Topo

Rio de Janeiro

Irreverência e protesto abrem o Carnaval do bloco Carmelitas, no Rio

Thiago Camara

Colaboração para o UOL, no Rio

21/02/2020 16h38

A "balbúrdia" do bloco Carmelitas começou às 14h30, no bairro de Santa Teresa, região central do Rio. Com tempo nublando e foliões ansiosos desde o meio-dia, o samba-enredo deste ano trouxe críticas diretas aos governos, além de celebrar seus 30 anos de Carnaval.

"O samba faz alusão ao bonde de Santa Teresa, aos trinta anos do bloco e, é claro, várias alusões a realidade política nacional, que é um prato cheio pra nós. O Brasil é o país da piada pronta", disse Alvanisio Dasmaceno, presidente do bloco.

Reza a lenda que uma irmã Carmelita, que vivia num convento do bairro, pulou o muro pra brincar um Carnaval, numa sexta-feira, e só voltou para suas obrigações espirituais, na Quarta-feira de Cinzas. A rebeldia da irmã que dá nome ao bloco, também está presente num dos refrões do samba: "nem juiz, nem pastor, muito menos ditador, hoje vão me segurar", em referências aos governos estadual, municipal e federal.

E tem folião em busca da Carmelita há pelo menos 11 anos. Os amigos e decoradores Alexandre Ramos, 49 anos, e Diego Torres, 34, foram fantasiados de padre para acharem de vez a irmã fugida.

"Estamos caçando a bendita freira que desapareceu. Mas já estamos caindo em pecado, porque a gente começa a beber, aí já viu...", explica Alexandre.

Apesar do empenho na produção da fantasia, Diego não acredita que a freira apareça nesta sexta-feira de Carnaval.

"Nós estamos numa missão, mas talvez ela só volte pro convento na Quarta-feira de Cinzas", brinca ele.

Com véu da freia também estavam os cerca de 120 ritmistas da bateria do bloco. Neste ano eles também colocaram um chapéu na forma do famoso bonde de Santa Teresa com frases como "O bonde é do povo. Privatização não", para fazer coro a mais um protesto.

"Esse ano estamos fazendo uma reivindicação especial da volta do bonde linha Paula Mattos. Tínhamos duas linhas no bairro e agora só temos uma. Queremos que o governo retome as obras para que o bairro fique com as duas linhas e elas se mantenham públicas. Que seja um transporte público para o bairro e não para turistas", explica Dasmaceno.

Folia para gringo

Acostumada a receber muitos turistas, sobretudo estrangeiros, Santa Teresa viu mais uma vez uma diversidade de nacionalidades subindo e descendo suas ladeiras. O casal de alemães, Susanne Schmith e Lars Stuger faz sua estreia, não só no Carmelitas, como no Carnaval do Rio, e aprovou.

"É muito bom, as pessoas são muito simpáticas. É um atmosfera incrível", disse Lars.

Susanne endossou a fala do namorado.

"Soubemos que esse bloco abre os festejos no Rio. Nós estamos muito felizes e de estarmos nesse começo do Carnaval".

Em uma criativa fantasia de Corona Vírus, o argentino Nicolas Dionisi era parado, minuto sim, minuto também pra outros foliões tirarem foto com ele. Filho de mãe brasileira ele disse ao UOL, em bom por português, que tinha apenas um objetivo nesse Carnaval.

"Eu vim para o Rio para ficar famoso. Vou ser o argentino que vim pro Brasil e ganhei o Carnaval", explica ele.

Rio de Janeiro