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Anderson Baltar

Em parceria com Hans Donner, Mocidade falará sobre o tempo no Carnaval 2019

Hans Donner com a mulher, Valéria Valenssa, em camarote no Carnaval do Rio  - Anderson Borde/Divulgação
Hans Donner com a mulher, Valéria Valenssa, em camarote no Carnaval do Rio Imagem: Anderson Borde/Divulgação

25/05/2018 22h49

Em entrevista coletiva realizada em um hotel na Zona Portuária do Rio de Janeiro, a Mocidade Independente de Padre Miguel anunciou, na noite desta sexta-feira (25), o seu enredo para o Carnaval 2019.

"Eu sou o Tempo. Tempo é Vida", será desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada e terá o auxílio luxuoso do designer Hans Donner, que trabalhará em parceria com a escola de Padre Miguel.

"O que estou vivendo aqui é mais do que um sonho e eu não quero acordar. Esse encontro do design com a experiência do Carnaval é fantástico", afirmou Donner. O artista disse que o desejo de ver um enredo que aborde a temática do tempo surgiu há mais de 30 anos, desde quando realizou um trabalho em Paris que buscava dar uma linguagem visual para a incessante relação entre o homem e o tempo.

O projeto começou a ganhar forma no último Carnaval de um jeito inusitado: convidado a criar a linguagem visual de um camarote na Sapucaí, fez amizade com o vice-presidente da Mocidade, Rodrigo Pacheco, que ocupava o espaço ao lado.

"Por coincidência, a proposta encontrou eco dentro da Mocidade, já que o Louzada já tinha um enredo escrito há alguns anos sobre este tema. Esse projeto sairá do papel graças ao alinhamento de ideias com o Hans, que nos será muito útil dando dicas e possibilitando parcerias", explica o vice-presidente, que não esconde sua empolgação com o projeto de Carnaval da verde e branca de Padre Miguel. "Vocês verão uma Mocidade com cara de Mocidade", disse.

Alexandre Louzada deu uma breve explicação do que será o enredo da Mocidade na avenida. "Vamos mostrar a relação do homem com o tempo e como ele acaba escravizado por conta disso.

Apresentaremos o tempo aplicado à produtividade humana, as tentativas do homem em controlar e armazenar o tempo através de bibliotecas e museus.

Também abordaremos a busca do espaço e os benefícios da tecnologia, que otimizaram o tempo para as tarefas cotidianas.

Mas, a mensagem final é que precisamos saber aproveitar melhor o nosso tempo para viver da melhor forma possível. Tempo é vida e os momentos que ficam na memória para sempre", discorreu o carnavalesco.

A sinopse do enredo foi divulgada. A inscrição dos sambas-enredos será no dia 15 de julho e a definição do hino oficial será no dia 15 de setembro. "Tudo para termos bastante tempo para que o nosso samba seja bem ensaiado para ser bem gravado no CD. Neste ano, todo o tempo estará otimizado para que possamos voltar a ser campeões", concluiu Pacheco.

Confira a sinopse da Mocidade para o Carnaval 2019:

Apresentação

Mais um carnaval se apresenta. É o tempo que passa e novamente estamos aqui, carregando no peito a estrela da Mocidade Independente de Padre Miguel, que leva em seu nome a eterna juventude.

Para a Mocidade, que será sempre jovem, o tempo é fonte de inspiração no carnaval de 2019.

Eu sou o tempo, nós somos o tempo. Já pensou nisso?

Todos construímos os nossos momentos e embalamos as nossas histórias nos braços de algo intocável, incontrolável e, por vezes, imensurável.

Passa rápido, devagar, não volta, não perdoa e queremos sempre mais.

Tempo é vida; a vida é o tempo. Por isso, relaxe e embarque nesse sonho com a gente. Venha aproveitar esses momentos e monte o quebra-cabeças da sua própria história. Deixe a sua mente bailar, no ar, em novos tempos.

É tempo de Mocidade!

Sinopse do Enredo

Eu sou o Tempo. Tempo é Vida.

Tempo, tempo, tempo, tempo…

As batidas do meu coração marcam o compasso no tambor do samba, quando ecoa o apito da partida do trem da vida, nos trilhos do tempo, caminho infinito, riscado no espaço pela cauda de luz da estrela-guia, que cria um vácuo de sonho que a ciência desafia e que invade a morada de Cronos, a antimatéria que brilha, magia, e que se comprime e se expande, se dobra, retrocede e avança, num vai e vem que se esvai e se lança numa viagem louca, do presente ao passado e, numa reviravolta, de volta para o futuro.

