Doutores da tecnologia transformam Rosas de Ouro em campus universitário
A Rosas de Ouro virou uma grande escola de tecnologia depois de aceitar o desafio de apresentar inovações da Indústria 4.0 no enredo "Tempos Modernos". O convite veio antes mesmo do desfile das campeãs de 2019 (a Rosas ficou em 3º lugar), na quarta-feira de cinzas.
Espalhados pela quadra da agremiação há professores e alunos universitários, mestres e doutores em tecnologia, artes e cinema, engenharia... O grandioso projeto conta com a expertise das universidades FEI, Mauá, USP e apoio de empresas e startups.
A ideia surgiu da necessidade de mestres e professores democratizarem a Revolução 4.0 e tudo o que ela pode oferecer nas áreas de produtividade, saúde e comunicação. Logo depois de lançar o livro "Automação & Sociedade: Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil" e se dar conta de que o alcance foi insignificante, mestres das áreas envolvidas perceberam que precisavam levar urgentemente uma mensagem para o grande público: em vez de ter medo de perder o emprego para um robô, as pessoas precisam se reinventar, se atualizar e se preparar para essas mudanças.
Elcio de Brito da Silva, um dos idealizadores do livro e Doutor em Ciências pela USP, diz que o assunto precisa ser democratizado e nada melhor do que fazer isso via Carnaval. E o assunto é urgente: "Segundo um levantamento do SENAI, será preciso requalificar 10 milhões de brasileiros até 2023".
Olha o app aí, gente!
Uma das preocupações iniciais foi não correr o risco de algo dar errado no dia do desfile, o que faria a escola perder nota. Por isso serão dois desfiles: um físico e outro virtual, que poderá ser visto após o folião baixar gratuitamente o aplicativo Carnaval 4.0.
Com o app será possível, entre outras novidades, colocar o robozinho sambando onde você quiser, acompanhar uma passista de quase dois metros em um telão instalado no terceiro carro, usar uma fantasia virtual e postar no Instagram e participar de um quiz para saber a quantas andam seus conhecimentos sobre a revolução 4.0.
Além disso, algumas pessoas da escola, principalmente diretores de harmonia, serão avisadas com uma vibração em uma pulseira caso a escola esteja atrasada, adiantada ou correndo muito, por exemplo.
"Com essa pulseira marcamos os batimentos cardíacos. O casal de mestre-sala e porta-bandeira tem performance atlética. No último ensaio os dois desfilaram como se tivessem atravessado o Sambódromo cinco vezes", conta Ari Costa, professor do Instituo Mauá de Tecnologia.
Semente virtual
Essa parceria do samba com as universidades promete deixar bons frutos para o futuro do Carnaval e, consequentemente, para os brasileiros em geral. Aulas, palestras para a comunidade da Roseira, impressora 3D, robôs, óculos de realidade virtual, braço biônico...
"Eles nos ensinaram muita coisa. Somos a primeira escola a levar essa tecnologia para o Anhembi. É um grande desafio e a Rosas é precursora nisso", diz Angelina Basílio, presidente da escola, acreditando no melhor resultado: "Eu vou no topo. Estou acreditando na vitória".
Com vitória ou não, André Machado, o carnavalesco da escola, fala sobre a importância de jogar a discussão para todos. Ele conta que viveu a utopia negativa sobre o futuro, mas isso antes de conhecer a fundo o tema da Indústria 4.0: "Quando você desconhece um tema, acaba criando uma barreira. Hoje, com todos esses estudiosos aqui [mestres, doutores, alunos de universidades], chego a pensar se essa revolução não veio exatamente para salvar a humanidade. Claro que isso só acontecerá se os interesses da população estiverem em primeiro lugar. E se todos tiverem acesso às inovações. Não pode ser só para os ricos".
Questionamento
Negro e com antepassados escravos, André faz uma intensa comparação: "O que está por vir pode ser pior que a escravidão, porque quem não estiver preparado cairá no esquecimento. Essas pessoas serão consideradas inúteis para o mundo". Para o carnavalesco é necessário criar questionamentos e depois encontrar novos caminhos.
Outra questão unânime entre os doutores da tecnologia 4.0 e a comunidade da Roseira é que o amor e a emoção de um sambista jamais serão substituídos por uma máquina - por mais evoluída que ela seja.
Documentário em 360
Os bastidores de toda a aventura vivida para levar o enredo "Tempos Modernos" para o Sambódromo estão sendo filmados em 360 graus e serão exibidos na forma de um documentário - a primeira exibição deve acontecer na segunda edição do X Reality USP, festival que acontece em junho.
"Vamos unir a ciência da academia com a ciência popular. Esse desfile será uma resposta incrível para o que estamos vivendo. Essa época na qual a cultura e a pesquisa estão tão esquecidas e desvalorizadas", diz o professor Almir Almas, coordenador do Laboratório de Arte, Mídia e Tecnologias Digitais, um grupo de pesquisa ligado à ECA-USP.
Jane Marques, professora associada da USP, acredita que arte e tecnologia podem gerar emoção e diz que o Carnaval nunca mais será o mesmo: "Também acredito que essa é uma experiência incrível e não dá para voltar atrás. Carnaval sempre foi muito artesanal, artístico, mas o mais importante é reunir e mostrar a arte com tecnologia".
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