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Com clima familiar e sem grana, Bloco Rodante faz folia pré-trio elétrico

Folião fantasiado de palhaço no Bloco Rodante, em Salvador - Aurelio Nunes/UOL
Folião fantasiado de palhaço no Bloco Rodante, em Salvador Imagem: Aurelio Nunes/UOL

Aurelio Nunes

Colaboração para o UOL, em Salvador

22/02/2020 02h20

Resumo da notícia

  • Bloco de Salvador mantém clima de festa família, avesso a multidões
  • Organizadores se esforçam para manter o bloco pequeno, mas cada vez mais pessoas se encantam pela festa
  • Falta dinheiro para a organização, mas voluntários trabalham para que o bloco saia todo ano

Houve um tempo em que o programa de Carnaval da família soteropolitana era botar as cadeiras na calçada para assistir ao desfile de foliões fantasiados acompanhados por charangas nas ruas. Até que Dodô e Osmar inventaram a Fobica e depois o trio elétrico, que trouxeram para a festa as multidões que formaram os blocos, ocuparam as arquibancadas e os camarotes.

Tentativas de resgate desse "Carnaval família" se multiplicam nos bairros que estão fora dos circuitos oficiais de Salvador. Uma das mais bem-sucedidas é o Bloco Rodante, que nesta sexta-feira (21) realizou seu 13º desfile pelas ruas de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico.

"O bloco cresceu, mas a gente tenta segurar, porque a ideia é continuar juntando os amigos, a família e as crianças", explica o comerciante Ademir Souza, fundador do Rodante em companhia da mulher, Dora Souza.

A brincadeira nasceu em torno do bar e restaurante de propriedade do casal, o De Veneta. A poucos metros dali, na Praça dos 15 Ministérios, fica a concentração do bloco, que, a despeito dos esforços de Ademir, arregimentou uma legião de fãs no desfile deste ano, grande parte fantasiada. Entre eles estava a família da figurinista Aletheayf, que pulava acompanhada da mãe, da irmã, do marido, dos filhos e do cunhado. "Todo o mundo aproveitou meus figurinos."

Aletheayf criou o estandarte do Rodante. É uma das muitas pessoas que trabalham sem remuneração para botar o bloco na rua. O DJ que animou a galera na concentração, por exemplo, recebeu de cachê apenas o valor do transporte de ida e volta para casa. "A gente precisava de R$ 13 mil para fechar as contas, mas só arrecadou R$ 5.000. A diferença a gente reúne na base da amizade, fica devendo favor", lamenta Ademir.

A precariedade financeira que quase levou o Rodante a suspender suas atividades em 2020 é, paradoxalmente, parte do segredo de seu sucesso. Acompanhado por uma charanga que interpreta clássicos do Carnaval baiano, o Rodante desfila despretenciosamente pelas ruas do Carmo, com um público heterogêneo, formado por gente de todas as idades.

Tudo no bloco inspira amenidades, não há a intenção de fazer da festa o palco para manifestações políticas ou exibições estéticas na forma de se vestir e de se portar, exceção feita a uma foliona vestida de empregada doméstica que foi à Disney e à outra carregando uma placa da campanha #EleNão.

"Me lembra muito o Coruja", relata Maira Rodrigues, moradora de Salvador, referindo-se ao bloco hoje comandado pela cantora Ivete Sangalo.

Ela conta que o Coruja não passava de uma brincadeira organizada por moradores do Santo Antônio Além do Carmo, que se reuniam para ensaiar todas as quintas-feiras. Por ser um dos mais antigos blocos da cidade, tinha prioridade na fila do desfile de domingo, segunda e terça de Carnaval, no Campo Grande. Foi justamente essa preferência que transformou o bloco num dos maiores e mais rentáveis do Carnaval baiano.

Um risco que, pelo menos por enquanto, o Rodante não corre. Para alegria de seus seguidores.

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