Liminar da Justiça destitui Regina Celi, presidente do Salgueiro
Uma das mais tradicionais escolas de samba do Carnaval carioca, os Acadêmicos do Salgueiro passam por um momento de turbulência política, com dois grupos disputando o comando da agremiação. Presidente da escola há 10 anos, Regina Celi Fernandes tem a eleição que a conduziu a mais quatro anos à frente da escola contestada pela chapa de oposição, liderada por André Vaz.
A novela, que já dura três meses, teve um capítulo importante nesta sexta-feira (17). Em decisão liminar obtida no final da tarde, a juíza Renata Gomes Casanova de Oliveira e Castro, da 2ª Vara Cível, determinou o afastamento da presidente da escola e a posse da chapa de oposição em um prazo de 48 horas.
Em caso de descumprimento, Regina deverá pagar uma multa diária de R$ 1 mil. A presidente se pronunciou através de sua assessoria: “Diante da decisão judicial, informo que cumprirei a determinação e afirmo que as medidas cabíveis já foram tomadas para suspender a liminar.”
O imbróglio começou em abril, poucos dias antes da eleição. A chapa de oposição conseguiu uma liminar cancelando o pleito, marcado para o dia 6 de maio, alegando irregularidades na chapa de Regina. A dois dias da eleição, porém, a chapa da situação derrubou a decisão e a votação ocorreu, com vitória de Regina Celi por 247 a 124 votos. Porém, a oposição continuou a recorrer em diversas instâncias na Justiça.
No início da semana, o grupo de André Vaz conseguiu um documento assinado pelo presidente da Comissão Eleitoral da agremiação, Marcelo Monteiro, que determinava a sua posse – que foi considerado válido pela juíza.
Enquanto a batalha judicial era travada, a comunidade do Salgueiro se preparava para o Carnaval em um mar de incertezas. Com um enredo que a comunidade sonha há muitos anos (“Xangô”), o Salgueiro passou por algumas crises nos últimos dois meses. Depois de 10 anos comandando a comissão de frente da escola, o casal Hélio e Beth Bejani deixou a agremiação. Sérgio Lobato foi contratado para a função.
Uma das melhores porta-bandeiras do Carnaval carioca, Marcella Alves foi afastada de suas funções por estar grávida (ela dará a luz em dezembro e pretendia se preparar para o desfile, que será em março). A presidente afirmou que seria apenas uma licença, mas Marcella, em suas redes sociais, a desmentiu. Em solidariedade, o mestre-sala, Sidclei, também deixou a escola.
Por outro lado, Regina reformou a quadra, criando um novo palco para a bateria, e nomeou como presidente de honra o empresário Rafael Alves, irmão de Marcelo Alves, presidente da Riotur (Empresa de Turismo do Rio de Janeiro). Com a troca de poder, surgem dúvidas sobre como serão os próximos dias na vermelho e branca.
A poucos instantes de assumir a presidência da escola, André Vaz garante que vai recontratar o casal de mestre-sala e porta-bandeira e tornará nulos todos os atos tomados por Regina Celi após a sua eleição.
“Ela estava inelegível para o cargo e mesmo assim o assumiu. Desta forma, consideramos inválidos os atos tomados por ela após a eleição de 6 de maio. Por outro lado, afirmo que todos os profissionais que hoje trabalham na escola serão mantidos”, diz André, que ainda reitera que uma apuração dos gastos será realizada. “O salgueirense tem o direito de saber para onde foi o dinheiro que a escola arrecadou nos últimos anos”.
Advogado da escola, Ubiratan Guedes afirma que irá recorrer da decisão e que toda a movimentação da oposição baseia-se em um erro de interpretação. “Eles afirmaram que a Regina estava inelegível, mas a Justiça permitiu a eleição e ela venceu por 75% dos votos. A vontade dos salgueirenses é soberana. Se a Justiça determinar que a chapa estava errada, que se faça outra eleição. Mas, nunca assumir tendo perdido. Se declarar vencedor com apenas 25% dos votos é golpe”, afirma.
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