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Baile da Pocah leva funk, trap, rap e putaria acelerada para jardins do MAM

Foliões curtem Bloco da Pocah no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio - Marcelo de Jesus/UOL
Foliões curtem Bloco da Pocah no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio Imagem: Marcelo de Jesus/UOL

Matias Maxx

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

24/02/2020 22h16

"Quem nasceu pra putaria não tem tempo pra mozão" é o refrão de "Carnaval Chegando" de Pocah produzida pelo premiadíssimo DJ Rennan da Penha. O som hitou e ganhou o Brasil mandando o papo reto "já vejo minha dignidade indo embora". Traduzindo o fino espírito da festa do Rei Momo: "Quem tá namorando nessa época sempre chora, mas quem tá solteiro adora".

Em meio à vibe, os jardins do MAM foram palco do primeiro "Bloco da Pocah". A cantora de "Ninguém manda nessa raba" pediu em suas redes sociais que o povo "não dê PT antes da meia-noite", horário em que entra no palco.

Chifres, auréolas, penas e outros adereços clássicos de carnaval fizeram frente aos bonés de aba reta, corte na régua e tranças dos manos, minas, monas, bonecas, pocs e toda sorte de gente periférica, bonita e animada que lotou os jardins desenhados por Burle Marx em torno do museu de Niemeyer.

A bagunça começou por cerca das 20h com apresentação da gay band Funtastic, formada por ex-dançarinos de artistas badaladas como Anitta, Valesca, Pabllo e Ludmilla.

Em seguida, os DJs Felipe Mar e Babi esquentam a galera para uma noite que ainda conta com os autores de alguns dos refrãos e versos do funk, rap e trap que mais ecoam nas favelas do Rio, como "Mente de milionário num corpo de favelado", de PK, o "Amor de fim de noite" de Orochi, as coreografias malucas do FP do Trem Bala a.150 BPMs, além de WC no Beat, Luísa Sonza, Gabiliy, Valesca, Lara, MC Zaac e Mateus Carrilho.

Princípio de confusão

A promessa de Pocah de entrar à meia-noite não se concretizou e a programação fugiu totalmente da apresentada à imprensa e ao público. No Twitter fãs reclamaram de suposta invasão e quebra-quebra. Questionada, a assessoria do evento disse que, com a lotação esgotada, e num momento de chuva, a entrada ficou fechada e houve um princípio de confusão do lado de fora do evento.

PK

O gargarejo de palco mais disputado foi o de PK, com gente do meio se amontoando para fazer Stories. "Mente milionária no corpo de um favelado / Tu gosta do nosso estilo e da visão que eu tenho. Te pego de jeito, mas não fica apaixonada / Eu sou romântico, safado, e amanhã não venho" foi cantada em coro por todo o publico feminino, do mesmo jeito que em inferninhos Brasil afora.

Na sequência, emendou em covers de Kevin o Chris e MC Poze ("Voando Alto", hino da campanha do Flamengo em 2019).

Apresentação de PK no bloco da Pocah - Marcelo de Jesus/ UOL - Marcelo de Jesus/ UOL
Imagem: Marcelo de Jesus/ UOL

MC Zaac

Numa rápida, mas caliente perfomance o MC Zaac entrou puxando a música mais tocada no Rock in Rio do ano passado, "Rap da felicidade", de Cidinho e Doca, tocada ao vivo em todos os palcos do festival. Na sequência o MC seguiu apelando logo com "Bum bum tam tam". Teve também mais uma de baile funk das antigas que é a cara do Carnaval, "Eu vou pra ousadia, eu vou pra cachorrada, hoje eu quero trair, a minha namorada."

Valesca Popozuda - Marcelo de Jesus/ UOL - Marcelo de Jesus/ UOL
Imagem: Marcelo de Jesus/ UOL

Valesca Popozuda

"Tu quer cachorrada? Eu sou a dona do canil" foi a carteirada de Valesca Popozuda, da primeira geração de MCs mulheres que ousou falar de putaria sem descer do salto do feminismo. Em tempos de "shorts tipo Anitta" o verso "Eu vou pro baile de sainha", de "Agora eu tou solteira e ninguém vai me segurar", mantém-se lamentavelmente atual.

A popozuda encerrou sua apresentação desejando ao público "vamos beijar e transar muito" e "eu faço o que quiser da minha vida".

Luísa Sonza

A celebrada Luísa Sonza foi de sua "Devagarinho" para "Amor de Que", de Pabllo Vittar, e a galera explodiu os pulmões para afirmar que "tem amor de quenga". Na sequência a "herbífuma" "Verdinha" de Ludmilla performada uma vez mais na noite para delírio da galera.

Luísa Sonza se apresenta no Bloco da Pocah - Marcelo de Jesus/ UOL - Marcelo de Jesus/ UOL
Imagem: Marcelo de Jesus/ UOL

Observando a galera pulando no meio de uma explosão de confetes e serpentina é possível ter cada vez mais certeza de que existem dois lugares onde o funk, o breganejo, o arrocha, o reggaeton, o rap acústico e o trap convivem; na favela e nas baladas gays.

Gabily

"Vai começar a putaria, porra!", bradou Gabily, de chapéu de cowboy e cabelão, bem ao estilo "Old Time Road". Ganhou o palco junto de duas bailarinas negras encantando a galera logo de cara com hits como "Deixa Rolar", de sua autoria, e "Deslizo e jogo", de MC Rebecca. Dessa mesma colega também cantou a inevitável "Cai de boca no meu bucetão" e o hit do carnaval deste ano, "Sequência de vapo vapo", de MC Ingryd.

Gabily - Marcelo de Jesus/ UOL - Marcelo de Jesus/ UOL
Imagem: Marcelo de Jesus/ UOL

Para a recém-lançada "Missão dada" a cantora recrutou duas mulheres para dançar com ela, "Seguinte, quem manda muito bem no passinho de brega funk? E tem coragem de subir pra dançar aqui comigo? Na moral, eu quero aqui no palco uma amiga sapatão". Na sequência puxou à capella um pedacinho de "Eu quero que tu vá pra puta que pariu" e se despediu dos fãs chapando geral mais ainda com sua versão de "Verdinha" de Ludmilla.

Aquecimento

Acompanhada de dois casais de bailarinos a DJ Agatha manteve o aquecimento jogando pra galera com uma sequência de Livinho, Kevin o Chris, MC Poze e outras para cantar em coro, como "Eu quero que tu vá pra puta que pariu" de Ananda e "Sentou e Gostou" a versão Kondzilla do mega-hit "Old Time Road" de Litlle Nas X e o pai da Miley Cyrus. Ela arriscou brincadeiras com a plateia que ainda estava no meio do caminho entre a pureza e a perda total.

Marcou presença no set o funk-putaria "O carnaval tá vindo aí", hit dos vagões de metrô, e busões dos sinceros e controversos versos de MC Reizin; "ih o carnaval tá vindo aí, e mulher feia eu vou pegar, mulher bonita é o caralho, eu quero história pra contar". A DJ Agatha se despediu com pirotecnia e "Anna Júlia" no talo, versão original, de quando a maioria do público ainda estava nascendo.

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