Pastor Henrique Vieira diz que Jesus foi honrado em desfile da Mangueira
O pastor e ator Henrique Vieira, que representou Jesus como um mendigo no desfile da Mangueira, aprovou a decisão da tradicional agremiação carioca de levar à Sapucaí um Cristo "da gente", com rosto negro, sangue índio e corpo de mulher.
Ao UOL, Vieira disse que a Mangueira quis trazer um Jesus similar ao da Bíblia, "do amor, dos pobres, da paz e da diversidade". "Como pastor, como ator e como discípulo de Jesus, eu vi que hoje Jesus foi honrado. Jesus é ofendido quando o povo negro é alvo de preconceito, quando uma mulher sofre violência, quando indígena corre de bala, quando o pobre é massacrado. Hoje Jesus foi celebrado com festa, com alegria, com o respeito".
O pastor admitiu ter ficado emocionado por poder representar uma das versões de Cristo na avenida, e criticou discursos violentos associados à religião. "Esse Jesus guerreiro, bélico, de arma na mão, que vigia os corpos das pessoas, esse Jesus cujo nome é usado para perseguir mãe e pai de santo, para destruir terreiro, violentar pessoas, não tem nada a ver. Andar desse jeito, colocar a roupa de um Jesus com pé no chão, um Jesus que ama o próximo, que não tem arma na mãe, que defende a partilha e que divide o pão, Jesus que vence preconceitos e celebra a diversidade, isso é um grito de liberdade.
"O que têm feito hoje em nome de Jesus é uma vergonha. Jesus não tem nada a ver com ódio, com preconceito, com violência, com vingança, com armas; Jesus tem a ver com esse povão que acorda 6h para lutar pelo pão de cada dia", completou.
Vieira ainda rejeitou o rótulo do Carnaval como uma festa profana. "Tudo que é feito em amor é sagrado; profano é aquilo que é feito na base do ódio, da intolerância, do desrespeito e do preconceito. Jesus sacralizou tudo. Tudo para Jesus era sagrado, porque tudo Jesus fez em amor. Então, Carnaval é uma festa sagrada também".
Samba politizado
Terceira escola a entrar hoje na Sapucaí, a Mangueira defendeu o título conquistado ano passado com uma mensagem forte e que esbarrou na política. O samba-enredo "A Verdade vos Fará Livre" narrou a trajetória de Cristo, transportando a figura sagrada para contemporaneidade e fazendo uma crítica nada velada ao presidente Jair Bolsonaro e a ideologia política que ele representa.
Com diversas referências a Jesus, que na visão da escola era uma pessoa "da gente", a Mangueira fez um desfile visualmente elaborado e engajado, criticando a opressão e os "profetas da intolerância". O fundamentalismo cristão entrou na mira. "Não tem futuro sem partilha nem messias de arma na mão", cantaram os integrantes, em alusão ao presidente.
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