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Tatuapé e Dragões são a vitória do Carnaval moderno e organizado

Jussara Soares

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/03/2017 07h37

Campeã e vice-campeã do Carnaval de São Paulo de 2017, respectivamente, Acadêmicos do Tatuapé e Dragões da Real têm muito mais em comum do que o total de pontos que acumularam no final da apuração: 269,7. Embora a primeira tenha ficado com o título graças ao critério de desempate de samba-enredo, ambas são igualmente representantes do Carnaval moderno, em que planejamento e gestão são aplicados para fazer diferença nos espetáculos na avenida, no bom relacionamento com a comunidade e, consequentemente, nos resultados.

Tanto a Tatuapé quanto a Dragões até pouco tempo desfilavam pelo Grupo de Acesso e chegaram à elite do samba dispostas a ficar. Por mais impossível que parecesse, nunca fizeram um desfile apenas para “não cair”, mas sonharam e se prepararam para voar mais alto e estar entre as grandes.

Com planejamento, mesmo quando tinham condições mais modestas, sempre cumpriram à risca o cronograma. Semanas antes dos desfiles, quando muitos barracões correm contra o tempo, suas alegorias e fantasias já estavam em fase de finalização. Isso significa não apenas acabamentos com mais qualidade, mas uma comunidade mais tranquila, feliz e focada em evolução e harmonia na reta final.

Com 64 anos de fundação, a Tatuapé, que encantou o Anhembi ao mostrar uma África festiva, é uma das mais antigas escolas de samba de São Paulo e nunca havia conquistado um título no Grupo Especial. Em 2010, chegou a cair para o Grupo 1, uma categoria abaixo do Acesso. Foi nessa época que voltou para a escola Eduardo Santos, o atual presidente. Diretor de marketing, com experiência em grandes empresas de comunicação, ele é o líder de diretores que ajudaram na retomada da agremiação e na motivação da comunidade.

Por uma questão de estratégia, o samba-enredo, quesito que deu o título à escola, é decidido de modo interno, ao contrário das demais agremiações que fazem as escolhas abertas ao público. E Tatuapé, ano após ano, tem apresentado belas letras e melodias.

Em pouco tempo, os resultados começaram a vir. Em 2013, a escola já estava de volta para o Grupo Especial e, no ano passado, conquistou um inédito vice-campeonato. Neste ano, ao sair da avenida, o presidente, em lágrimas, estava certo de ter feito o melhor desfile da história da agremiação. Não quis falar em resultado. Sabe que no Carnaval uma pena fora de lugar pode custar um título.

Já a Dragões, fundada em 2000 por um grupo de associados da torcida do São Paulo, é a mais jovem escola do Grupo Especial. Chegou à elite em 2012 e, nos três anos seguintes, voltou para o Desfiles das Campeãs com uma quarta colocação e dois quintos lugares. Em 2016, um jurado esqueceu de atribuir nota de harmonia e a escola terminou em sexto.

A agremiação não se limita a ser uma entidade de torcida. Quando está no sambódromo, faz Carnaval com temas diversos, sem restrições de cores, e nem faz do desfile uma exaltação ao São Paulo. É uma escola de samba que, inclusive, tem entre diretores torcedores de outros clubes.  Na quadra, famílias de todos os times são bem-vindas.

O presidente Renato Remondini, o Tomate, de 42 anos, é funcionário público. Por 11 anos, trabalhou como administrador em uma seguradora, de onde traz os conhecimentos em gestão e de planejamento. A ousadia e a felicidade ficam, segundo o presidente, por conta dos jovens que integram a Dragões e que têm muita vontade de vencer. E eles venceram. Emocionaram o Anhembi cantando Asa Branca, conquistaram prêmios de melhor escola de sites especializados e o vice-campeonato, o melhor resultado de sua recente história.

Neste ano, Tatuapé e Dragões deram a vitória  para o Carnaval moderno, onde as escolas continuam sendo paixão, mas são geridas como grandes empresas em buscas de resultados e espetáculos cada vez melhores.

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