Tempo que aqui se define ou que nasce indefinido, num tempo quando o tempo sequer existia no mundo, fruto do Caos, num dado momento, quando o Céu se encontrou com a Terra e concebeu o titã implacável, senhor da razão e do destino, o tempo que se mede desmedindo.

Tempo que a humanidade buscou entender acompanhando a dança dos astros, bailando entre a luz e a treva, dia e noite se repetindo e se reinventado constantemente, luas e marés mutantes, pois nada é igual ao que era antes, antes de tudo mudar.

Tempo de florescer, de plantar e de colher, tempo de hibernar e de buscar onde se aquecer, tempo a brotar em épocas, ritos em profusão, oferendas, estações, declarações de fé em solstícios e equinócios, sagrações da primavera em cada alvorecer.

Tempo de descobrir, marcar, calcular. Quanto tempo o tempo tem? Tempos remotos de se observar o Sol a riscar de sombra a haste sobre a terra, horas que se desenham, nas gotas da clepsidra, tempo que orna e transborda. Tempo que ocioso passeia, de cima para baixo, e que se revira nas ampulhetas – o tempo que desliza nas areias, vira-virando o mistério.

Tempos idos medidos em calendários antigos, civilizações e impérios – apogeu e queda. Tempo que do universo é o regente e que em ciclos se divide no lado de cá do ocidente, envolto em enigmas entre o povo Maia, tempo que se faz serpente.

Tempo viril, “yang”, que fecunda as terras do oriente, regando de chuva o seu chão. Tempo que se faz festejado, tão aguardado, tempo mítico dragão.

Tempo que gira perverso: eis que é tempo de inventar o tempo e de se aprisionar dentro dele. Engrenagens em movimento, tic-tac, relógios, máquinas do tempo pra lá e pra cá em um pêndulo. Som das horas a despertar, o galo que já cantou.

Tempo que urge, a pressa, é cedo, é tarde, é hora de trabalhar, tempo que corre, dispara, tempo que é dinheiro, aposta, notícia, tempo de vida, o tempo que de fato não para.

Tempo que jaz no tempo, repousado nas camadas de tempos passados. O tempo redescoberto, preservado em museus e livros, frases então reveladas, arquivo do tempo.

Tempo que brilha em mentes a frente do próprio tempo e, tal qual uma equação, viaja anos-luz na imensidão.

Ciência equilibrada em teorias que em dobras do tempo, faz o longe quase perto e se teletransporta. Ou não?

Tempo virtual, memória atemporal que a tecnologia armazena no ar, nas nuvens. O que antes era ficção científica, hoje é realidade.

Tempo que se congela estéril na ilha glacial, Aíon, guardião da eternidade, faz da grande geladeira a nossa herança, a esperança de preservação.

Tempo, indomável tempo, de Kairós, o fragmento, único como o sopro divino, tempo de Deus que não é medido, tempo para ser vivido, sem pressa, sem medo, vida que segue, tempo indesvendável, tempo que é segredo e árvore sagrada.

O toque da inspiração vem num estalo de tempo: a arte se faz imortal e se eterniza na memória, de geração a geração, de voltas e reviravoltas, na tela do carnaval ou em uma explosão de cor no meio desse povo, assim como a nossa escola, que atravessou os trilhos do tempo e se imortalizou na história.

Tempos de glórias, descritos por seus poetas nos seus lindos sambas, das paradinhas inesquecíveis, dos seus gênios artistas que lançaram tantas cores nos seus tantos carnavais.

Ela, a eterna juventude, Mocidade Independente, que carrega a estrela, que é o cosmo, como emblema, o verde da brotação que se renova e o branco da paz de espírito.

É possível parar o tempo na síncope do batuqueiro. Hoje o trem que transporta o futuro, que recuperou o tempo perdido, na vanguarda, redemoinho, acelera e retorna orgulhoso, na certeza de novas conquistas – e conduz a sua gente à mais infinita alegria!

Vira-tempo no templo do samba, eis que chega o nosso momento. Uma voz ecoa na noite: “Vamos lá! A hora é essa!” Coloque a fantasia, ouça o som da bateria.

É tempo de desfilar!

Alexandre Louzada

Anderson Baltar