Mocidade faz desfile técnico, exulta poder das Orixás e empolga público
Desde o início dos anos 2000, nenhuma agremiação venceu mais vezes o Carnaval paulistano que a Mocidade Alegre, com seis campeonatos, e este ano a escola vem forte para trazer um título que não vem desde 2014. Com o samba-enredo "Do Canto das Yabás Renasce uma Nova Morada", a escola homenageou as orixás femininas, como Obá, Yabá, Oyá e Oxum, refletindo sobre a natureza e a relação dos homens com o meio ambiente.
A "nova morada" proposta pelo enredo, marca da escola, trouxe uma reconexão com Olorum, propondo um canto de esperança para o planeta voltar a ser um paraíso. Mas nada desse conceito é capaz de retratar com fidelidade o que foi o desfile, com suas 22 alas —cinco coreografadas—, cinco carros alegóricos, 3.000 componentes e muitas belezas e encantos. E isso inclui uma forte participação do público. A Mocidade vem como favorita ao título.
Comissão de frente caprichou
Representando a eclosão da esperança do ventre feminino, a comissão de frente da Mocidade encantou pela coreografia, pela dinâmica, pelas cores, e pelas fantasias em verde brilhante. Uma alegoria giratória acompanhou o grupo representando o nascimento de uma nova vida negra e potente. Um lindo começo.
Bateria show
Bossas diferentes, paradona, coreografia, sinergia e ritmo a flor da pele dos ritmistas. A bateria foi um dos grandes momentos do desfile, seja na hora de deixar o público cantar o refrão ou quando levava o samba ao pé público nas arquibancadas. Se ela não ganhar nota 10 de todos os jurados, será bastante injusto. Aline Oliveira, a rainha ex-ritmista, também brilhou.
Alegoria 'O Axé que Movimenta a Vida'
A Mocidade trouxe a primeira Yabá, negra, com dedos e cabeça articulada. A alegoria usou e abusou do azul, com 5.000 mil litros de água reutilizada. Chafarizes, peixes e um balé de águas que movimentou a ideia da existência. Muita beleza neste e em todos os outros carros da escola, marcados pelo detalhismo e por um apuro técnico que saltou aos olhos durante o desfile.
Carros abrindo alas e histórias
Os carnavalescos Paulo Brasil, Márcio Gonçalves e Edson Pereira, com colaboração da presidente Solange Rezende, entregaram um desfile que tentou fugir do lugar com comum. Um exemplo disso foi a estratégia de usar os carros para abrir alas e seções conceituais da apresentação —geralmente eles são usados para finalizar uma ideia. Sem dúvida causou impacto.
Representatividade
Como o samba-enredo promoveu uma ode ao orixás e aos feminino, a Mocidade foi feliz em transportar o discurso na avenida. Cerca de 70% dos integrantes do desfile mulheres. Ainda, todos os destaques de chão, em frente às alegorias, eram mães. Aline Oliveira, a rainha da bateria, também batucou seu timbal. A representatividade deu samba.
Do Canto Das Yabás, Renasce Uma Nova Morada
Compositores Biro Biro, Fabio Souza, Luis Jorge, Maradona, Rafa do Cavaco, Ratinho, Silas Augusto, Turko, Zé Paulo Sierra
Intérprete Igor Sorriso
Olorum, supremo criador do universo
Seus olhos sofrem com meus gestos
Oh, meu Senhor
Agô, meu Pai Maior... tanto caos, destruição
No Aiyê, o tambor vai ecoar
É preciso acreditar na grandeza de Obatalá
Yaô, bela menina... yaô (ôô) , a esperança
Entregue nos braços de Yemanjá
Nas águas purificar... odoyá
Deusa do amor... mamãe Oxum
Vento sopra e traz a força de Oyá
Na pureza de Ewá, um novo amanhã
A coragem vem de Obá, o saber vem de Nanã
Eh mulher 'feita' no poder da criação
Das águas, do solo, da chama sagrada
Soprando os segredos da renovação
Com a bênção de Orum, clareou, clareou
Ritual, feitiçaria no aiyê um novo dia
Santuário que das cinzas ressurgiu
Natureza em harmonia então sorriu
Lá vem elas... guerreiras... poderosas yabás
Carregada de axé
Nossa Morada renascerá
Yabá cantou, o chão estremeceu
O corpo arrepiou, a lágrima correu
Oh, mãe rainha, te ofereço na avenida
A Mocidade, emoção da minha vida
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