Com mudança de local, Desliga da Justiça acaba desfile com confusão no Rio
O Desliga da Justiça começou seu décimo primeiro Carnaval ocupando a rua Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. Parecia um filme ou um quadrinho repleto de heróis e vilões. Mas o novo local não agradou os foliões.
"Estavam imprensando a gente, empurrando e roubando", conta Luciana Ramos, moradora da Rocinha que foi com a filha pequena.
Dos lados da estrutura reservada ao bloco, houve aglomeração, empurra-empurra, foliões pulando os muros do Jockey Club Brasileiro e outros passando mal, nas grades de contenção.
O primeiro set do bloco teve que ser interrompido. Por determinação da Prefeitura do Rio, o bloco saiu da Praça Santos Dumont, na Gávea, há 200 metros do novo local.
"Bloco de rua é resistência. Tivemos um investimento alto e nos viramos para fazer acontecer. Estamos com todas as exigências aprovadas. Mas precisamos de parceria dos órgãos públicos", explica Leandro Monteiro, presidente do Desliga.
O UOL teve acesso ao mapa aprovado pela Prefeitura que indicava um local com uma rota de fuga pela Rua Major Rubens Vaz, diferente de onde o bloco foi obrigado a ficar.
O Secretário municipal de Eventos, Felipe Michel, afirmou ao UOL que a mudança foi uma decisão da Riotur. "Devido a inúmeras reclamações dos moradores do bairro e do entorno da Praça Santos Dumont", explica.
Apesar de a prefeitura estar presente no bloco com agentes da secretaria municipal de eventos, agentes da Riotur, não conseguiram evitar o tumulto. Coube aos organizadores do bloco agirem.
"O que a gente pode fazer, estamos fazendo. Abrimos a grade para os foliões em aperto entrarem na área de apoio do bloco", conta Leonardo Monteiro,
Para os próximos dias do Pré-Carnaval e durante a folia, o secretário fez um balanço da ação no Desliga.
"Tivemos um princípio de problema, mas tomamos medidas rápidas pensando sempre na segurança da população", explica o secretário.
Heróis e vilões mirins
Mesmo com os problemas, foliões e os 120 batuqueiros entraram no clima das fantasias elaboradas, como João Victor Machado de 13 anos, que desde os 4 acompanha o bloco, junto com seus pais.
"Como amanhã vai ter o Oscar e o Coringa está concorrendo, vim em homenagem a ele", conta o menino que começou a frequentar o bloco por ser fãs dos super-heróis.
Essa brincadeira de ver e ser um vilão ou herói também atraiu a servidora pública Sheila Colatino. Moradora da Pavuna, cerca de 20 km de distância do Jardim Botânico fez sua estreia como Mulher-Maravilha e levou o pequeno Arthur, de 5 anos.
"Ele ama super-heróis e já tirou foto com vários. Estamos muito animados, tanto a mãe, quanto o filho", afirma ela.
Crítica política
Carnaval é brincadeira, mas também é coisa séria. Para além dos heróis, a publicitária Vanessa Aguiar gastou um dia de trabalho para produzir uma fantasia de geosmina, a alga que gerou o cheiro e gosto barrenta na água distribuída pela CEDAE. E explicou o tom da sua crítica.
"O vilão nesse caso é o Witzel, o governo. Tem que ter uma Liga da Justiça completa para acabar com esse problema", brinca ela sobre a crise hídrica que assola o Rio de Janeiro desde os primeiros dias de 2020.
Até uma recente fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre servidores públicos foi tema de fantasia. Com uma placa, o servidor público Marcos Antônio, protestava: "Parasita é o senhor, ministro banqueiro".
"Ele não podia colocar no mesmo balaio servidores como professores, profissionais da saúde, policiais. Se ele quis se referir a alguém que tem privilégios, que indicasse os nomes.
Carnaval é o espaço de colocarmos a nossa crítica para fora porque estamos num ambiente democrático", disse ele
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