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Vítima de acidente com alegoria na Sapucaí volta a andar após três anos

Vítima de acidente com alegoria na Sapucaí volta a andar após três anos - Montagem de fotos de arquivo pessoal
Vítima de acidente com alegoria na Sapucaí volta a andar após três anos Imagem: Montagem de fotos de arquivo pessoal

14/02/2020 11h38

Quando as escolas de samba começarem a cruzar a Marquês de Sapucaí, daqui uma semana, a fotógrafa Lúcia Mello, de 59 anos, viverá um momento pelo qual ela esperou incansavelmente nos últimos três carnavais. Ela voltará ao Sambódromo, um de seus lugares favoritos, com o coração aliviado por estar conseguindo andar novamente e deixando, aos poucos, a cadeira de rodas. Em 2017, ela foi uma das vítimas do acidente com uma alegoria da Paraíso do Tuiuti e teve a perna esquerda fragmentada ao ser esmagada pelo carro no Setor 1. Agora, após quase 20 procedimentos cirúrgicos e muitas sessões de fisioterapia, ela tem dado os primeiros passos após a recuperação, com o apoio de andador e muleta.

Lúcia contou à Coluna do Leo Dias como foi o exato momento em que conseguiu colocar os pés no chão e voltar a se equilibrar sozinha depois de três anos sem andar. O tempo que passou sobre a cadeira de rodas trouxe consequências emocionais e práticas: além de ter interrompido quase totalmente a carreira profissional, ela precisou deixar a própria casa e passar a morar com a filha para garantir os cuidados e a acessibilidade que precisava durante o tratamento médico. A volta para o próprio lar só ocorreu em dezembro passado.

"Segui recomendação médica para tentar sair da cadeira de rodas. Levantei da cama, puxei o andador para mim e consegui ir até a porta do quarto. Meu marido (André) estava deitado e ficou branquinho de nervoso, com os olhos cheios de lágrimas. Nos abraçamos e choramos juntos emocionados. Gritei minha filha e ela veio correndo achando que tinha acontecido alguma coisa. Ficou parada com os olhos arregalados. Chamei meu outro filho e minha nora que moram na mesma vila. Foi um chororô só", relembra Lúcia, que fez questão de registrar o momento: "Filmei meus passinhos e mandei para os outros dois filhos e a emoção de todos nós foi imensa".

Desde o acidente, além das várias internações para recuperar a perna esquerda (a última em setembro de 2019), Lúcia esteve muito presente em eventos carnavalescos. Embora tenha sido atingida por uma falha de segurança — só depois do acidente foi que a Liga das Escolas de Samba (Liesa) passou a fazer o teste do bafômetro com os motoristas, por exemplo — a fotógrafa continuou atuando como integrante ativa da festa. Ela contou, inclusive, com o apoio moral de personalidades do Carnaval e componentes de agremiações que já a conheciam antes do ocorrido e que a incentivaram na recuperação. Nas quadras em que havia acessibilidade, chegou a comparecer mesmo de cadeira de rodas para acompanhar de perto os ensaios dos quais sempre gostou. O mesmo ocorreu nos desfiles.

"Na Sapucaí, este ano, ainda estarei de cadeira de rodas. É uma atividade na qual se anda muito e ainda não estou preparada para isso. Foram três anos sem colocar o pé no chão. A cada progresso me emociono e fico imensamente feliz, e só tenho a agradecer a Deus sempre esse milagre da minha vida", comemora Lúcia, que faz questão até de participar da cerimônia de lavagem da Passarela do Samba na noite deste domingo, 16.

Além de Lúcia, outras 19 pessoas ficaram feridas em 26 de fevereiro de 2017, Domingo de Carnaval, quando o motorista da última alegoria do desfile da Paraíso do Tuiuti perdeu o controle da direção e chocou o carro contra as estruturas de proteção do primeiro setor da Sapucaí. Entre os casos mais graves, estavam Lúcia e a jornalista Elizabeth Ferreira Jofre (a Liza Carioca), que morreu no hospital cerca de dois meses após a tragédia. O acidente levou vítimas e seus familiares a acionarem a Liesa e a Tuiuti na Justiça em ações que continuam em curso atualmente.

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