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Carro para e causa buraco em desfile da União da Ilha, que estoura tempo

Buraco no desfile da União da Ilha - Reprodução/TV Globo
Buraco no desfile da União da Ilha
Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo e no Rio*

24/02/2020 03h57

Resumo da notícia

  • União da Ilha falou de comunidades carentes
  • Escola levou um ônibus como carro alegórico
  • O desfile, porém, foi marcado por problemas técnicos
  • A agremiação estourou o tempo de desfile em 1 minuto
  • Rainha Gracyanne Barbosa teve problema com costeiro
  • Escola deve perder pontos e corre o risco de cair

A União da Ilha, tradicional agremiação da Ilha do Governador, jamais levou um título no Grupo Especial do Carnaval do Rio, e este ano a escola veio forte com um grande objetivo: chegar entre as seis primeiras colocadas na classificação final e, assim, voltar para o desfile das campeãs, que acontecerá no sábado.

No entanto, o sonho pode estar cada vez mais distante: o desfile foi uma sucessão de erros. Segunda alegoria da União da Ilha, um ônibus, acelerou na dispersão e quase atropelou componentes. O veículo teve que ser segurado.

Além disso, uma falha no motor de um dos carros causou um enorme buraco bem no meio do desfile. Era o terceiro carro, Operários em Construção, que precisou ser empurrado pelos integrantes da escola.

Muito pesado, ele se movimentou de forma bem mais lenta do que o ideal. Harmonia e evolução foram prejudicadas. A própria alegoria também pode ser penalizada pelos jurados.

Comovido com a situação da escola, que colocou inclusive integrantes da ala seguinte ao carro para empurrar o carro, o público que lotava a Marquês de Sapucaí aplaudia a União e estimulava a escola na tentativa de salvar o desfile. Apesar da correria, os integrantes da escola não desanimaram e seguiram cantando o enredo com alegria.

O final do desfile foi marcado pela correria para que a escola não estourasse o tempo, o que não foi possível. Os portões foram fechados com o cronômetro marcando 1 hora e 11 minutos, um minuto a mais do que o permitido. Não bastasse todo o caos, uma das esculturas que trazia serpentes quebrou ao colidir com outro carro na dispersão.

"Sem sofrimento não há vitória", declarou o carnavalesco Fran Sérgio ao final do desfile ao vivo no estúdio da Globo. Último a sair da avenida e muito comovido, o carnavalesco principal, Laíla, preferiu não falar com a imprensa.

Favelas representadas

União da Ilha popozudas - Luciola Vilella/UOL - Luciola Vilella/UOL
Comissão de popozudas da União da Ilha, que levou enredo sobre comunidades
Imagem: Luciola Vilella/UOL

A União da Ilha levou para a Sapucaí um enredo de nome grande: "Nas Encruzilhadas da Vida, Entre Becos, Ruas e Vielas, a Sorte Está Lançada: Salve-se quem Puder!". O recado, no entanto, foi simples: falar dos desafios enfrentados pelas favelas cariocas, muitas vezes os mesmos da periferia de outras grandes cidades do país.

"Falamos sobre as encruzilhadas da vida, um clamor para que se olhe mais para as comunidades carentes", explicou o carnavalesco Fran Sérgio. "Tem muito do sentimento do Laíla nesse desfile. É um carnaval humano e necessário", completou Cahê Rodrigues, que fez sua estreia completando o grupo de carnavalescos.

A agremiação apostou no realismo para escancarar o problema das comunidades carentes do Rio de Janeiro. O abre-alas reproduzia uma favela cenográfica com elementos típicos: barracos, pequenos comércios, salões de beleza, animais de rua, caixas de som, mototáxi, teleférico, pipas, igrejas, varais...

Helicópteros com a mensagem "Deus está conosco nas comunidades do Brasil" demonstravam tanto o temor com os tiros disparados por policiais das aeronaves como a esperança de uma vida mais segura para o povo esquecido.

Uma enorme Lua adornada por um São Jorge, representado pelo carnavalesco Fran Sérgio, que costuma desfilar junto com os componentes, protegia aquele complexo.

Já o segundo carro da escola era um ônibus lotado e quente, bem semelhante aos que a população usa todos os dias para se deslocar até o trabalho. Os integrantes que desfilaram no ônibus, inclusive, chegaram a representar um assalto dentro da alegoria, como tantos já vistos na vida real.

Carolina de Jesus presente

Baseada no livro de "Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada", de Carolina Maria de Jesus, a comissão de frente da União da Ilha veio com 12 crianças, destacando a importância da educação desde o início da vida.

Com uma alegoria que fazia um giro na avenida, os pequenos foram substituídos por adultos formados e, depois, por professores, que traziam a mensagem que "a educação é a salvação".

Uma das primeiras escritoras negras do Brasil, Carolina Maria de Jesus viveu parte de sua vida na favela do Canindé, em São Paulo, e sustentou seus três filhos como catadora de papéis.

Ela só publicou o livro aos 44 anos, com o auxílio de um jornalista. Contando sobre a sua realidade, fez um enorme sucesso com o livro e foi traduzida para 14 idiomas. A escritora morreu em 1977, aos 62 anos.

Bateria 'escolar'

União da Ilha bateria - Luciola Vilella/UOL - Luciola Vilella/UOL
A bateria de escolares e mestres da União da Ilha
Imagem: Luciola Vilella/UOL

Os componentes da bateria desfilaram com uma roupa que remetia ao uniforme dos alunos da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. Já os mestres de bateria desfilaram vestidos com aventais brancos, como os professores.

À frente da bateria, Gracyanne Barbosa. Bastante coberta, a rainha da bateria foi com uma fantasia chamada Grito da Paz que levava 500 mil pedras.

Com asas brancas que remetiam a um pombo, a roupa da dançarina trazia manchas vermelhas simulando sangue. O costeiro, porém, também teve problemas e quebrou na avenida.

*colaborou Igor Mello

Samba-enredo

"Nas Encruzilhadas da Vida, Entre Becos, Ruas e Vielas, a Sorte Está Lançada: Salve-se quem Puder!"

Compositores Fran Sérgio, Cahê Rodrigues, Larissa Pereira, Anderson Netto, Allan Barbosa, Felipe Costa
Intérprete

Senhor, eu sou a Ilha
E no meu ventre essa verdade que impera
Que é invisível entre becos e vielas
De quem desperta pra viver a mesma ilusão
E vai trabalhar
Antes do sol levantar de novo
A voz do rancor não cala meu povo não
Sou mãe dignidade é meu destino
Rogo em prece meus meninos
Ao longe alguém ouviu
Meus filhos são filhos dessa mãe gentil

Inocentes, culpados, são todos irmãos
Esse nó na garganta vou desabafar
O chumbo trocado, o lenço na mão
Nessa terra de Deus dará

Eu sei o seu discurso oportunista
É a ganância, hipocrisia
O seu abraço é minha dor (seu doutor)
Eu sei que todo mal que vem do homem
Traz a miséria e causa fome
Será justiça de quem esperou
O morro desce o asfalto e dessa vez
Esquece a tristeza agora
É hoje, o dia da comunidade
Um novo amanhã, num canto de liberdade

A nossa riqueza e ser feliz
Por todos os cantos do país
Na paz da criança, o amor da mulher
De gente humilde que pede com fé

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