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Rio de Janeiro

Beija-Flor se destaca em noite marcada por acidente com alegoria do Tuiuti

Anderson Baltar

Colaboração para o UOL

27/02/2017 06h48

Em uma das mais conturbadas noites de desfile da história da Sapucaí, a Beija-Flor de Nilópolis sai da avenida como o grande destaque. Com um desfile marcado pela empolgação de seus componentes, a azul e branca deverá, mais uma vez, se credenciar à disputa do título do Carnaval carioca. Numa jornada marcada pelo acidente provocado pelo último carro do Paraíso do Tuiuti, que atropelou várias pessoas na área de armação, a maioria das escolas tiveram problemas com suas gigantescas alegorias e percalços no quesito evolução.

Até a entrada de seu último carro, o Tuiuti parecia ter grandes chances de permanência no Grupo Especial. A escola de São Cristóvão, que retorna ao Grupo Especial após 15 anos de ausência, apostou em um visual suntuoso e multicolorido para celebrar os 50 anos do Movimento Tropicalista. O carnavalesco Jack Vasconcelos apresentou um desfile de belas alegorias e fantasias. A narrativa do enredo começou com a deglutição do bispo Sardinha pelos indígenas, passou pelo Movimento Antropofágico e culminou nas principais obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil. O apresentador Chacrinha também foi lembrado, assim como o carnavalesco Fernando Pinto, que marcou época na Mocidade Independente de Padre Miguel nos anos 1980.
 
Assim que o último carro da escola despontou na esquina da Avenida Presidente Vargas e da Rua Marquês de Sapucaí, o desfile ganhou contornos dramáticos. Completamente desgovernada, a alegoria atingiu a grade do setor 1 e as salas da Associação das Escolas de Samba Mirins e da Liga das Escolas do Rio de Janeiro (Lierj - responsável pelo desfile da Série A). Na manobra desastrada, várias pessoas foram atropeladas – 20 foram hospitalizadas. O clima de desespero se instalou na Sapucaí. O carro entrou, mas ali o desfile do Tuiuti já estava bastante comprometido.
 
 
Após quase meia hora de espera, por conta das perícias comandadas pela Polícia Civil para apurar responsabilidades no acidente, a Acadêmicos do Grande Rio foi autorizada a iniciar seu desfile. A homenageada Ivete Sangalo surgiu logo na comissão de frente e participou da coreografia, demonstrando incrível sincronia com os bailarinos comandados por Priscilla Mota e Rodrigo Negri. A arquibancada foi ao delírio. No quarto carro da escola, a apresentadora Xuxa marcou presença. Contando a trajetória da cantora baiana da infância até o estrelato, a Grande Rio trouxe alegorias gigantescas. Mas, apesar disso, o desfile não causou a comoção esperada.
 
Ivete Sangalo ainda retornaria à avenida, desfilando no último carro. Para transportá-la de uma ponta a outra da avenida, uma verdadeira operação de guerra foi montada. Ela conseguiu chegar a tempo na última alegoria, porém, com certo atraso. Para cumprir o tempo máximo de desfile, a Grande Rio apertou o passo e os seus últimos setores desfilaram em desabalada carreira. Falhas que certamente serão penalizadas pelos jurados.
 
Homenageando a luta dos índios do Xingu, a Imperatriz Leopoldinense causou impacto com sua comissão de frente, onde uma oca se transformava na coroa, símbolo da escola, e vários integrantes eram içados a mais de dez metros de altura. O enredo, que causou polêmica com os empresários do agronegócio, foi bem desenvolvido. Porém, o samba-enredo, muito extenso, não empolgou. A escola desfilou sem causar qualquer espécie de comunicação com a plateia.
 
Vários líderes indígenas, como o cacique Raoni, marcaram presença no desfile da Imperatriz. Ao final da apresentação, uma falha: o último carro da escola demorou a entrar na pista e o portão da concentração chegou a ser fechado, dando como encerrada a entrada da escola na avenida. Subitamente o portão se abriu e o carro entrou. Como a ala anterior já estava na área de desfile, formou-se um clarão que certamente será penalizado. Para não estourar o tempo, a escola correu muito.
 
A Unidos de Vila Isabel entrou na avenida exaltando a influência dos negros para a música do continente americano. Com um enredo de fácil leitura, a azul e branca destacou ritmos como o reggae, o tango, o rock e o jazz. Um dos momentos de maior diversão foi na alegoria que mostrava vários ícones da música negra americana, como Jackson Five, Tina Turner, Ray Charles e Stevie Wonder. No final da escola, o carnaval campeão de 1988, “Kizomba, Festa da Raça”, foi relembrado. Martinho da Vila brilhou no último carro, sentado em um trono.
 
A escola desfilou empolgada, com os componentes cantando bastante o bom samba-enredo. O ponto negativo do desfile da Vila Isabel foi o visual, especialmente dos carros alegóricos. A escola, que tinha um dos barracões mais atrasados da Cidade do Samba, trouxe seus elementos cênicos com graves problemas de acabamento. Certamente, décimos preciosos serão descontados da escola do bairro de Noel Rosa. A evolução também foi prejudicada pela dificuldade em tirar o carro abre-alas da área de dispersão.
 
 
Trazendo uma versão carnavalizada da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, os Acadêmicos do Salgueiro entraram na avenida com uma evolução contínua e empolgada. O enredo trouxe a jornada do personagem Dante do inferno ao paraíso evocando as principais manifestações carnavalescas como os blocos de sujos, grandes sociedades e ranchos. No último carro, os carnavalescos Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta, que marcaram suas trajetórias no Salgueiro, foram homenageados como a Santíssima Trindade do Carnaval.
 
A despeito do capricho em alegorias e fantasias, o Salgueiro fez um desfile morno. Muitas roupas eram demasiadamente pesadas e dificultaram a evolução. As arquibancadas apenas assistiram a passagem da escola. Por mais que tenha quesitos fortes, como mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente e bateria, a escola da Tijuca não desfilou com pegada de campeã.
 

Por último na avenida, Beija-Flor inovou

Já com o dia amanhecendo, a Beija-Flor entrou na avenida. Apresentando como enredo o romance “Iracema”, de José de Alencar, a escola optou por uma forma diferenciada de apresentação. Ao invés das tradicionais alas, os componentes desfilaram, em quase todos os setores do desfile, divididos em atos, apresentando cenas da história de amor da índia com o português Martim. Antes e após as teatralizações, centenas de componentes vestindo fantasias semelhantes, com malhas no corpo, mas com cocares de cores diferentes.
 
A inovação dificultou o entendimento do enredo e fez o visual da escola ficar um tanto cansativo. Desta forma, a história só ficava mais clara graças aos belíssimos e muito bem acabados carros alegóricos. Como grande destaque do seu desfile, a escola de Nilópolis, como sempre, apresentou o canto forte de sua comunidade e o bom samba-enredo. Como possui quesitos fortes, como a bateria e o consagrado casal Claudinho e Selminha Sorriso, a Beija-Flor certamente marcará presença no pelotão superior da classificação.
 

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