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Mancha Verde supera atraso e usa Jesus Cristo para fazer crítica social

Mancha Verde é a quarta escola a desfilar no Sambódromo - Ricardo Matsukawa/UOL
Mancha Verde é a quarta escola a desfilar no Sambódromo
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Do UOL, em São Paulo

22/02/2020 02h49Atualizada em 22/02/2020 16h28

Atual campeã do Carnaval de São Paulo, a Mancha Verde defendeu o título apostando no velho ditado futebolístico "em time que está ganhando não se mexe". Novamente com o carnavalesco Jorge Freitas, e em mais um desfile engajado, a escola criada a partir da torcida organizada do Palmeiras escolheu o samba-enredo "Pai! Perdoai, Eles Não Sabem o que Fazem!" e brilhou na avenida.

O desfile, marcado pelo luxo e riqueza visual, falou de atos condenáveis dos homens de várias eras tendo a religiosidade e Jesus Cristo como pano de fundo. O público cantou e vibrou junto. Favorita ao bi, a agremiação também não economizou nas cores e coreografias, em uma apresentação técnica e com defeitos imperceptíveis. Mas nem tudo fácil para a escola, que contou com 20 alas, 5 alegorias e 3.000 componentes.

Desfile interrompido

Logo após o aquecimento, um dos carros da Dragões da Real, que havia acabado de desfilar, enroscou-se na fiação da dispersão e interrompeu o aquecimento da Mancha, causando um congestionamento de alegorias antes e depois. Fios precisaram ser removidos por funcionários da Enel, e a escola teve de esperar a direção da LigaSP (Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo) liberar o desfile, o que demorou cerca de uma hora.

Mancha Verde é a quarta escola a desfilar no Sambódromo - Ricardo Matsukawa/UOL - Ricardo Matsukawa/UOL
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Cronômetro na mão

Com o imprevisto e a momentânea falta de energia no sambódromo, em decorrência da intervenção da Enel, o cronômetro oficial do Anhembi apagou e permaneceu zerado durante o desfile. A solução: a contagem precisou ser feita manualmente por integrantes LigaSP que carregavam cronômetros manuais e digitais na própria avenida.

Cronômetro zerado durante o desfile da Mancha Verde no Carnaval de São Paulo - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Política

Como é tradição do Carnaval, a política também ganhou a avenida em 2020. A polêmica declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que as empregadas domésticas estavam indo demasiadamente à Disney com o dólar baixo virou fantasia na Mancha Verde. Uma ala fez referência a meninos precisarem vestir azul, e meninas, rosa, como afirmou a ministra Damares. Outras fizeram alusões a chamada "primavera feminista" e a Justiça, que não pode pender para nenhum lado.

Integrante de Mancha Verde como empregada que vai a Disney - Anahi Martinho/UOL - Anahi Martinho/UOL
Imagem: Anahi Martinho/UOL

Vivi é show

Viviane Araújo costuma consumir boa parte dos flashs quando está no Carnaval. E em 2020 não foi diferente. Desfilando pela 14º ano, Viviane Araújo, de fantasia colada vermelha e endiabrada, brilhou com fantasia representando a maldade. "Sou a antagonista, representação da vaidade, do mal que crucificou Jesus", explicou antes de entrar na avenida.

Mancha Verde é a quarta escola a desfilar no Sambódromo - Ricardo Matsukawa/UOL - Ricardo Matsukawa/UOL
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Luxo

Essa é a palavra que melhor define o que foi a Mancha. A bateria veio fantasiada de sacerdote romano, aqueles que entregaram Jesus. As baianas, de maçã do pecado. Vivi era a marca da maldade. Alegorias esbanjando luzes e brilho. O luxo refletiu e não só nas fantasias e adereços. Vimos um desfile muito colorido, em uma rica paleta de cores, apesar dos tons verdes predominantes de algumas alas. Foi bonito de ver, ainda mais com o bandeirão e os sinalizadores da torcida nas arquibancadas.

Mancha Verde é a quarta escola a desfilar no Sambódromo - Ricardo Matsukawa/UOL - Ricardo Matsukawa/UOL
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Pai! Perdoai, Eles Não Sabem o Que Fazem

Compositores Marcelo Casa Nossa, Guilherme Cruz, Rodrigo Minuetto, Rodolfo Minuetto e Darlan Alves
Intérprete Freddy Vianna

Só o amor pode curar o mundo
No altar do carnaval, canto em oração
A Mancha é a voz dos filhos teus
Olhai por nós meu Deus

Ó, Senhor, benditos os que rogam o perdão
Derrame sobre nós a tua glória
Verás que a dor, não foi em vão
No céu uma linda estrela brilhou, reluz o salvador
Eu choro ao ver que o pecado me consome
Sou as duas faces desse homem
Que há de vencer o mal
É preciso lutar, exaltando Penhas e Marias
Que clamam por direitos, igualdade
Essa é a tua vontade

Em nome do pai, amém
Justiça e paz, aos homens de bem
Deus não criou raça, e nos ensinou
Aos olhos não existe cor

Quero me deitar em verdes campos
Ver a natureza florescer
Não ter a maldade como herança
Fazer valer, cada amanhecer
É hora de darmos as mãos, cumprir a nossa missão
Perdoe se algo te fiz, me abrace vem ser feliz
Nunca perca a esperança
Sempre é tempo de sonhar
Pois vida é um sopro divino, a se revelar

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