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Blocos não oficiais levam multa no Rio e reagem: "é ameaça de repressão"

Edu Pereira é um dos fundadores do Cordão do Boi Tolo, que tradicionalmente anima os foliões no centro do Rio - Marcelo de Jesus/UOL
Edu Pereira é um dos fundadores do Cordão do Boi Tolo, que tradicionalmente anima os foliões no centro do Rio Imagem: Marcelo de Jesus/UOL

Thaís Sant'Anna

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/02/2020 04h00

A Prefeitura do Rio de Janeiro passou a multar os blocos de rua não autorizados para o Carnaval 2020. A medida foi implantada por Felipe Michel, da Secretaria de Envelhecimento Saudável, Qualidade de Vida e Eventos.

"O desfile de um bloco exige uma mobilização de vários órgãos da Prefeitura, para garantir a segurança dos foliões. Os blocos que ignoram as exigências para obter a autorização para o desfile estão oferecendo risco para os foliões", informou a Secretaria de Eventos, por meio de nota enviada ao UOL.

Edu Pereira, um dos fundadores do Cordão do Boi Tolo e um dos representantes do Movimento Desliga dos Blocos, de apoio ao Carnaval de rua independente do Rio, diz que a prefeitura quer acabar com a folia carioca.

"A ameaça de repressão, com multa aos chamados blocos não oficiais, vejo como mais uma tentativa de destruir o Carnaval do Rio", desabafa Pereira, em entrevista ao UOL.

Multa pode chegar a R$ 10 mil

De acordo com o comunicado da secretaria municipal, haverá uma fiscalização rígida para coibir os blocos "piratas" e a multa, a partir de R$ 1.300, pode chegar a R$ 10 mil, variando de acordo com a quantidade de lixo por metro quadrado deixada pelo bloco.

No último fim de semana, três blocos já foram multados. Foram eles o Põe na Quentinha, em Copacabana, o Chepa, em Santa Teresa, e outro ainda não identificado, no Porto Maravilha.

"A Secretaria de Eventos levantará os dados dos organizadores destes blocos e, através do CPF, vai multá-los, num processo parecido com o que já acontece no Lixo Zero", diz a nota.

Vale lembrar que a agenda oficial de blocos do Rio ainda não foi divulgada. Apenas os chamados megablocos, de artistas como Preta Gil, Anitta, Claudia Leitte e Ludmilla, tiveram sua programação anunciada.

"Querem destruir o Carnaval do Rio"

A cobrança de multas não foi bem vista pelos organizadores de blocos de rua independentes do Rio. Para Edu Pereira, do Cordão do Boi Tolo, a prefeitura quer acabar com a folia carioca.

"Quando passamos a discutir o que é bloco oficial e um bloco não oficial, já perdemos o sentido de brincar o carnaval", diz ele.

Edu ressalta que o Carnaval de rua é uma manifestação cultural e que o Rio de Janeiro é referência dessa festa. Ele acredita que a cidade de São Paulo está levando vantagem no Carnaval deste ano, por conta do apoio público.

"A prefeitura [do Rio] deveria se preparar, até porque o retorno financeiro com o turismo é notório. Estamos perdendo neste quesito para São Paulo este ano. E aí, fica a pergunta: por quê? Não é questão de disputar quem faz o melhor Carnaval, mas sim a cidade que oferece a melhor infraestrutura e a maior empatia à festa de Momo", completa.

O representante do Movimento Desliga dos Blocos salienta que blocos de Carnaval são manifestações espontâneas de cultura e que não se pode marginalizar isso. Ele ainda critica o investimento da prefeitura nos megablocos.

"O que vejo é a prefeitura dando espaço para megaeventos, com shows de artistas, chamando de blocos de Carnaval. E esses eventos estão sendo usados como referência para que a prefeitura justifique sua falta de competência e má vontade para o verdadeiro carnaval de rua", finaliza.

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