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Gaviões da Fiel surpreende com efeitos especiais em estreia de Paulo Barros

Sabrina Sato, a rainha de bateria da Gaviões da Fiel - Simon Plestenjak/UOL
Sabrina Sato, a rainha de bateria da Gaviões da Fiel
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Do UOL, em São Paulo*

23/02/2020 01h02

A Gaviões da Fiel contratou um dos principais carnavalescos do país, Paulo Barros, para tentar acabar com um jejum de 17 anos sem título no Grupo Especial e conquistar o Carnaval de São Paulo pela quinta vez. A parceria surpreendeu. A escola levou fogo, água e personagens clássicos para a avenida do samba e, claro, levantou a torcida corintiana nas arquibancadas.

Junto de Paulo Menezes, com quem já trabalhou na Portela, o carnavalesco de Nilópolis conhecido por levar muita tecnologia e extravagância para a avenida, com quatro títulos em seu currículo, cumpriu seu papel.

Com o amor como tema, a Gaviões da Fiel ocupou o Sambódromo do Anhembi com 23 alas, cinco carros e 3.000 componentes. Com alegorias caprichadas, mas fantasias mal acabadas para quem observava de perto, a escola contou a história de amores impossíveis, amores históricos e amores heroicos, para descrever o tal "sentimento que arrasta multidões" cantado no samba-enredo.

O samba "Um Não Sei Que, Que Nasce Não Sei Onde, Vem Não Sei Como e Explode Não Sei Porquê" foi inspirado em uma frase do poeta Luís de Camões (1524-1580).

Romeu e Julieta: fogo!

A rainha Sabrina Sato veio de Julieta modernizada com uma roupa toda dourada à frente da bateria de Romeus comandada pelo Mestre Ciro Castilho. A comissão de frente também lembrou o clássico de William Shakeaspeare.

Com as cores da escola, preto e branco, sete casais de Romeu e Julieta conduziam a alegoria batizada de "A Chama da Paixão". A comissão já reservava surpresas para o início do desfile, mas enfrentou problemas.

A roupa de um dos Romeus pegou fogo antes da hora. Depois, um deles perdeu a capa no meio da avenida —o que pode descontar pontuação da escola. Ao final, só algumas roupas entraram em chamas, e por um breve momento.

"Tem que incendiar isso aqui, né?", comentou Paulo Barros durante o desfile ao vivo na Rede Globo. Segundo Paulo Menezes, o outro carnavalesco da escola, o efeito tinha laudo do corpo de bombeiros.

pega fogo - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Momento em que fantasia de Romeu pega fogo antes da hora: escola pode perder pontos
Imagem: Reprodução/TV Globo

Barro no abre-alas

O carro abre-alas, "Os Gregos e a Criação do Homem", trazia uma enorme escultura de Prometeu, o deus grego que fez o homem do barro. Por isso, a escultura dele jorrava barro do alto do carro, sobre os destaques pintados de marrom.

Outros destaques deitados na lateral do carro também jorravam água. O segredo dentro do carro era uma piscina com uma bomba de água mais potente, liberando água lamacenta em outros destaques masculinos.

Apesar do efeito visual incrível, os componentes do carro sofreram com os 17ºC e a garoa fina. "Essa foi prova de resistência, para saber quem é corintiano mesmo", disse Victor Bianchi já na dispersão. Ele desfilou pela primeira vez pela escola. Outro problema é que a água acabou molhando muito a pista, deixando a passarela do samba escorregadia para os outros quatro carros que vieram depois.

Prometeus - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
O carro que trazia Prometeus jogando barro sobre os destaques
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Toda forma de amor

Outra inovação trazida por Paulo Barros —nunca usada antes por escolas de São Paulo— foi a de colocar os destaques das alas em cima de plataformas. Entre eles, vários personagens famosos tanto na história quanto na cultura popular.

A atriz e influenciadora digital Gabi Lopes veio em destaque na primeira ala, Páris e Helena. A atriz Leona Cavalli desfilou como Cleópatra, representando o amor dela e de Marco Antonio. No amor revolucionário, Xica da Silva, Tiradentes, e Anita Garibaldi. A líder da Revolução Farroupilha veio representada na figura de Antonia Fontenelle.

As musas Gil Jung e Fernanda Lacerda vieram como destaques de chão à frente do carro que representava o cangaço e trazia a figura de Lampião e Maria Bonita. No carro, mais uma surpresa de Paulo Barros: cavalos que se movimentavam para dentro e fora do carro em uma espécie de carrossel. O público pirou.

O carnavalesco ainda criou uma ala toda dedicada ao clássico O Mágico de Oz, com os personagens destacados cercados de Homens de Lata, e uma ala infantil de A Dama e o Vagabundo e Procurando Nemo, representando o amor incondicional.

O penúltimo carro homenageava o filme "A Montanha dos Gorilas", representando o amor pela natureza, e trouxe vários gorilas presos em cintos de alpinistas balançando para fora do carro. Mais um momento de delírio do público.

Gran finale

O último carro entrou na avenida com o tradicional símbolo da escola preta e branca, um enorme gavião, e duas arquibancadas e bandeirões de 18 metros de cada lado, representando os "50 Anos de Amor Incondicional" ao time tanto da torcida organizada quanto da escola de samba.

Nas arquibancadas instaladas dentro do carro, vários integrantes da escola vestidos de gaviõezinhos. À frente, esculturas dos troféus e o símbolo do Corinthians. O gavião principal tinha luzes acopladas além de soltar papel picado sobre o público.

No ano passado, a Gaviões terminou em um modesto nono lugar e ainda viu a rival Mancha Verde conquistar o inédito título do Grupo Especial.

Pérola Negra e Colorado do Brás já cruzaram o Sambódromo do Anhembi nesta noite. O segundo dia de desfiles do Grupo Especial de São Paulo ainda terá, na sequência: Mocidade Alegre, Águia de Ouro, Unidos de Vila Maria e Águia de Ouro.

Samba-enredo

"Um Não Sei Que, Que Nasce Não Sei Onde, Vem Não Sei Como e Explode Não Sei Porquê..."

Compositores: Rafael Falanga, Luciano Rosa, Biro-Biro, Portuga e William Tadeu

O que é esse aperto no peito?
Invade a alma, não dá pra negar
É a mais sublime inspiração de um criador
Que o sonho em suas mãos moldou (é o amor, é o amor)
Eu quero viver romances proibidos
Doce delírio que desperta os sentidos
Quando dispara o insensato coração
Se a alma eternizar... vai muito além da razão

Quantos sentimentos... me levam
À luta por um ideal
Chama que ninguém pode apagar
É a liberdade de poder sonhar

É, não existem fronteiras,
Nem mesmo barreiras vão nos separar
Se a vida imita a arte,
Numa doce ilusão, vou mergulhar
Eu sou o olhar que te encontra pelas ruas
Um acorde que seduz à luz da lua
Sou o canto que ecoa pelo ar
E se eu enlouquecer,
Será de tanto amar

Vai arrepiar... abra o seu coração
Vem se apaixonar, explodir de emoção
Um sentimento que arrasta multidões
Canta, Gaviões

*Colaboraram Soraia Gama e Anahi Martinho

Veja os destaques do segundo dia de desfiles

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