pra felicidade
Quando num breque, mambembe moleque

Beijo o picadeiro da ilusão
Um novo norte, lançado à sorte
Na companhia do luar
Feito sambista
Alma de artista que vai onde o povo está

E vou estar com o peito repleto de amor
Eis a lição desse nobre palhaço
Quando cair, no talento, saber levantar
Fazer sorrir quando a tinta insiste em manchar

O rosto retinto exposto
Reflete no espelho
Na cara da gente um nariz vermelho
Num circo sem lona, sem rumo, sem par
Mas se todo show tem que continuar (bravo)

Bravo
Há esperança entre sinais e trampolins
E a certeza que milhões de Benjamins
Estão no palco sob as luzes da ribalta
Salta, menino
A luta me fez majestade
Na pele, o tom da coragem
Pro que está por vir
Sorrir é resistir

Olha nós aí de novo
Pra sambar no picadeiro
Arma o circo, chama o povo, Salgueiro
Aqui o negro não sai de cartaz
Se entregar, jamais

*Colaborou Igor Mello, no Rio

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