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Rio de Janeiro

Carnaval marcado por acidentes deixa disputa pelo título em segundo plano

Anderson Baltar

Colaboração para o UOL

28/02/2017 06h26

O Carnaval de 2017 do Rio de Janeiro entra para a história de uma forma triste. Nunca a Passarela do Samba tinha sido palco de tantas cenas trágicas. Os acidentes com os carros alegóricos de Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca deixam o coração dos amantes da folia com uma ferida difícil de curar.

Pela primeira vez, o noticiário até a Quarta-feira de Cinzas não será dominado pela gostosa expectativa sobre qual escola será a grande campeã. Todos estarão preocupados com o estado de saúde das vítimas internadas após os acidentes na avenida.

Após a trágica ocorrência de domingo, o discurso dos dirigentes, tanto da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) quanto do Paraíso do Tuiuti, era construído em torno de uma palavra: fatalidade. Ou seja, algo que fugiria à ordem natural das coisas. Não é mais possível que o problema do gigantismo dos carros alegóricos seja varrido para baixo do tapete. É hora de a comunidade do samba encarar de frente a questão. É hora de tentar entender o que ocorreu e promover as modificações necessárias.

O gigantismo dos carros alegóricos parece ser inevitável devido às dimensões da Sapucaí, mas o evento ocorrido durante o desfile da Unidos da Tijuca tem outra característica. A alegoria em questão não era tão grande, porém carregava um número expressivo de componentes fazendo coreografias --outro sintoma do Carnaval contemporâneo.

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O desabamento do segundo carro alegórico da azul e amarela tem ainda outro aspecto, esse mais preocupante: em vez de se preocupar com o estado de saúde dos desfilantes, diretores estavam imbuídos da tarefa de colocar a alegoria na pista de desfiles a fim de não prejudicar a pontuação da escola. A reação da plateia do setor 1 foi imediata e enfática: uma chuva de latas de cerveja.

Todos sabem da importância do Carnaval para a economia do Rio de Janeiro e, principalmente dos interesses envolvidos, seja da emissora de TV que detém a exclusividade de transmissão, seja dos patrocinadores, agências de turismo e outros prestadores de serviço. Mas, naquele momento, em que pessoas necessitavam de socorro médico, continuar o desfile era algo totalmente impensável. A disputa se tornou apenas um detalhe.

Faz-se necessária uma reflexão do que se tornou o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. O aspecto visual predomina sobre os quesitos que dependem do canto, dança e habilidade de tocar instrumentos. Isso já é fato há mais de 40 anos. O crescimento desordenado dos carros alegóricos é prova viva desse processo. Porém, nada justifica que o desfile não tenha sido interrompido até que as pessoas fossem atendidas de forma digna. Que o relógio parasse e depois o desfile fosse retomado. É inacreditável a disputa insana de espaço entre bombeiros, socorristas e desfilantes. Que a lição seja aprendida para os próximos Carnavais.

Mangueira e Portela são favoritas

Carnaval é uma competição e, na Quarta-feira de Cinzas, conforme previsto, teremos a apuração das notas. Já que o desfile terá que ter uma escola campeã, Mangueira e Portela deverão disputar décimo a décimo o título. A campeã de 2016 fez uma apresentação de plástica irretocável, em mais um grande trabalho de Leandro Vieira. E impulsionada por um bom samba-enredo, desfilou com a tradicional garra. Teve problemas sérios de evolução, com a formação de um buraco à frente ao supermódulo por conta da dificuldade de deslocamento de seu segundo carro alegórico. Já a Portela, em outro grande trabalho de Paulo Barros, fez um desfile bastante técnico, mas com impacto e momentos de emoção. O samba funcionou e a arquibancada gritou “É campeã”.

A Mocidade Independente de Padre Miguel fez o seu melhor Carnaval nos últimos 15 anos. Homenageando o Marrrocos, trouxe carros de bom gosto, um ótimo samba-enredo e uma comissão de frente que arrebatou a plateia, com um tapete voador guiado por um drone. Certamente estará no Desfile das Campeãs. Quem também impressionou a União da Ilha. Com o mais belo visual de sua história, fazia um desfile irrepreensível até ter tido problemas com seu quinto carro, que prejudicou sua evolução. Mesmo assim, a tricolor briga por uma vaga entre as campeãs.

A São Clemente fez um desfile marcado pelo requinte no visual, marca registrada da carnavalesca Rosa Magalhães e deverá obter uma boa colocação, a despeito dos problemas com a evolução e com o seu quinto carro. Já a Unidos da Tijuca, com toda a situação decorrente da quebra de seu segundo carro não deverá escapar do rebaixamento – uma ferida dolorosa para uma escola que conquistou três campeonatos nos últimos sete anos.